No Carnaval 2026, a Estação Primeira de Mangueira reafirma sua vocação de ser mais que uma escola de samba: se consolida como um instrumento de reconstrução da memória brasileira. Pela segunda vez consecutiva, o carnavalesco Sidnei França aposta em um enredo autoral, agora voltando o olhar para o Norte do país, mais precisamente para o Amapá, com o tema “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”.

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A iniciativa vai além da escolha de um personagem pouco conhecido do grande público. É um gesto de ousadia e responsabilidade histórica. Sidnei França, que já demonstrou em sua estreia na Verde e Rosa um apuro na abordagem de figuras simbólicas da cultura negra carioca, agora mergulha nas águas encantadas da Amazônia para trazer à Sapucaí a trajetória de Raimundo dos Santos Souza, o mestre Sacaca: curandeiro, folclorista, conhecedor das ervas e guardião dos saberes afro-indígenas da região tucuju.

Com cinco “encantos”, a sinopse é uma verdadeira celebração da oralidade, da cura ancestral e da sabedoria popular. A Mangueira entra em sintonia com o Brasil profundo. Em tempos em que o carnaval busca se reinventar sem perder sua essência, a escolha por contar uma história enraizada nas tradições do Norte do país é uma forma corajosa de ampliar o território simbólico.

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A Verde e Rosa, mais uma vez, se propõe a iluminar figuras que ficaram à margem dos livros oficiais. Ao apostar em mestre Sacaca, a Mangueira faz o que sabe melhor: homenageia o Brasil que canta com a alma, fé e carrega na memória os saberes do povo. É a ancestralidade em movimento, atravessando os rios do Amapá até desembocar em plena Marquês de Sapucaí.

O enredo 2026 da Mangueira é um chamado à reflexão sobre identidade, territorialidade e pertencimento. E mais uma vez, como tem feito ao longo de sua história, a Estação Primeira mostra que o seu carnaval é também um manifesto político, social e cultural.