A Unidos de Padre Miguel desfilou na noite desse domingo na Marquês de Sapucaí com o enredo “Egbé Iyá Nassô”, sobre aquela que é responsável pela fundação do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador, na Bahia. O quarto carro da escola relembrou a imposição do exílio à sacerdotisa após a Revolta dos Malês, composta majoritariamente por escravizados muçulmanos.
“Durante a Revolta dos Malês, Iyá Nassô se oferece como moeda de troca para que não perseguissem os seguidores de seu terreiro. Ela volta para a África, cumprindo a promessa dela. Tem uma encenação na próxima ala dessa luta entre os soldados e os Malês e no carro também. Nós temos uma escultura da Iyá Nassô, abraçando seus filhos, representando toda essa acolhida que ela fez, essa coisa afetiva de mãe que ela era. Ela era uma líder política também, uma mulher à frente de seu tempo”, explicou o integrante da equipe de criação do desfile Alex Carvalho, de 25 anos.
Fundindo a arquitetura islâmica com a estética afro, exibindo escrituras em árabe, o carro foi aprovado pelos desfilantes que nele vieram. Nesse sentido, a professora de educação física e ialorixá Suzel Rodrigues, o advogado Luiz Fernando Silva e o gerente de lojas Tom Garcez refletiram sobre a histórica perseguição às religiões de matriz africana no Brasil.
“Iyá sofreu esse exílio, nessa revolta. Aí ela teve que voltar para a África. Logo depois, ela retornou a Salvador e hoje a gente vem representando ela. O que me chama atenção na estética desse carro é Xangô, é o atabaque. Que o atabaque toca e o orixá responde”, disse Suzel, de 60 anos, há mais de 10 anos na UPM.
“Eu já vi muito enredo bacana nessa escola, mas igual a esse me emocionou. Eu fui iniciado quando morava na Vila Vintém. Eu era um garoto de 12 anos de idade e hoje sou um homem adulto falando da minha religiosidade. Pela primeira vez, um carnavalesco está apresentando na avenida a origem do candomblé no Brasil”, enalteceu Luiz Fernando, de 52 anos, que desfila pela UPM desde 2007.
“Num mundo de tanta intolerância religiosa, você tem um enredo de matriz africana que prega o amor. O amor tem que prevalecer. As pessoas têm que respeitar a fé das outras. Para uns, amém; para outros, axé. Eu sou evangélico. A minha família toda é. Eu tenho muito orgulho de hoje vir cantando Iyá Nassô e dizer não à intolerância religiosa e sim ao amor”, finalizou o gerente de lojas Tom Garcez, de 55 anos de idade e 33 anos de avenida, em sua primeira vez pela UPM.