Na noite da última quarta-feira, a quadra da Acadêmicos do Tatuapé foi novamente palco de uma de suas mais tradicionais e simbólicas celebrações: a Feijoada de São Jorge. O evento, que oferece gratuitamente o prato típico à comunidade, é sempre sinônimo de sucesso e, neste ano, foi ainda mais especial. Como já virou tradição, a azul e branca da Zona Leste aproveitou a ocasião para divulgar seu enredo oficial para o Carnaval 2026. Após uma apresentação emocionante da ala musical, liderada por Celsinho Mody, e sambas históricos que embalaram a quadra, todas as atenções se voltaram para o telão. Em um vídeo de pouco mais de quatro minutos, a escola revelou o tema: “Plantar para colher e alimentar. Tem muita terra sem gente, tem muita gente sem terra”.
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O enredo, assinado pelo carnavalesco Wagner Santos — que chega ao seu oitavo desfile consecutivo na Tatuapé —, abordará questões sociais ligadas à reforma agrária e contará com a participação direta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Wagner explicou ao CARNAVALESCO que o enredo tem como foco o homem do campo, suas lutas, tradições e o contraste entre abundância e escassez no acesso à terra.
“É um grande enredo que, com certeza, vai gerar diversas opiniões, porque tem uma proposta de luta das pessoas. Vamos passar por diversas batalhas em busca de terra, vamos falar dos indígenas, dos quilombolas, da cultura colonial, e do agricultor que não polui a terra. A sinopse será rica em conteúdo, cores e a alegria do carnaval”, afirmou o artista.

Para o carnavalesco, a ousadia é uma marca da escola: “Tatuapé é uma escola que gosta de fazer enredos ousados. A gente vai estar sempre fazendo temas desafiantes, porque é interessante para o carnaval realizar narrativas que desafiam os carnavalescos”.
Um dos presidentes da agremiação, Erivelton Coelho, revelou que o tema foi escolhido entre três possibilidades. “Na semana passada batemos o martelo, porque conseguimos desenvolver um grande enredo com possibilidade de parceria futura. O tema tem muito a ver com a nossa história e com o povo sofrido da nossa comunidade. Vamos falar de terra, dividir, plantar, colher e alimentar. Assim que tivermos samba e a escola projetada, vai ser uma grande surpresa”.

Ele também falou sobre a inevitabilidade das críticas: “Não tem como fugir da crítica. A gente, indiretamente, pede a partilha, direitos iguais para todos para poder plantar, sobreviver e comer. Embarcamos seguindo a doutrina do MST e tem tudo para emocionar”.
Sobre a possibilidade de o engajamento social se tornar uma nova identidade da escola, Erivelton foi direto: “A cada ano nós abraçamos uma nova possibilidade. Por pouco não foi CEP novamente. Estávamos negociando com uma cidade e, de última hora, optamos por esse enredo devido a garantias que podem fazer a diferença”.
Parceria com o MST e o ‘carnaval da vida’
O presidente Eduardo Santos, dirigente com mais tempo à frente da escola, revelou que o movimento MST procurou a Tatuapé com a proposta de transformar sua história de 40 anos em desfile.

“Foi uma negociação rápida. Eles nos procuraram com uma força muito grande. Vimos que tinha muita coisa que daria para transformar em uma história bacana”.
Eduardo destacou frases do cotidiano do campo que nortearão a narrativa do enredo: “Essa coisa do plantar para colher, da agricultura camponesa, do homem que realmente planta e colhe para que as pessoas se alimentem, é muito legal. Uma frase que eles nos ensinaram foi: ‘se o campo não planta, a cidade não janta’. E isso nos inspirou”.
Segundo ele, o Carnaval 2026 tem potencial para marcar a trajetória da escola: “A gente partiu disso e juntou com essa questão da terra. Acho que, com isso, vamos desenvolver um grande desfile, assim como foi em 2025”.
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