No último domingo, a Portela reafirmou uma de suas marcas mais simbólicas: a força de sua comunidade. Com 651 votos registrados entre os 801 sócios aptos a votar, a eleição da nova gestão mostrou que o destino da escola continua sendo decidido por quem vive, frequenta e ama a agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira. A vitória da chapa 2 – Portela Raiz, com 350 votos contra 301 da adversária “Supera Portela”, marcou o início de um novo ciclo. Júnior Escafura assume a presidência, ao lado de Nilce Fran como vice e de Vilma Nascimento, a eterna porta-bandeira, como presidente de honra. A retomada de nomes históricos sinaliza um reencontro entre passado, presente e futuro da Águia Altaneira — e o desejo de sua comunidade de recomeçar.
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“Desde pequeno, a gente já chamava ele de presidente”, lembra Muguinho, ritmista da Tabajara do Samba, que há 30 anos vive a escola por dentro. “Quando o carro de som dizia que o desfile estava autorizado, eu imaginava: ‘Luís Carlos Escafura Júnior, está autorizado o seu desfile’. Agora é real”, declarou. Para ele, o momento é de confiança absoluta: “Não vai faltar amor, não vai faltar dedicação, não vai faltar responsabilidade”, disse sobre sua expectativa para a nova gestão da escola.

Esse sentimento atravessa gerações. Macaulay Silva, de 27 anos, passista da Portela, vê na eleição uma chance real de mudança — não só administrativa, mas também emocional. “A Nilce é minha diretora. Ela pulsa Portela. A gente precisava de gente assim, que veste a camisa. Agora é cabeça no lugar, planejamento e voltar a sorrir como a gente deveria”, afirmou.

E é justamente esse sorriso coletivo que parece ser o desejo mais recorrente entre os portelenses. “A gente sorri sempre, mas agora é hora de sorrir de verdade”, reforçou Macaulay.
Luciana Divina, de 52 anos, baiana da Portela há cinco anos, enxerga o momento como reflexo de uma construção coletiva: “Foi a eleição da democracia. Os portelenses falaram com clareza. Queriam renovação. E não foi uma renovação de nome: foi uma renovação com base, com chão, com gente da Jaqueira. Quem é da Jaqueira não estava satisfeito. E agora está”, declarou.

Entretanto, as urnas não encerram o trabalho — ao contrário, inauguram uma urgência. Para Muguinho, a primeira tarefa da nova gestão é clara: definir o enredo e o carnavalesco. “Já tinha que estar na agulha. Está em cima. Tem que pensar no samba, nas composições… Não dá pra correr atrás depois”, afirmou o ritmista.
Macaulay concorda, mas enxerga algo mais profundo: a reestruturação financeira. “Isso pesa. Afeta o desfile, afeta o planejamento, afeta o barracão. Sem dinheiro, não tem Carnaval — e, sem Carnaval, a Portela não é ela mesma”, disse. Ele mesmo tem um desejo para o enredo: “Uma pegada africana. Afro. É a cara da Portela. Vai dar certo”, afirmou o passista.
Flavinho Dance, de 18 anos, criado no projeto Samba para Sempre, fala com entusiasmo sobre o futuro. “Seja qual for o enredo, o que importa é a comunidade cantar. A Portela tem que voltar pro lugar dela”, disse.

Mesmo com o entusiasmo, há quem aponte o que não pode ser esquecido. Flavinho, por exemplo, destaca a necessidade de modernizar a comunicação da escola. “Precisa de marketing, de redes sociais mais fortes. Hoje tudo é rede. E podia reformar a quadra também — não só pra gente, mas pra quem vem de fora ver a Portela”, apontou.
Luciana ampliou a reflexão: “A gente não pode mais se contentar com pouco. A Portela não é escola de meio de tabela. E mais do que resultado, a gente precisa de espetáculo. Carnaval é arte. E arte tem que emocionar, tem que ensinar. A Portela é cultura viva”, declarou a baiana.
Mesmo com o desejo de mudança, há muito que se quer manter. “A garra da comunidade. É isso que tem que continuar: amor, dedicação”, disse Muguinho. Walcir Costa, de 70 anos, torcedor há 20, reforça os nomes da escola que, a seu ver, devem ser mantidos: “Tem que manter o casal. A Squel e o Marlon são maravilhosos. E a bateria… Até agora, não tenho o que falar — apenas que continuem”, afirmou.

No fim do dia, depois da apuração e dos abraços, ficava no ar a sensação de recomeço. Não uma ruptura, mas uma retomada do que a Portela tem de mais profundo: a voz da sua comunidade. Como sintetiza Macaulay: “A diretoria pode mudar, mas o espírito da Portela a gente carrega. Eu sou de Nilópolis, mas aprendi a ser Portela. A Portela é felicidade — e agora é hora da gente ser feliz de verdade”, finalizou.