Candidato para reeleição presidencial da Portela, que acontecerá em maio, em data ainda não definida, Fábio Pavão conversou com o CARNAVALESCO. Atual presidente da escola, ele terá na sua chapa, o ex-presidente, Luis Carlos Magalhães, como vice. Todos os candidatos vão ser entrevistados, se quiserem, pelo site. Confira abaixo o papo com Pavão.
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Por que ser novamente candidato para presidente?
“Porque um grupo significativo de sócios entende que a continuidade da nossa gestão é o melhor para a escola. Primeiro, porque nenhum de nossos adversários tem real compromisso com uma gestão democrática. Segundo, porque entendem que, ao longo dos doze anos de gestão Portela Verdade, nós avançamos em termos de resultado e colocações, tendo alcançado o campeonato em 2017. Nós entendemos que é deste ponto que precisamos avançar e corrigir os quesitos que temos apresentado problemas, e não jogar tudo fora e começar do zero. Um terceiro aspecto é que temos uma gestão financeira pautada pela austeridade e pela responsabilidade, pensando no presente e no futuro da agremiação. Votar na Portela Verdade é seguir mudando com segurança, sem perder aquilo que nós já alcançamos, mas avançando com um trabalho sério, não com promessas vazias”.
Por que o Luis Carlos Magalhães como vice?
“Antes de qualquer coisa, pela pessoa do Luis Carlos Magalhães. Uma figura reconhecidamente honesta, íntegra e comprometida com a Democracia. Isso é muito importante para a nossa escola nesse momento. A formação desta chapa foi um pedido da maioria das pessoas que estão desde o início com o grupo Portela Verdade. Eu, como candidato a presidente, acolhi o pedido e conversei com o Luis Carlos Magalhães, que para a nossa felicidade aceitou. Eu e o Luis Carlos temos muita coisa em comum, como a paixão pela cultura e um perfil conciliador. Aliás, esse perfil do Luis Carlos foi a grande marca dos seis anos de sua gestão, superando crises como a própria morte do Falcon. Tê-lo ao meu lado, neste momento, com esta capacidade conciliadora, é fundamental para que possamos superar os muitos desafios que vamos encontrar pela frente”.
Caso reeleito a Tia Surica segue como presidente de honra?
“Esta é uma excelente pergunta. Alguém precisa ter juízo e bom senso sobre este assunto. O posto de Presidente de honra é puramente simbólico. Não existe nada sobre isso no estatuto, muito menos deve ser parte do processo eleitoral, como estão fazendo. O Presidente de honra é da instituição, não de uma gestão em particular. Promover presidentes de honra junto com chapas eleitorais cabe em situações específicas, como em 2013 e 2022, mas não agora. Veja, não é difícil entender. Em qualquer instituição o presidente de honra ocupa o posto até sua morte, ou mesmo depois dela, como a Imperatriz e a Viradouro fazem, “in Memorian”, com Luizinho e Monassa respectivamente. Até 2013 a Portela mantinha o Natal como presidente de honra, ocupando o posto “in Memorian”, assim como estas escolas que eu citei. Em 2013, a Chapa Portela Verdade vinculou o nome do Monarco como presidente de honra, iniciando, então, um sistema parecido com o da Mangueira, em que o Presidente de honra permanece até a sua morte, sendo depois substituído por outro baluarte. Na eleição de 2022, novamente cabia esta questão, pois o Monarco havia acabado de falecer. Nossa Chapa vinculou o nome da Surica, enquanto a concorrente anunciou o nome do Noca. Agora, em 2025, a Surica está viva, de forma que este debate não faz o menor sentido. Primeiro, para ganhar voto, um grupo anunciou a Tia Surica como Presidente de honra da Chapa, como se ela já não representasse a instituição. A outra indicou a Vilma Nascimento, excelente pessoa, grande sambista e possivelmente a maior portelense viva. Todos os elogios seriam poucos para definir a Vilma e descrever sua trajetória para a Portela e para o carnaval, mas o mérito dela não está em questão. O problema é que este debate sequer deveria estar sendo estabelecido. É uma distorção do que é o posto de Presidente de honra. Isso mostra que meus adversários não têm a noção do que é a instituição Portela. A Surica tem todo o direito de se posicionar politicamente, mesmo representando a instituição. Nós não vamos mexer naquilo que não deve ser mexido”.
Após o primeiro mandato o que você ainda deseja fazer na Portela no segundo mandato?
“Conquistar o título, claro. Este é sempre o principal objetivo. Fazer carnavais competitivos e, claro, corrigir os problemas que aconteceram nos últimos anos, é a nossa prioridade absoluta. Porém, isso só acontece associado às questões administrativas que nós vamos seguir priorizando. Por exemplo, quando a gente fala das práticas da boa governança muitos não entendem, mas o pioneirismo da Portela na questão ambiental, além de ser uma óbvia necessidade da sociedade, reposiciona a escola no mercado, aumentando as possibilidades de captação de recursos. Da mesma forma, cumprir as regras de compliance e criar um Departamento de Integridade, que é nosso objetivo agora, ajuda a mostrar a seriedade da gestão e atrair novos investidores. Portanto, não existe formula mágica para se construir uma escola vencedora, isso é resultado de um trabalho. Um trabalho que nós já começamos. Este trabalho passa pela ampliação das fontes de receita da escola. E aqui eu falo de dados concretos, não de discursos vazios. É o que a Portela Verdade já faz nos últimos doze anos, com responsabilidade fiscal. Nos últimos dois anos nós conseguimos ampliar o orçamento total da Portela, que, incluindo gastos administrativos e de carnaval, neste ano foi de 16 milhões. Em grande parte, isso é mérito da Liesa, que ampliou os recursos para todas as escolas. Não sou desonesto em não reconhecer isso, mas deste total também consta o aumento constante das receitas de quadra e de captação de recursos/patrocínios. É em cima do que já conquistamos de receita própria que vamos seguir trabalhando para ampliar ainda mais nos próximos anos. Da mesma forma, temos que seguir com a política de responsabilidade fiscal, reduzindo as dívidas da escola. Isso vem sendo feito desde 2013, com exceção, por motivos óbvios, do período da pandemia, onde a dívida voltou a crescer, mas retornando ao viés de queda em seguida. Pagamos só este ano cerca de 2,6 milhões em acordos judiciais e extrajudiciais, a maioria de pendências anteriores a 2013. Em relação ao IPTU, por exemplo, em 2018 estávamos inadimplentes desde 1979, com uma dívida de 1,9 milhões. Pagando e negociando, já reduzimos este valor para cerca de 700 mil. A dívida total da Portela, hoje, está na casa dos 6,2 milhões, considerando todos os acordos e processos já transitado e julgado. Nós não temos qualquer dívida trabalhista, ao contrário do que muitos falam sem conhecimento. Reparem, se temos 16 milhões de orçamento e 6,2 milhões de dívidas, temos, como consequência, uma condição financeira estável, pois a qualquer momento poderíamos quitar este valor. O problema é que, se fizéssemos isso, abriríamos mão de fazer carnavais competitivos. Aliar estes dois aspectos é o que colocamos em prática na gestão Portela Verdade. Mais uma vez, no discurso cabe qualquer coisa, até vender um mundo mágico, mas administrar uma escola como a Portela exige responsabilidade”.
Essa eleição com três chapas dividiu a escola. Como buscar a união após o resultado do pleito?
“A pergunta é muito boa, mas precisa de uma explicação mais aprofundada sobre o contexto desta eleição. A rede de sociabilidade em uma escola de samba é dinâmica. A cada eleição existe uma reorganização política, como em qualquer grupo social. Ao longo dos últimos anos, tendo como referência uma escola inclusiva, promovemos o retorno de muita gente que estava na Portela antes da eleição de 2013, que foi um processo traumático e deixa sequelas até hoje. Pessoas boas, portelenses, que poderiam e estão colaborando com o dia a dia da escola, no conselho, diretoria ou simplesmente sendo feliz participando dos eventos, sem discriminação. A questão é que esta abertura incomodou a um grupo de pessoas, que agora encontraram a oportunidade de conseguir poder. A “Chapa Supera” Portela é uma Chapa fascista. Digo isso sem fazer qualquer analogia com a política nacional, e sem sequer saber em quem eles como pessoas físicas votaram ou deixaram de votar, isso não importa. Estou dizendo que a Chapa “Supera Portela” é conceitualmente fascista. Veja, o discurso deles remete a um passado romantizado, idealizado, que foram os anos do Falcon. Eles falam a todo instante que vão retornar aos tempos do Falcon. Eles sequer possuem legitimidade para falar isso, pois fui eu e as pessoas que estão comigo que viramos noites sem dormir, suamos no barracão, ralávamos nos ensaios de segmentos, que acompanhamos o comboio dos carros até a avenida…Eles querem se apropriar de um discurso sobre carnavais dos quais eram meros expectadores. Pois bem, o que desvirtuou a Portela deste passado romantizado, segundo eles? A entrada de pessoas “ligadas ao Nilo” ao longo dos anos. Eles não querem saber quem são essas pessoas. Eles generalizam e estereotipam para agredir, ofender. Agora, eles se unem com o discurso de “pureza”, de retornar aos “valores primevos da Portela Verdade”. Dizem que vão extirpar, expulsar, eliminar, excluir todo mundo que seja parente ou amigo de quem eles não gostam, pessoas que estavam na escola antes de 2013. Quem tem o mínimo de bom senso sabe onde isso termina. É impossível unir a escola sobre estes fundamentos, pois o que eles pregam é exatamente a cisão. Por outro lado, tem muita gente que comandava a escola antes de 2013 que não pode mesmo voltar. Gente que lesou a Portela, deixando danos que até hoje nos trazem problemas, como a não prestação de contas da verba pública investida no carnaval de 2006. Algumas destas pessoas foram expulsas pelo próprio Nilo Figueiredo, e agora elas estão ligando para sócios e pedindo voto para a Chapa do Junior Escafura. Essas pessoas querem vingança, estão com “sangue nos olhos”, como se diz. Como eu disse na outra pergunta, eu e o Luis Carlos Magalhães temos um perfil conciliador. Queremos uma escola inclusiva e democrática, enquanto nossos adversários querem o confronto e a vingança. Nossa chapa é a que reúne melhores condições para unir a escola depois desse processo eleitoral, pois nosso discurso é o oposto do que eles pregam”.
O que promete aos portelenses caso seja reeleito?
“Primeiro, internamente, e isso é importante, manter a Portela como uma escola democrática, em que os sócios tenham liberdade de expressão e opinião. Veja, é muito fácil controlar o quadro social da Portela para se perpetuar no poder. Todos os novos sócios precisam ser aprovados pelo presidente, que, se ele quiser, seleciona apenas os amigos para integrar o quadro social. Ao contrário de uma escola fechada e restrita, este ano vamos ter a maior eleição da história da Portela, o que só é possível porque, nos últimos anos, rigorosamente todos os sócios que se inscreveram para o quadro social foram aceitos. Para o portelense de uma forma geral, nós vamos avançar do patamar em que estamos hoje. Nós não estamos satisfeitos com o quinto lugar, mas é inegável os méritos da gestão Portela Verdade. Nosso desempenho nos últimos 11 carnavais, ou 8, se preferirem, é melhor que os dos 25 anos anteriores a nossa gestão. Apenas duas vezes nós não retornamos nas campeãs, no que é o melhor desempenho entre todas as agremiações, ao lado do Salgueiro. É deste ponto que nós precisamos avançar para conquistar o campeonato. Quais os nossos quesitos críticos? Alegoria e comissão de frente. Temos que focar nisso para realmente brigar pelo campeonato, pois nos outros quesitos temos um desempenho muito bom. Muita gente descreve a situação da Portela como um “cenário de Terra arrasada”, o que não é verdade, mesmo que algumas pessoas tenham ficado frustradas com o desfile. Este tipo de discurso é perigoso. Aliás, o discurso fácil é perigoso. Todos concordamos que a Portela precisa disputar o campeonato, mas não existe solução mágica. Eu não posso aqui vender sonhos. Não posso fazer promessas vazias. O que eu prego é a continuação de um trabalho que apresenta resultados, mesmo que, especialmente nestes dois quesitos, precisamos concentrar esforços e melhorar. Um dos meus adversários, o advogado, diz que o desfile deste ano foi horrível e que era “nível de grupo de acesso”, mas se indignar agora como discurso eleitoreiro é fácil. Ele foi o primeiro que subiu no palanque da Liesa e erguer feliz o troféu de quinto lugar, mas, naquele momento, embora já tivesse pretensão políticas, não sabia como se posicionar, ou contra ou a favor da atual diretoria. Fazer discurso de conveniência é fácil, e isso eu não posso fazer. Meu outro adversário, o vice-presidente, parece que esteve “Cego, surdo e mudo” sobre o que acontecia nos três últimos anos, como se não tivesse participado de tudo, inclusive da tomada de decisões. O que eu ofereço é um discurso sincero e verdadeiro. Eu já fui campeão. Em 2017 eu era um dos diretores de carnaval. O caminho é avançar num trabalho que já está sendo feito, que já coloca a Portela brigando lá em cima. É a partir daqui que, corrigindo as falhas, vamos dar o salto necessário para conquistar o campeonato. O portelense merece”.