
Em seu primeiro à frente da bateria, a Portela é campeã. Bianca Monteiro começou sua trajetória de rainha em 2017 e hoje se mantém entre as mais longevas rainhas em atividade. Bianca cresceu na quadra da Portela, foi passista, se tornou rainha, está estudando Serviço Social e se tornou inspiração para a nova geração de meninas da Portela, não só das passistas.
Em 2025, a Águia de Oswaldo Cruz e Madureira levará para a Avenida o enredo “Cantar será buscar um caminho que vai dar no Sol” em homenagem ao grande artista Milton Nascimento, de desenvolvimento dos carnavalescos Antônio Gonzaga e André Rodrigues. Para Bianca cada enredo é uma chanca para se reinventar e enfrentar novos desafios.
“É meu oitavo ano e cada ano é um aprendizado diferente. Trazer Milton Nascimento é algo enriquecedor para a nossa escola, fazer a primeira homenagem para alguém em vida para Milton, que é um dos maiores artistas, é sempre uma experiência nova. Eu estudo, tento me reinventar, não é fácil porque cada ano é um obstáculo, são coisas diferentes. A demanda vem aumentando cada vez mais, até para você oferecer para as pessoas algo diferente. Eu faço de tudo para trazer algo de novo todo ano.”, contou Bianca.
Nesses oitos de reinado, a vida da Bianca mudou. Ela se profissionalizou cada vez mais como Rainha, busca agregar outros conhecimentos ao exercício da sua arte e pretende continuar atuando ativamente na Portela, mesmo após uma passagem de cargo.
“A minha vida mudou muito. Mudou tudo, na verdade. Isso aqui é minha vida, meu trabalho, meu ofício. Eu trabalho na arte, eu vivo da arte e sou o que sou por conta da arte. Quando você consegue ser reconhecido dentro da sua escola, dentro do seu ofício de trabalho, naquilo que você faz, só cresce cada vez mais. Você não consegue construir uma carreira e uma vida dentro do carnaval sendo uma rainha de um ano. Nós precisamos de Evelyn Bastos e de Raíssa [de Oliveira], que ficou 20 anos na Beija-Flor. Nós precisamos estar nesse lugar por um tempo até se aposentar e passar o cargo para outra pessoa. Isso constrói. Nós estudamos, fazemos faculdade, acabamos entrelaçando outras carreiras. Eu faço Serviço Social ligado ao Carnaval porque eu quero continuar trabalhando com o Carnaval, com as pessoas e com essa comunidade maravilhosa que é a Portela.”, explicou a rainha.
No quesito reinvenção e polêmica, Bianca Monteiro deixará sua marca novamente em 2025. Em 2024, a portelense entrou na Sapucaí representando a orixá Oxum com o corpo todo pintado de preto e adornos em dourado. A fantasia surpreendeu tanto positivamente quanto negativamente, dividindo opiniões na internet. Seu desempenho lhe rendeu o prêmio Estrela do Carnaval de Melhor Rainha de Bateria, do CARNAVALESCO. Sobre a próxima caracterização, Bianca não quis entrar em detalhes, mas acredita que pode ter um efeito parecido.
“Não posso adiantar nada da fantasia. Essa fantasia, eu acho que pode criar bastante polêmica. Não tanto quanto a do ano passado, mas pode criar uma polêmica na internet. Esse ano que passou foi muito bom, mas tiveram várias pessoas que me amaram e várias outras que me odiaram. E esse ano vai ser uma coisa bem parecida.”, declarou.
Guerreira, Diva, Povão
Os portelenses veem o quanto Bianca Monteiro é uma rainha presente na quadra. Nascida e criada na Portela, ela se inspirou em passistas mais antigas e fica feliz em ser um exemplo a ser seguido pelas meninas da comunidade.
“É a minha vida. Eu sou nascida e criada na comunidade. É muito engraçado porque eu vi muitas delas pequeninhas, bebês, pegava no colo, e hoje já estão mocinhas, sambando, formando opiniões. Ver esse crescimento e ajudar, assim como muitas pessoas ajudaram no meu crescimento para que eu pudesse estar aqui hoje, é sempre muito emocionante. É emocionante poder saber que elas olham para a Bianca, elas se veem e acreditam que podem estar nesse lugar também.”, disse a portelense.
Para a ritmista Rafaela Vitória, de 21 anos, Bianca é humilde e é “povão”. A auxiliar de loja toca chocalho na Tabajara do Samba e reconhece o poder de sua rainha.
“Ela é uma mulher negra empoderada, povão, comunidade. Ela sempre representou as meninas da comunidade. E acho isso muito bonito, porque, mesmo ela tendo um cargo alto, ela não deixa de ser uma pessoa humilde, de onde ela veio.”, afirmou Rafaela.
Bianca começou cedo como passista, aos 13 anos, na Portela e sua trajetória é um exemplo para as jovens portelenses que ocupam esse espaço hoje. Evelyn Cristine, Mabi Lobo e Maria Luiza, todas de 18 anos, têm em sua rainha um exemplo. Evelyn, que desfila há 2 anos na azul e branco, declarou: “Ela é um exemplo de mulher, de rainha. Exemplo mesmo de uma guerreira.”
Mabi Lobo comentou a presença da rainha tanto nos eventos da escola quanto nas ações socioculturais.
“Eu a tenho como uma das minhas principais referências além da tia Nilce [Fran] porque eu a vejo como uma mulher muito forte, uma rainha muito presente na nossa comunidade. Uma rainha que está presente tanto nos eventos em geral, quanto social e culturalmente. Ela faz o maior esforço como uma pessoa cultural, como com os trabalhos sociais na Portelinha. Por isso, vejo como uma pessoa muito forte, empoderada e uma das minhas principais referências no samba.”
Maria Luiza também exalta o trabalho social de Bianca e sua capacidade de ensinar e inspirar jovens como ela.
“Eu acho uma diva porque ela inspira muitas meninas, como eu. Ela faz projetos que encorajam outras meninas, tanto as que são do Carnaval quanto as que não entendem de Carnaval. Acho que ela passa muito do conhecimento dela para as outras pessoas.”