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Diretor musical do Salgueiro, Alemão do Cavaco fala sobre seu trabalho e estreia de Igor Sorriso

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Alemão do Cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Carnavalesco

Alexandre Augusto Panzoldo nasceu no final dos anos 1970 em uma família de classe média, na Mooca, cidade de São Paulo, de uma dona de casa e um engenheiro, ambos descendentes de italianos. Sem vínculo familiar direto com o mundo da música, o pai comprava LP ‘s de Agepê, Benito de Paula, Exporta Samba, Beth Carvalho. “Eu ouvia muito em casa”, disse ele em entrevista ao CARNAVALESCO.

Autodidata, aprendeu sozinho a tocar pandeiro, tamborim e surdo. “Quando eu fui fazer cursos e trabalhar com profissionais, os professores falavam: “Você tem uma facilidade muito grande de aprender perante os outros alunos que eu tenho”. Aí eu percebi que eu tinha jeito para o negócio e comecei a me apaixonar”, recordou Alexandre.

Apaixonado por futebol, costumava tocar na bateria da torcida organizada do Corinthians.  “Com 13, 14 anos, eu ia no jogo do Corinthians e a Gaviões da Fiel era um bloco que estava se transformando em escola de samba”, relembrou ele, que fez parte da primeira formação da escola de samba Gaviões da Fiel, no Carnaval de 1989, como ritmista.

Foi no cavaquinho, no entanto, que o jovem talentoso mais se destacou. Após dominar a percussão, Alexandre mergulhou no instrumento de cordas. Um dia, na quadra da Gaviões da Fiel, diante da ausência de um dos cavaquinistas, foi chamado para compor a equipe de som daquela noite. O diretor de harmonia Carlos Tadeu Miranda, hoje conselheiro vitalício da Gaviões, achou Alexandre um nome fraco e disse: “Com vocês, Alemão do Cavaco”, batizando-o com o apelido pelo qual é ate hoje conhecido, em razão do então cabelo loiro e feições europeias.

O tempo passou e a dedicação à música só aumentou. Alemão formou-se em Violão e Arranjo pela Faculdade de Música Carlos Gomes, criou o próprio grupo de samba, Dose Certa (do qual participou por mais de 20 anos, até o fim da banda em 2022), e tornou-se um conhecido compositor e arranjador de sambas-enredo no Rio de Janeiro. Na Mangueira, assinou, entre outros, o samba “Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oyá”, de 2016, e assumiu o posto, pela primeira vez em sua vida, de diretor musical de uma escola.

Desde 2022, está à frente da direção musical do Salgueiro, onde gabaritou, todos os anos, o quesito Harmonia, firmando a Academia do Samba como a única escola a somar 80 pontos neste quesito nesse período.

“Ser diretor musical do Salgueiro é uma honra gigante, porque é uma escola gigantesca. Quero agradecer ao nosso patrono Adilsinho, ao Leandro e ao André, nosso presidente, que foi quem me trouxe para o Salgueiro, pela confiança no meu trabalho. A gente em dois anos aqui a gente alcançou a nota máxima com o grupo. Estamos trabalhando demais para continuar mantendo essa nota, porque o nosso grande objetivo é o título”, disse Alemão do Cavaco.

O paulistano de coração carioca explicou ainda como é seu trabalho na escola: “O trabalho de diretor musical consiste em cuidar dos arranjos, da mixagem, dos volumes, das notas cantadas, da tonalidade, dos andamentos, dos conjuntos de bossa com bateria que vão ser feito harmonicamente também com os cavaquinhos e violões. É todo esse cuidado para a gente ter o máximo de nota possível”.

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Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram

Embora o objetivo principal seja o desfile carnavalesco, Alemão trabalha o ano todo – por exemplo, na supervisão musical da final do samba-enredo e no arranjo da gravação da faixa escolhida.

O trabalho tem gerado valorosos frutos: o samba do Salgueiro de 2025 é, hoje, o mais tocado do Brasil nas plataformas de streaming e o único com mais de um milhão de plays no Spotify.

“Quando o samba foi escolhido, ele já era um sambaço, a gente já tinha visto isso, por isso que escolhemos, mas ele não era o mais falado. Ser o mais ouvido, a pouquíssimo tempo do Carnaval, facilita o canto das pessoas. O samba é acessível de melodia, de letra. Quanto mais viraliza, melhor, porque você pega um público maior”, vibrou o musicista.

A popularidade da obra pode estar também ligada à sua qualidade técnica, que une passado e presente, macumba e Nordeste, numa junção potente e melódica.

“O samba este ano tem uma melodia ora tradicional, de sambas antigos tradicionais, e ora com novidades. Ele tem uma modulação que hoje já é bastante comum no samba e no samba-enredo, mas ela não é tão previsível. Além disso, ele casa muito a letra com a melodia adequada. Sendo mais explicativo, na hora que fala do macumbeiro mandingueiro, aquilo chama um terreiro, chama um um atabaque. Quando fala do sertão, a gente remete a uma melodia de cangaço, de baião. O samba é perfeito para um desfile dinâmico, poético e emocionante”, desenvolveu Alemão.

O diretor musical abordou também o Manual do Julgador da LIESA 2025, que trouxe modificações em quesitos como Bateria, Samba-Enredo e Harmonia, entre outros. Neste último, em especial, passa a ser avaliada a performance do intérprete e do carro de som, o que, para o diretor salgueirense, já vem ocorrendo há um tempo.

“No Rio, o carro de som já vem sendo julgado, no mínimo, há uns 7, 8 anos. O quesito Harmonia praticamente virou carro de som. O que ele era antigamente acabou indo para Evolução. A questão da sanfona da escola, de abrir buraco… A única coisa que ainda ficou em harmonia é o canto das alas, que tem sido pouco levado em consideração porque hoje as harmonias fazem as escolas cantarem. A harmonia do Salgueiro não é diferente. Os jurados tem realmente olhado o quesito Harmonia como uma harmonia de música. Estar em paz, estar equilibrado. O cantor no tom correto, sem excessividade de cacos, o arranjo correto, o andamento bacana com a bateria para não ficar uma correria, para não ficar muito para trás, as introduções, o cavaquinho que veio desafinado ou não. O jurado vai buscar a excelência. Isso que está no manual simplesmente corrobora com o que já vinha acontecendo”, constatou.

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Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram

Por fim, Alemão avaliou as estrelas pratas da casa do Salgueiro.

O ano de 2025 marca a estreia do intérprete Igor Sorriso à frente da Academia do Samba, após passagem pela escola-mirim Aprendizes do Salgueiro e longa trajetória na São Clemente. Apesar do começo no Rio, Igor esteve dedicado nos últimos anos ao Carnaval paulistano, onde destacou-se como bicampeão (2023 e 2024) pela Mocidade Alegre.

O cantor recebeu quatro vezes o Prêmio Estrela do Carnaval de Melhor Intérprete, oferecido pelo site CARNAVALESCO (duas vezes pela São Clemente, em 2012 e 2015, e mais duas pela Mocidade Alegre, em 2019 e 2022).

“O Igor é um dos caras mais profissionais que eu trabalhei na minha vida. Ele tem cuidado com o canto, com o estudo, melodia, com a nota que ele vai cantar. E o principal, ele tem uma humildade que poucos gigantes tem. Ele sabe ouvir. Eu tenho certeza, certeza absoluta que independente de nota, claro que nós vamos buscar as notas, mas independente de você estar na mão de um jurado ou não, o trabalho que vai ser entregue vai ser de excelência. E isso muito pelo Igor também”, elogiou Alemão do Cavaco.

Filhos do ritmista e ex-presidente de ala Tuninho e também crias da Aprendizes, os irmãos Guilherme e Gustavo Oliveira galgaram posições até alcançar o maior posto da bateria Furiosa, dos longevos mestres Loiro e Marcão. Já colaboraram com Fundo de Quintal, Clareou, Dudu Nobre, Ludmila e Xamã, além de liderarem o projeto Dos Santos, que une samba e música eletrônica sob uma perspectiva experimental. Há três anos, os mestres da Furiosa integram também o projeto Samba in Harlem, da escola de música Frederic Douglas, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos.

“Eles são muito esforçados, muito inteligentes e muito talentosos. A molecada que vem se renovando tem eles como guias. Não é nem discussão, mas é um papo de altíssimo nível que eu tenho com eles. Tudo que a gente faz na área musical, a gente conversa junto. Introduções, arranjos… Tem sido um entrosamento, uma coisa muito gratificante para mim. Gosto muito do trabalho deles”, enalteceu o líder da ala musical salgueirense.

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