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‘Memórias da injustiça’: Público presente no sorteio do Especial condena rebaixamento da Unidos de Padre Miguel

O CARNAVALESCO esteve, na última sexta-feira, na Cidade do Samba para ouvir o público presente no sorteio da ordem dos desfiles do Grupo Especial Carioca para o Carnaval 2026. O tema da vez: o polêmico rebaixamento da Unidos de Padre Miguel. Aclamada por apresentar um desfile coeso e potente, a UPM havia ascendido da Série Ouro e, surpreendentemente, terminou em último lugar na apuração, retornando ao grupo de acesso.

“Foi superinjusto. Há escolas que deveriam ter sido rebaixadas e não foram porque têm peso, têm nome, são antigas. Já virou carta marcada essa história de que a escola que sobe sempre cai”, desabafou Geisa Lopes, 57 anos, auxiliar administrativa e torcedora da Beija-Flor.

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Geisa Lopes, 57 anos, auxiliar administrativa e torcedora da Beija-Flor

“É importante julgar as escolas pelo que realmente apresentam. Este ano houve uma injustiça enorme com o rebaixamento da Unidos de Padre Miguel. Na minha visão, isso aconteceu simplesmente porque é uma escola recém-chegada. Os julgadores avaliam muito pelo peso da bandeira e não pelo desfile em si. Isso desanima quem se dedica ao Carnaval. Muita gente perde a motivação de desfilar por conta dessas injustiças”, afirmou Thamires Rendeiro, 34 anos, autônoma e integrante da Imperatriz há mais de 23 carnavais.

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“Não foi a pior escola. Assisti a todos os desfiles ao vivo e, em termos de espetáculo, a UPM não foi inferior em nenhum quesito. Ela acabou sendo garfada, como o Império já foi outras vezes. É o velho ‘a escola que sobe sempre cai’. Isso se perpetua na Liga e deve continuar por um bom tempo”, criticou Luiz Eduardo Morris, 21 anos, estudante de História e estagiário da prefeitura, torcedor do Império Serrano.

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Luiz Eduardo Morris, 21 anos, estudante de História e estagiário da prefeitura, torcedor do Império Serrano

“A UPM fez um desfile digno de continuar no Grupo Especial, mas foi rebaixada por questões políticas, por não ter uma bandeira ‘forte’. Isso reflete o pensamento de que escola que sobe é inferior. Essa visão precisa mudar urgentemente. Estão sucateando escolas tradicionais, que ajudaram a construir a história do Carnaval”, lamentou Pedro Felipe Simões, 20 anos, estudante de História e mangueirense.

“Totalmente injusto. A escola estava linda. O melhor ensaio técnico que vi foi da UPM. Era a única em que todas as alas estavam completamente fantasiadas. Houve ali preconceito religioso ou a velha mania de derrubar quem veio de baixo”, apontou a médica veterinária Tatiana Mestrinho, 56 anos, torcedora do Salgueiro.

“Estava acompanhando toda a apuração e não concordei. Houve vários erros no julgamento da UPM. A escola merecia ficar. A comunidade estava envolvida, vibrando. A atuação da presidente incomodou outras lideranças e isso, para mim, influenciou negativamente o julgamento”, avaliou Barbara Barreto, 25 anos, analista de engajamento médico e torcedora da Unidos da Tijuca.

Polêmica no julgamento

O episódio mais controverso envolveu a julgadora Ana Paula Fernandes, que descontou um décimo da escola por “excesso de termos em iorubá”.

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Pedro Felipe Simões, 20 anos, estudante de História e mangueirense

“É um completo absurdo. Escola de samba é expressão negra, afro-brasileira. Isso foi má vontade, desconhecimento histórico, talvez até má fé. Um samba cheio de ancestralidade, que em qualquer outra escola receberia nota 10”, condenou Pedro Felipe.

“Foi racismo religioso, intolerância. O enredo exaltava mulheres da raiz afro-brasileira. A crítica à linguagem revela o preconceito”, complementou Barbara.

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Barbara Barreto, 25 anos, analista de engajamento médico e torcedora da Unidos da Tijuca

“Como alguém que não é do ramo, achei maravilhoso. Conheci algo novo, me interessei. Carnaval é cultura, e isso deve ser incentivado. A julgadora errou feio — isso não é critério”, disse Tatiana.

Recurso negado

Os participantes também lembraram do recurso apresentado pela UPM para revisão das notas, que foi negado pela Liesa. As reações foram diversas.

“É injusto. Houve escolas que voltaram entre as campeãs por causa de julgadores ausentes, e acabaram com nota 10. A UPM estava muito melhor”, disse Geisa.

“Embora ache injusto, não sei se seria a favor de uma virada de mesa, pois abriria precedentes perigosos. O que precisa mudar com urgência é a mentalidade dos jurados, para que casos absurdos como esse não se repitam”, ponderou Pedro Felipe.

“É justo dentro do jogo. Para reconsiderar a nota da UPM, teriam que rever outras, como as da Grande Rio. Seria um efeito dominó”, analisou Luiz Eduardo.

Propostas por um julgamento mais justo

Os entrevistados pediram mudanças por parte da Liesa para que o rebaixamento das escolas ascendentes não se torne uma regra tácita no Grupo Especial.

“Existe uma tradição nociva: quem entra no sorteio como primeira escola, nunca vence. Isso precisa acabar”, comentou Geisa.

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Thamires Rendeiro, 34 anos, autônoma e integrante da Imperatriz

“É preciso ter julgadores qualificados. Alguém sem conhecimento de percussão não pode avaliar bateria. Alguém sem noção de moda não pode julgar fantasias”, criticou Thamires.

Pedro Felipe reforçou a necessidade de reeducação dos jurados: “O público já superou esse preconceito. Apoia qualquer escola, tenha ela subido ou não”.

“A solução está na despolitização da Liga. Já se disse que certas escolas só se mantêm com apoio ‘do bicho’. Isso interfere nos resultados. Mangueira e Portela, por exemplo, voltaram sem merecer. São escolas com gente dentro da Liga”, denunciou Luiz Eduardo.

Para Tatiana e Barbara, a solução seria impedir o rebaixamento no primeiro ano das escolas recém-chegadas ao Grupo Especial.

“No futebol, o time tem o ano todo para reagir. No Carnaval, é uma chance só. Talvez a escola que sobe não devesse ser julgada no primeiro ano”, sugeriu Tatiana.

“O olhar sobre essas escolas precisa ser diferente. Se subiram, é porque mereceram. Mas os jurados já vão com a intenção de achar erros. A Liesa poderia garantir pelo menos um ano de permanência no Especial”, concluiu Barbara.

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