Um dos carnavalescos mais destacados da nova geração, Leandro Vieira vai para seu terceiro carnaval consecutivo na Imperatriz Leopoldinense. Após a estreia, e com dois campeonatos pela Mangueira, o artista foi campeão pela Rainha de Ramos em 2023, e conquistou o vice-campeonato no último carnaval. Além disso foi o responsável pelo título da escola em 2020 na então Série A, permitindo o retorno da agremiação ao Grupo Especial. Agora, o artista vai contar no Carnaval de 20205, o itã que retrata a ida de Oxalá, rei de Ifón, ao encontro de Xangô, rei de Oyó, não sem passar por algumas penitências pelo caminho, no enredo “Ómi tútú ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón”.
Leandro contou sobre o surgimento do enredo da Imperatriz desse ano, como uma forma de ajudar também outros segmentos da agremiação, e como foi o processo de construção da saga de Oxalá indo ao encontro de Xangô.
“A ideia do enredo surgiu quase com uma vontade coletiva dos componentes da escola que sempre que podiam me pediam um enredo que eles chamam de afro. E não só os componentes da escola, mas também a personalidade da escola que eu ouço muito, que é o Pitty e o Lolo. A gente tem que levar em consideração que o universo afro também tem uma musicalidade específica. E essa musicalidade específica naturalmente favorece uma grande voz que pode fazer uma grande apresentação e favorece um mestre de bateria muito inventivo, o dono de um requinte de rítmico. Então, se o Lolo e o Pitty dizem que é bom, e eu entendo o Lolo e o Pitty como duas grandes personalidades, duas grandes potências da escola, eu estou aqui para jogar bola com o time. Então, eu acho que muito dos sucessos que a Imperatriz tem desfrutado tem a ver do entendimento que existe aqui um time que gosta de trabalhar com toque de bola. É um tocando a bola para o outro e possibilitando que na partida todo mundo jogue com as suas potências. O enredo da Imperatriz nasce desse desejo da comunidade, que é ouvida pelo carnavalesco, de um desejo de alguns integrantes da equipe que queriam potencializar as suas vocações e que também foram atendidos pelo carnavalesco. Então, é uma ideia de time, de coletividade, de um enredo que atende a interesses que não só os meus”.
Sobre a escolha de contar essa história, Leandro comentou sobre as características que achou interessante de retratar na avenida, e como é interessante ver a Imperatriz se debruçar sobre uma realeza africana.
“Esse itã, o protagonista dele é Oxalá, uma divindade que eu particularmente tenho muita intimidade e é uma divindade que tem algumas características estéticas muito exuberantes. É um orixá masculino que veste saia, é um orixá com características plásticas e com artigos ritualísticos muito exuberantes. É uma divindade que usa leque, é uma divindade que usa coroa, e a coroa aí já é um símbolo super adequado, uma escola que tem como símbolo uma coroa, é uma divindade de uma energia transformadora e que, dentro desse itã, ele me possibilita a contação de uma história que se aproxima de uma realeza. E você sabe que a Imperatriz tem um histórico de contar histórias da realeza. E o grande barato é que a escola tem essa vocação para histórias da realeza, mas durante muito tempo ela contou histórias de uma realeza europeia. E há quase 50 anos ela não se debruçava sobre uma realeza afro-brasileira. Então isso tem um conteúdo simbólico muito bom, porque é uma realeza ligada a uma divindade com um potencial estético absurdo e que, dentro desse itã, me possibilita uma construção estética de contorno épico, de contorno heroico, o que também visualmente é lindo. A soma de escolher esse itã é a soma de uma série de potencialidades que reforçam também as vocações da Imperatriz”.
Conhecido também pelo requinte das suas fantasias, Leandro falou sobre o processo das fantasias da escola para o próximo carnaval, com ênfase na beleza com a facilidade na evolução.
“Estou trabalhando há algum tempo a ideia de que o conjunto de fantasias deve favorecer a evolução e a participação do componente de uma forma exuberante. Continuo tentando fazer fantasias que juntem beleza, mas não atrapalhem a Imperatriz na pista. Acho que o Carnaval de 2024 mostrou uma escola que evoluiu com alegria, que evoluiu com intensidade, e acho que muito da qualidade do desfile da Imperatriz passa pela maneira como o componente da Imperatriz Leopoldinense se comportou na pista. Essa forma alegre, essa forma solta, dessa forma mais cheia de vigor, foi determinante para o sucesso da escola em 2024. Então, para 2025, eu continuo investindo nessa forma, somando a isso, um aumento no requinte, um aumento no acabamento, um aumento na qualidade do acabamento, na qualidade dos materiais utilizados, um aumento da sofisticação do fazer. E como agora estou trabalhando com um perfil de realeza africana, eu também tenho a certeza de que implementei esse ano um sabor mais gostoso aos figurinos que vão desfilar”.
Sobre as alegorias, Leandro destaca a exuberância do projeto alegórico como uma marca para este ano de 2025.
“Eu estou fazendo um conjunto alegórico muito debruçado nessa ideia de exuberância. E como é que essa exuberância se traduz? Primeiro que é certamente o meu conjunto alegórico com o maior número de esculturas. Então é uma escola com muitas esculturas, é uma visualidade muito densa. Essa ideia de carnaval, que as pessoas chamam de carnaval pesado, tem também um aspecto que é um investimento. Eu sempre gostei de dar acabamento, o acabamento acho que sempre foi uma marca das minhas alegorias. Mas esse ano além do acabamento acho que tem uma marca de exuberância. E além da marca da exuberância, desse refinamento, é um carnaval onde a pintura de arte e o gigantismo das esculturas que arremata esse visual, que é um visual épico e heróico. Então é um conjunto de alegorias de altíssimo nível”.
O carnavalesco destaca que o mais interessante relativo ao enredo é a questão ao redor do banho de Oxalá que liga a história do itã que a escola está contando com o sagrado.
“A ideia do banho, o banho de Oxalá. Porque o banho é exatamente o ponto de contato entre o mito e o rito. O mito é o Itã. E o rito é o mito transformado no sagrado do candomblé. Então o banho que é dado em Oxalá pelo estúdio, por Xangô, é fundamental para o entendimento do que vem a ser a cerimônia das Águas de Oxalá no candomblé, nos candomblés de Ketu e Nagô no Brasil. Então acho que o banho é fundamental, e é um dos momentos para mim, um dos momentos mais bonitos do desfile que virá”.
Trunfo da Imperatriz para 2025, na visão do artista é a parceria entre os diferentes segmentos da comunidade de Ramos, onde Leandro comparou a atuação deles como a de um time de futebol.
“O grande trunfo do desfile é o time que joga um para o outro. Acho que o grande trunfo da Imperatriz é contar com um time, primeiro, um time onde cada integrante é fã do outro. A outra coisa que é fundamental para o sucesso da Imperatriz recente, acho que é o grande trunfo, é que todo mundo aqui joga com a intenção de favorecer o jogo do outro. Eu usei uma expressão do futebol, que é a ideia do toque de bola. É um time que, para chegar ao gol, todo mundo joga, todo mundo dá o toque para o outro. Acho que a ideia de que carnaval se ganha em conjunto é muito forte entre os que vão para a pista para defender o quesito”.
Conheça o desfile da Imperatriz
A Imperatriz Leopoldinense terá 5 carros e 2 tripés no seu desfile de 2025. O carnavalesco Leandro Vieira define sua história e seus setores da seguinte forma sintetizada: “Começa com Oxalá, no meio do caminho tem o encontro com Exu, depois encontra encontra Xangô e termina na Cerimônia das Águas”.