InícioSérie OuroSinopse do enredo da União da Ilha para o Carnaval 2026

Sinopse do enredo da União da Ilha para o Carnaval 2026

SINOPSE

Gazeta de Notícias – Notícia dos Astros – Missão RIO-HALLEY, 10. Esta sinopse funciona como um diário de bordo astronômico, registrando a passagem do Cometa de Halley pelo Rio de Janeiro no início do século XX. Uma jornada que nos transporta para uma cidade Halley-lunática. Preparados para mais uma aventura, a fim de levantar a poeira deste grão de universo chamado planeta Terra?

logo ilha2026

“Seria a Terra o hospício do universo?”

(Albert Einstein)

[Missão I – A Chegada do Cometa]

Imagine o Rio fora de órbita? A chegada de um cometa flamejante poderia apagar de vez os maus presságios que assolavam o mundo pré-modernista. A imprensa, de forma alarmista, alimentou o medo de previsões que durante séculos dizimaram reinados, arruinaram a crença popular e tiraram o sono de astrônomos. No fundo, o que acontecia era uma verdadeira batalha entre o imaginário popular e a racionalidade científica — enquanto cientistas tentavam desmentir tal falácia, a população preferia acreditar que o Halley, com sua trajetória ameaçadora, seria o prenúncio de um novo começo para a humanidade.

Até que jornais estrangeiros, como o The New York Times, espalharam teorias distorcidas sobre o perigo de gases venenosos vindos da cauda do tal astro, capazes de asfixiar a atmosfera, provocando uma onda de histeria. Halley-mania: virou pop-star! Recorde de vendas. Estampou produtos planetários. Enriqueceu charlatões com a venda de “cápsulas de ar puro” em frascos de vidro. Extraiu sombrinhas e lunetas das vitrines das principais tabacarias de uma nova Cosmópolis — desviando o olhar humano sobre um infinito ao qual ainda pouco conhecemos.

[Missão II – O Rastro Halley-lunático]

E o que dizer de João do Rio? Filho de astrônomo, o cronista usou o evento como ponto de partida para desenhar a sociedade carioca com seu jeito irônico. A Belle Époque é a promessa de uma capital moderna, que convive com os resquícios de um passado colonial. As reformas urbanas afastam os pobres para os morros, enquanto a elite se perde no sonho europeu. O Halley surge como símbolo de uma cidade que se reinventa, mas que se perde nos seus próprios valores. O Morro do Castelo lança aos ares balões repletos de jornalistas fugitivos. Bons-feitores embarcam nas águas da Guanabara em submarinos que transportariam o oxigênio restante do nosso Atlântico perdido. A cidade se fez observatório para o astro vagabundear na cara da sociedade.

Deus lhes guie! Cariocas no domínio da alucinação não perderam a crença no Bom Deus. Igrejinhas e capelas se preencheram com a peregrinação de devotos aos pés de suas santidades. Profetas do firmamento confidenciam uma chuva de estrelas cintilantes, hospício para o aparecimento de uma infinidade de versejadores. Macumba boa é curimba feita! Uma famosa sacerdotisa da Ouvidor, de nome Perereca, contesta a lenda apocalíptica, premunindo um espetáculo jamais visto no firmamento. Aqui, o povo não apenas assistiu, mas viveu o desespero coletivo, sempre pronto a transformar o medo em esperança e a catástrofe em piada. E o juízo, afinal? Perdeu-se!

A cidade maravilhosa se torna a feira das tentações. O carioca “toma de salto” as esquinas e goza liberalmente do amanhã. Apinhou bondes, enamorados pelo olhar vadio das Mariposas-de-Luxo — deusas de chiffon perfumadas por Corbeilles. Se pôs de pernas pro ar, com as deliberadas paixões proibidas do Cabaret Nacional. E teve outra gente que se fez emergente ao acertar no milhar. Um maxixe de outro mundo faz sua estreia no Cine-Ouvidor, eternizando o samba, que pela primeira vez é mencionado como gênero musical brasileiro. Ritmo entoado por um outro cometa, partideiro de primeira linhagem de nome Cometa Gira. Amigo de Eduardo das Neves, João Alabá e de grandes sambistas da Praça Onze que quebram um tabu realizando uma Festa da Penha fora de época. Batucada boa, cerveja gelada e baianada unida. Quem é que não gosta?

[Missão III – Alô! Alô, Halley-Folia!]

1910: Alô! Alô, Halley-Folia! Desembarca no Brasil a alegria de uma Pequena Notável, que mais tarde seria eternizada em nosso Cinema Nacional. Mesmo ano em que o carnaval carioca invade as telas em um sucesso estrondoso no filme “Pela vitória dos Clubes e Cordões”. O único cometa de fato que nos tocou com alegria peculiar virou alegoria. Selou o Beijo de Halley na rivalidade entre as mais importantes grandes sociedades carnavalescas: os Fenianos, os Democráticos e os Tenentes do Diabo.

O carnaval só é interessante porque nos dá essa sensação de angustioso imprevisto. Toda sua gente tem sua história de carnaval deliciosa ou macabra, álgida ou de luxúrias atrozes. Um carnaval sem aventura não é carnaval.

A Avenida Central se tornou cenário para o folião transformar todo desencanto em uma meteórica batalha de confetes-estrelares. Pandemônio terrestre das figuras grotescas dos Cordões. O Ameno Resedá abre o desfile dos Ranchos, com o enredo: A Corte Celestial. Baianas fazem a linha de frente no girar da gravidade. Alas galácticas bailam como cometas da Via Láctea. Zé-Maria que toca rompendo a barreira do som no gurufim do cometa. Corpos celestes que decolam ao infinito em uma Apoteose Halley-lunática.

E Deus lhe deu um bom fim?

[Missão IV – O Amanhã? Fica pra depois.]

O fim prenunciado por Halley não veio, e as histórias seguem o ciclo eterno de um “amanhã vai ser melhor.” Astrônomos, cientistas, jornalistas, profetas, feiticeiras, mentirosos, sonhadores, sambistas… Ninguém soube prever que a grande preocupação, ao longo do século passado, seria com a saúde ambiental do planeta Terra. A poluição das grandes metrópoles ofuscou a última aparição do cometa em 1986. A ciência, por vezes, desfez mitos, mas olhares curiosos continuam a investigar o Cosmos em busca de novos fenômenos. Enquanto o nosso fim não chega, ao depender da União da Ilha do Governador, o futuro será sempre adiado. Deus vos acompanhe! E que o Universo conspire a nosso favor.

Viva o Hoje!

-2027: Alô! Alô, minha Ilha! Se liga! Espero te ver ao sol, em sua eterna missão especial! Até lá!

-2061: Alô, Halley! Nos encontramos numa próxima jornada. Porra! Que viagem…

O Amanhã? Fica pra depois.

(Enredo) Marcus Ferreira.

(Sinopse/Pesquisa) Henrique Pessoa e Marcus Ferreira.

(Revisão Textual) Henrique Pessoa.

 ¹Nota. Frase de João do Rio em O bebê de Tartalatana Rosa.

 *Halley-Glossário para os Versejadores Insulanos (aqueles que compõem versos):

Ameno Resedá – Rancho Carnavalesco que homenageou o Cometa Halley em seu desfile de 1911;

Astro-vagabundo – Apelido astronômico do Cometa; O andarilho do Universo; O errante;

Beijo de Halley – Famoso carro-alegórico do Clube dos Fenianos para o carnaval de 1911;

Charlatões – Indivíduo de caráter duvidoso, que vende em praças públicas receitas milagrosas;

Chiffon – Tecido importado de caimento fluido;

Cometa Gira – Partideiro; Poeta dos sambistas da primeira linhagem da Praça Onze;

Corbeilles – Arranjos de Avencas do Rio Antigo;

Cosmópolis – Cidade Universo;Diversidade étnica/cultural congregada em uma cidade;

Eduardo das Neves – O maior compositor de Choro do início do século XX; Primeiro músico negro a gravar músicas no Brasil;

Gases venosos – Cianogênio, gás presente na composição química da cauda do cometa;

Gurufim– Despedida com música;

Halley – O astrônomo inglêsEdmond Halley determinou a periodicidade (76 anos) do cometa que volta de tempos a órbita terrestre;

Halley-folia – O cometa como tema do Carnaval Carioca de 1911/1912;

Halley-lunático – O surto social causado pelo cometa em sua passagem no início do século XX; Alegria; Pândega;

Halley-mania – A indústria de produtos com a temática do cometa e o consumismo global;

João Alabá – Rancheiro; Importante babalorixá do Rio Antigo;

Mariposas-de-Luxo – Cocotes ou mulheres mundanas; Luxúrias do Rio Antigo;

Perereca – Profética anciã; Andarilha dos logradouros das regiões centrais do Rio;

RIO-HALLEY, 10– Missão científica/astronômica de estudos, acerca do Cometa de Halley em que a Terra, passa por sua cauda na madrugada do 19 de maio de 1910.

Zé-Maria – Figura masculina do Rio Antigo, que prenunciava o fim da vida de algo;

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. O rastro do Cometa – O Halley na imprensa carioca de 1910. EDITORA JB.

MOURÃO, Ronaldo Rogério de Freitas. O Cometa vem aí! EDITORA JB.

AZEVEDO, Rubens de. O Cometa de Halley. EDITORA do Brasil S/A.

PEREIRA, Cláudio Bastos. SOUZA, Edith Gouvêa de. Cometa HALLEY – A volta do mensageiro. EDITORA irradiação cultural.

ASIMOV, Isaac. Guia para entender o Cometa de Halley. EDITORA Brasiliense.

TUPY, Dulce. Carnavais de Guerra – O Nacionalismo no samba. ASB Arte Gráfica e Editora LTDA.

MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro. TODAVIA Editora.

RIO, João do. As Religiões no Rio. (1904) Editora José Olympio.

RIO, João do. A alma encantadora das Ruas do Rio. (1908) Companhia de Bolso.

EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. (2ª Edição) Ed. Conquista.

 

- ads-

Fábio Ricardo celebra título do Rosas e se declara para São Paulo: ‘aqui vivo arte’

Há mais de uma década, o nome de um carnavalesco em específico está em evidência nas grandes escolas de samba. Mesmo com desfiles consagrados...

Sob novo comando de mestre Vitinho, bateria ‘Cadência de Niterói’ inicia ensaios nesta quarta

Dando o pontapé inicial nos preparativos para o carnaval de 2026, a bateria "Cadência de Niterói" realizará nesta quarta-feira uma reunião do segmento e...

Antônio Gonzaga sobre a Grande Rio 2026: ‘Enredo cultural e potente’

Antônio Gonzaga, novo carnavalesco da Grande Rio, conversou com o CARNAVALESCO, na noite do sorteio dos desfiles, sobre o seu retorno à Tricolor de...