A União da Ilha do Governador foi a oitava e última escola a se apresentar da Série Ouro na manhã deste sábado. O desfile homenageou a bailarina Marietta Baderna. Em tons de azul escuro, roxo, prata e branco, remetendo à noite estrelada, a décima quarta ala relembrou o costume da artista de banhar-se à noite, à luz do luar, no Rio de Janeiro do século XIX. O tema da fantasia provocou reações diversas dos componentes da ala.
“É até uma questão atual, porque a Baía de Guanabara está começando a apresentar resultados da despoluição e está retomando os passeios. É algo bem atual, que pode fazer com que o Rio de Janeiro comece a melhorar nesse sentido”, disse o árbitro de futebol Alexandre Cardoso, de 35 anos, que desfilou pela primeira vez na Sapucaí neste carnaval.
“Os banhos noturnos na Baía de Guanabara, provavelmente, naquela época, não tinham a violência que temos hoje. Porque, hoje, até de dia é difícil ir à praia, com arrastão, imagina à noite. Naquela época, era outra situação”, surpreendeu-se o militar aposentado Luiz Gil da Silva, de 70 anos.
Morador de Santa Catarina, Luiz Gil desfila há 26 anos pela agremiação da Zona Norte carioca. Nascido na Ilha do Governador, o ex-integrante do exército mudou-se para outro estado devido ao trabalho, mas nunca deixou de prestigiar a escola do coração.
Em 2025, a União da Ilha se debruçou sobre o legado de Marietta Baderna, artista italiana contratada, no século XIX, pelo governo imperial para dançar para a elite, mas que, ao se deparar com as desigualdades sociais, liderou lutas políticas e tornou-se aclamada pela juventude militante de sua época.
“Pelo que eu entendi, ela era uma dançarina, uma bailarina, se não me engano, da Itália ou de algum país da Europa. Ela era discriminada lá, veio para o Brasil, a princípio para o Rio de Janeiro. Como no Rio ela não conseguia receber, porque era o trabalho dela, ela foi para Pernambuco. ‘Se o Rio não paga, partiu Pernambuco’. E ela foi para Pernambuco. Depois, voltou para o Rio de Janeiro e aqui desenvolveu o trabalho dela. Basicamente, é isso aí”, resumiu Luiz Gil.
“Ela se revoltou com aquela coisa de bailarina tradicional e foi ficar junto com o povo. É interessante esse tema”, comentou Márcia Teresa Carrocino, de 63 anos, cirurgiã-dentista.
“Eu não conhecia a Baderna. Conheci através da escola. Esse é um enredo muito político. Ele faz muito sentido e, hoje, inclusive, eu falava nas minhas redes sociais sobre a origem do camarote, criado por uma elite para outra elite. A Marietta Baderna vem justamente na contramão disso tudo. Ela vem mostrar uma forma de resistência para que a gente não deixe que essa festa popular, que essa festa que é nossa, vá para as mãos da elite”, declarou o médico Luís Carlos Rodrigues, de 29 anos, que, após 4 anos de desfile na Sapucaí, estreou como componente da Ilha.
Aprovado o tema, vestida a fantasia, os desfilantes compartilharam suas expectativas para o grande evento.
Márcia projetou uma passagem alegre e leve pela Passarela do Samba: “A Ilha sempre foi uma escola muito alegre, muito divertida. Todo mundo sabe o samba. É uma característica da Ilha ser uma escola bem alegre”.
Os demais, no entanto, só pensaram naquilo…
“A Ilha há tempos não vinha preparada para voltar para o Especial. A escola está extremamente bem acabada. O Marcus, enquanto carnavalesco, conseguiu desenvolver o enredo de uma forma muito alegre, de fácil leitura. A Ilha está pronta para retornar para um lugar que é dela. É uma grande oportunidade de voltar para um lugar que, quem é amante do Carnaval, sabe que é pertencente a ela”, afirmou Luís Carlos.
“A expectativa é alta, porque é uma escola bem tradicional, logo, merece voltar para o Grupo Especial. Ano passado bateu na trave e agora é hora de tentar conquistar a vaga, a sonhada vaga aí pro pessoal”, torceu Alexandre.
“Eu saio há 26 anos na Ilha e essa é uma das fantasias mais bonitas que a gente já teve. A escola inteira você olha e não tem uma fantasia feia. A escola tem muitas possibilidades esse ano para conseguir subir. De 16, só sobe uma. Tem que ter cuidado com os detalhes mínimos, que é dali que vai sair o campeão. E nós temos esperança, com certeza”, encerrou Luiz Gil.