O mundo do samba vive um momento histórico. Pela primeira vez, uma mulher assume o comando de uma bateria na Série Ouro do Carnaval carioca. Laísa Lima, de apenas 25 anos, foi anunciada como a nova mestra de bateria do Arranco do Engenho de Dentro — uma conquista que vai muito além dos ritmos e marca um avanço na representatividade feminina dentro do carnaval.

“Ao receber o convite, senti que a história foi feita. A partir do momento em que se anuncia uma primeira mestra da Série Ouro, essa representatividade existe e é indiscutível”, comemorou Laísa.
Filha do lendário diretor de carnaval, Laíla, Laísa cresceu entre os ritmistas da Beija-Flor, onde atualmente comanda a direção de tamborins.
“Meu pai tinha um ouvido absoluto. A gente brinca até hoje com as frases que ele tinha dentro da Beija-Flor: ‘bota no andamento’, ‘é 144 BPM’. Ele estava sempre se importando com as batidas, com a boa afinação. É claro que eu vou trazer isso para o meu trabalho”, garantiu.
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A mestra reforçou que aprendeu do pai a respeitar a necessidade da escola. Assim, na bateria, o andamento não pode ser devagar demais, a ponto de dificultar o acompanhamento dos componentes, nem muito rápido, tornando o canto e a dança cansativos.
“É preciso estudar o samba, trabalhar para a escola sempre”, destacou ela.
Apesar de suas raízes em Nilópolis, Laísa garante que suas vivências na Beija-Flor se somarão à proposta do Arranco:
“Estou apostando nas frigideiras. Vou fazer uma junção com os agogôs do Arranco. Pretendo montar uma escolinha, sem cadeira cativa. Todo mundo vai aprender junto”.
O talento vem de berço, mas o reconhecimento, segundo ela, é fruto de muito trabalho. Com passagens por escolas da Intendente Magalhães e da Série Ouro, ela agora quebra mais um tabu. O Arranco é referência em protagonismo feminino. Presidido por Dona Diná, tem em seu time nomes como a carnavalesca Annik Salmon e a intérprete Pamela Falcão, ambos exemplos de liderança feminina na Sapucaí.
“Não criei expectativas, mas Tatiana Santos, vice-presidente do Arranco, me surpreendeu com o convite. Ela enxerga talentos femininos como ninguém”.
Além do talento herdado do pai — conhecido pelo ouvido absoluto — Laísa carrega aprendizados dos mestres da velha e nova geração. Entre eles, Rodney, Plínio, Thiago Diogo, Vitinho, Darlan, Laion, Marcão e Macaco Branco. Entre as mulheres, cita Thaís Rodrigues e Paloma Bento como inspirações.
“Quero que todas essas mulheres sejam vistas agora através do meu trabalho”.
Mesmo aberta às inovações — como pirotecnias e coreografias — Laísa reforça: mais importante que o espetáculo visual é garantir conforto e musicalidade para os ritmistas.
Com garra, paixão e propósito, Laísa Lima rufa os tambores da mudança — e convida todos a caminharem com ela.
“Quem quiser conhecer a forma como trabalho, vai ter oportunidade. Estou de portas abertas”.