A Acadêmicos de Vigário Geral apresentou na Marquês de Sapucaí a história de Francisco Guimarães, mais conhecido como Vagalume. Importante cronista da virada do século XIX para o XX que jogou luzes sobre a cultura negra e periférica carioca e se tornou uma das maiores referências das práticas momescas. Em sua terceira alegoria, a Vigário coroou Vagalume como Rei da Folia e trouxe à frente da alegoria a família do saudoso cronista da cultura negra e periférica carioca.
Luciano Guimarães, bisneto de Vagalume, falou ao CARNAVALESCO sobre a homenagem que a Vigário está prestando a Vagalume. “É uma honra muito grande pela história de vida dele, pela luta que ele teve para abrir espaço para a cultura negra e periférica na sociedade carioca. Saber que uma figura como o Vagalume teve uma relevância na sociedade, o impacto de suas crônicas, a maneira como ele abordou as pessoas que não tinham visibilidade naquela sociedade, uma figura realmente que trouxe uma transformação. E saber que o Vagalume ainda é meu bisavô é uma honra dobrada”, declarou emocionado.
Impactada com a homenagem, Tasília Guimarães, neta de Vagalume e mãe de Luciano, revelou que o desfile foi uma oportunidade maravilhosa de celebrar o legado do avô. “Nunca frequentei escola de samba, é a primeira vez que eu venho aqui. Para mim, é uma homenagem enorme. Estou muito feliz. Estou bastante impactada porque é uma homenagem linda. Até o trecho samba, o nome do Francisco Guimarães, meu avô, eu fico emocionada. Eu acho que está sendo um momento maravilhoso para mim”, declarou.
Quem marcou presença como destaque principal da alegoria foi o ator Rodrigo França. O artista representou o Vagalume coroado da Vigário e falou sobre a importância do cronista para o protagonismo do povo preto. “Francisco Guimarães Vagalume mostra o quanto nós sempre tivemos uma intelectualidade preta que pensou o tempo, o espaço em relação à nossa cultura, das nossas necessidades de direito, de liberdade, o quanto a gente sempre buscou subverter uma lógica escravocrata que se perpetua até hoje, de uma certa maneira. Escravocrata de ideias, de comportamento, ainda muito eugenista”, afirmou.
Para ele, Vagalume foi pioneiro por abrir espaço para que a cultura negra e periférica resistisse ao projeto eugenista que predominou como política do Estado brasileiro. “A gente está num momento eugenista onde se nega a cultura negra no Carnaval, a cultura de matriz africana no Carnaval, no Brasil inteiro. Vagalume foi pioneiro e continua existindo na nossa vida em relação a estar dentro da estrutura, estar dentro do sistema e subverter e buscar o melhor para a nossa gente”, declarou.
No fim da alegoria, uma faixa com uma frase do cronista saia das mãos da escultura de um Pierrot, em que se podia ler: “O maior sucesso do samba é o carnaval (Vagalume)”.