A maternidade das baianas se une novamente a uma figura maternal presente no enredo. Com a fantasia “Mães Espirituais”, as baianas da Porto da Pedra trouxeram a mensagem de que o corpo e a floresta são um só.
As baianas representaram as anciãs míticas que, segundo a mitologia Munduruku, transmitiram os ensinamentos do grande criador Karusakaibê, reforçando que a união entre o corpo e o espaço que se habita é essencial. Um espaço doente gera corpos doentes. Assim, as mães espirituais são fundamentais nos processos de cura.
“Nossas baianas estão representando as mães espirituais, que estão diretamente ligadas ao enredo. As baianas são as mães da escola, cozinham e cuidam de nós, então nada mais justo do que estarem à frente da escola e representarem as mães que cuidam da natureza e dos indígenas”, disse o diretor da ala das baianas Kleber Ferreira, comerciário de 65 anos.
Desfilando no primeiro setor da escola, as mães espirituais da Porto da Pedra usaram um figurino levíssimo, todo trabalhado em laranja e amarelo, com uma saia vazada que criou um efeito visual impactante.
Além de aprovarem a fantasia, as baianas destacaram ao CARNAVALESCO o significado profundo do papel que estavam representando.
“Estou há dois anos como baiana da Porto da Pedra e achei essa fantasia maravilhosa. Somos as mães espirituais que cuidam da Amazônia, da floresta em si e de todos que moram e dependem dela”, contou Maria Vilani, doméstica de 67 anos.
Sônia Santos, baiana há 22 anos pela Porto da Pedra, reconheceu uma parte de sua própria história no simbolismo da fantasia.
“A fantasia é ótima, muito bem feita, e representa a cultura indígena e suas mães, que cuidavam das pessoas, da saúde e até dos espíritos. Os indígenas enfrentavam conflitos sobrenaturais, e eram as mães espirituais, as rezadeiras, que resolviam. Na minha família, havia mulheres que rezavam pelos outros. Minha avó era uma dessas rezadeiras, uma verdadeira mãe ancestral. Por isso, vejo muita conexão entre essa cultura e a minha própria história”, declarou Sônia, doméstica de 69 anos.
Para muitas dessas mulheres, a fantasia representava mais do que um elemento do desfile: era um elo com suas próprias histórias e raízes. O simbolismo das mães espirituais resgatou memórias de rezadeiras e curandeiras, que, por gerações, protegem suas comunidades com fé e sabedoria.
“Estamos vestidas como mães espirituais em um enredo que fala sobre indígenas e a floresta. Viemos como mães que protegiam a natureza e as pessoas de sua tribo. Esse é o verdadeiro significado da nossa roupa”, disse Rosaria Xavier, costureira de 64 anos, que desfila como baiana há 28 anos.
As baianas da Porto da Pedra não apenas desfilaram com beleza e leveza, mas também trouxeram a força ancestral das mães espirituais, reforçando a conexão entre humanidade e natureza. A simbologia em suas fantasias capturou a essência do enredo, ressaltando a importância da preservação e do respeito às tradições indígenas.