Por Lucas Santos
Já conhecidos do grande público por suas vozes inconfundíveis na Marquês de Sapucaí e no Anhembi, Bruno Ribas (São Clemente e Tom Maior), Evandro Mallandro (Grande Rio), Leonardo Bessa (Tucuruvi), Tinga (Vila Isabel e Águia de Ouro) e Wantuir (Unidos da Tijuca) mostraram um outro lado do talento ao interpretarem clássicos da música popular brasileira. Durante pouco mais de uma hora e meia, na noite desta quarta-feira, na Sala Municipal Baden Powell, em Copacabana, o grupo apresentou sambas, partido alto, pagodes “fundo de quintal”, e, claro, o que não poderia faltar, sambas-enredo. O quinteto, que vinha utilizando o nome Setor 1, revelou para a reportagem do CARNAVALESCO a decisão de mudar o nome para “Vozes da Avenida”, título dado ao show. O grupo entende que o nome tem uma relação mais direta com o trabalho que pretende realizar.
Parado há mais de um ano, o ainda Setor 1 viu, através de um convite da organização do projeto “Vem pro Carnaval na Casa da Bossa”, a oportunidade para dar continuidade ao trabalho. Para isso, nos últimos meses, os cantores mergulharam fundo em ensaios conciliando com as inúmeras obrigações que possuem nas escolas de samba. O mais experiente do grupo, Wantuir, falou da importância de se valorizar o trabalho da classe dos intérpretes no país.
“Vocês não imaginam a nossa satisfação. Nós somos uma classe que não é tão grande, mas é muito representativa da cultura no Brasil. Falando de carnaval, a gente já sabe: o poder público não ajuda mesmo. Passou o carnaval e nós temos que continuar trabalhando. E mostrar a qualidade do sambista que é o ano inteiro”, desabafa o cantor.
O show começou com cada intérprete proferindo seu grito de guerra. Do “Entra em cena…”, de Bruno Ribas, passando pelo “Solta o bicho” do Tinga, e também pelos “tá bom a Bessa” e o “que beleza, que beleza…” de Evandro Mallandro até chegar ao “Que show, que show” de Wantuir que deu a senha para os primeiros acordes de “A voz do morro”, de Zé Kéti, música escolhida para abrir a noite. Depois, a primeira hora foi recheada de clássicos da música popular brasileira divididos por cada cantor contando sempre com os arranjos de voz dos outros integrantes. Entre os sucessos apresentados destacaram-se “O mundo é um moinho” de Cartola, “Lama das ruas” de Zeca Pagodinho, “Você abusou” de Toquinho, “Trem das onze” de Adoniran Barbosa, “Não deixa o samba morrer” de Alcione e as emocionantes homenagens para Dona Ivone Lara com a música “Acreditar” e a Neguinho da Beija-Flor com “Negra Ângela”, nestes momentos rendendo algumas palavras carinhosas de Bruno Ribas. Tinga explicou como se deu a escolha do repertório.
“Cada um escolheu a música que se sente mais a vontade de cantar. Eu, por exemplo, gosto muito de cantar a “Lama das ruas”. A gente foi criando, foi se juntando e a ideia é realizar um “pot-pourri” de partidos altos, de sambas-enredo que a gente normalmente canta. Ficou muito fácil pra gente, pois cada um cantou aquilo que gosta”, confessa o intérprete da Vila Isabel.
Todos os integrantes do grupo mostraram não só o já conhecido talento com a voz, mas também a aptidão para os instrumentos. Com Mallandro no banjo, Bessa no cavaco, Wantuir no pandeiro, e Bruno Ribas no tantã. A primeira parte do show foi com os cinco sentados em uma grande roda de samba. Leonardo Bessa falou sobre a relação com o instrumento e o domínio do cavaquinho apesar do grande número de compromissos com o carnaval.
“A verdade é que a gente não para. No começo da carreira eu já tocava cavaquinho, andava junto com o canto. O mais importante deste encontro é a gente ter a oportunidade de tocar e cantar o que a gente gosta sem a responsabilidade do samba que defende nas nossas escolas. E estar no palco e mostrar para o público outro lado do cantor para o povo ver que o intérprete de samba-enredo não faz só aquilo. Mostrar para o público que a gente vai muito além da Avenida”, explica Bessa.
Para o final do show ficaram guardados os clássicos de carnaval que animaram e emocionaram o público. Entre eles, estavam “Peguei um Ita no Norte”, “É hoje”, “O Ti ti ti do Sapoti” e “Aquarela Brasileira” que encerrou o espetáculo. Do grupo iniciado em 2012, algumas mudanças foram realizadas. Nesta volta, a principal diferença foi a presença de Evandro Mallandro que fez sua estreia no agora quinteto. Para o futuro o grupo está analisando alguns convites recebidos para definir a data dos próximos compromissos. Bruno Ribas espera que o grupo possa romper a barreira dos artistas para além do carnaval.
“Esse grupo aqui vai longe demais. Essa galera aqui a gente já convive muito tempo junto. A gente executa música junto. E poder caminhar junto para focar em um objetivo, a gente olhar um horizonte e buscar aquilo ali, ter o sonho realizado, é melhor que um achado. Acontecendo tudo muito bem, nós podemos furar um bloqueio (imposto aos intérpretes de carnaval, formando grupos para tocar música fora do universo dos sambas-enredo) que está aí uns 40 anos”, acredita o cantor da São Clemente.
A produção musical do espetáculo foi organizada e dirigida por Vicente Felisberto e Odilon Sete Cordas, e conta com o apoio musical em outros instrumentos como violão, flauta, cavaquinho e surdo de amigos convidados pelos intérpretes.