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Samba e canto da comunidade se destacam em desfile da Estácio, mas escola peca em evolução

O início do desfile da Estácio de Sá foi animador com boas apresentações da comissão de frente e do casal de mestre-sala e porta-bandeira, aliados a um alto rendimento do samba e do canto dos componentes. Mas, do meio do desfile para o final, a Estácio que tinha uma evolução com fluidez, errou um pouco antes da entrada da bateria do segundo recuo, quando a ala de passistas abriram espaço dentro da própria ala, gerando um buraco em frente ao último módulo de julgamento, e, a partir daí, a escola não se encontrou mais na evolução correndo demais até a bateria sair do recuo. Já na parte plástica, o Leão trouxe um bom conjunto visual em termos de cores e soluções estéticas, mas problemas no acabamento dos carros pode custar alguns décimos da agremiação. Com o enredo “O Leão se Engerou em Encantado Amazônico”, a Estácio de Sá encerrou seu desfile com 54 minutos.

Comissão de Frente

Estreante na Estácio de Sá, Júnior Barbosa levou para a Sapucaí o ritual da Pajelança. Para isto, os componentes se utilizaram de um elemento alegórico que trazia a semente de tucumã que é envolta em lendas para os habitantes da mata, posicionada no topo da estrutura cenográfica de onde saía o pajé e descia para a pista junto com os seres encantados que iniciavam a apresentação em cima do tripé. No chão, os indígenas iniciavam o ritual e se misturavam a estes seres.

Nesta representação há uma visão onírica da diversidade amazônica e seus encantos, seres mágicos flutuam entre fantasia e realidade. Já os figurinos dos componentes homenagearam a ritualística dos povos originários, sob a liderança do pajé. No final, o leão estaciano, transvestido de verde amazônico surge mediado pelo pajé em uma das grandes surpresas da comissão para se tornar um encantado. A apresentação terminou com os seres encantados na pista. Apresentação muito boa em dança, sincronia, surpresas e figurinos. Único ponto negativo a se destacar era que o Leão estaciano que surgiu poderia ter sido produzido com um pouco mais de capricho.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Juntos nesse carnaval para defender o pavilhão da Estácio de Sá, Feliciano Junior e Raphaela Caboclo, se apresentaram na Sapucaí com a fantasia “Coaraci e Yaci: O Brilho da Vida e as Cores da floresta” que representou na figura do mestre-sala, através da bonita roupa dourada, todo o significado lendário de Coaraci, o sol, figura da mitologia tupi-guarani, responsável por dirigir o reino animal e garantir a manutenção da vida na floresta tropical. Já a porta-bandeira, em um azul cravejado de brilhantes e o colorido das matas na saia, encarna Yaci, a lua, engerada em sua versão carioca como guardiã das cores e da diversidade da vegetação na floresta tropical. O bailado da experiente dupla buscou pelo mais tradicional para o casal de mestre-sala e porta-bandeira.

Os dois optaram por não incorporar passos mais engessados de coreografia fora do bailado, porém, mostraram muita sincronia na dança sempre mantendo próximo as circunstâncias de movimentos, com os giros da porta-bandeira sempre na mesma intensidade do riscado do mestre-sala. Nos módulos pares o vento esteve bem forte, mas Raphaela, com toda a sua experiência, foi firme, não deixando que a bandeira não estivesse desfraldada e mantendo seus movimentos como se nada estivesse acontecendo, muito controle do pavilhão. Apenas no terceiro módulo, quando a porta-bandeira foi dar a bandeirada, o movimento acabou não saindo tão completo. No geral, o casal se procurou bastante e soube fazer bom uso do espaço para dançar, aproveitando o máximo, desfile quase perfeito.

Harmonia

Para esse desfile, quem comandou o carro de som da escola foi uma nova dupla, mas com velhos conhecidos da agremiação. Tiganá fez o seu terceiro desfile consecutivo e, desta vez, teve a companhia de Serginho do Porto, que voltou à comunidade do morro de São Carlos, instituição pela qual ajudou a subir para o Especial em um passado recente. A dupla mostrou entrosamento e solidariedade um com o outro, não havendo momentos de “disputa” de quem canta mais alto ou faz mais cacos, cada um respeitando o espaço do outro e fazendo uma boa apresentação. O carro de som, no geral, esteve muito sóbrio, mas focado em cantar o samba, sem poluir muito a obra, já que, inclusive, o ótimo samba da Estácio não precisava de muita pirotecnia. Os componentes também fizeram a sua parte e o canto foi uniforme, com correção e alto por toda a pista. Destaque para algumas alas como as baianas, “pajelança”, “Leão Guarini” e “Yará”. O canto contagiou inclusive quem assistia nas frisas.

Enredo

Pelo terceiro ano consecutivo à frente do carnaval da Estácio, e já renovado para o carnaval de 2026, o carnavalesco Marcus Paulo tentou fugir um pouco daquilo que passou nos últimos anos na Sapucaí sobre os povos originários e a Amazônia, com maior destaque com o Salgueiro em 2024 e Porto da Pedra em 2023. Por isso, o artista trouxe para a passarela do samba a história dos encantados amazônicos e como eles representam cada elemento, como defendem a floresta e como traduzem a cultura da região, tudo isso dividido em três setores e mais uma abertura.

Na abertura, inclusive, a escola trouxe a fusão do real e imaginário sintetizado na figura do Leão da Estácio de Sá, como Leão Guarani, iniciado em ritual para percorrer a mata amazônica. Logo em seguida, no primeiro Setor, a Estácio mostrou o Leão descobrindo a harmonia entre seres humanos, animais e encantados, se transformando entre si para proteger a floresta, sendo apresentado às lendas da Yara, boiúna e Naiá. No segundo setor, começou a apresentação de um conflito entre os seres que protegem a floresta, sintetizados na figura do curupira, contra a ganância e a destruição, presentes no homem branco, apresentando alguns desses defensores da mata que existiram como Chico Mendes e Dorothy Stang.

No último setor, a Estácio celebrou os festivais culturais da Amazônia e a riqueza do folclore regional, com maior destaque para Parintins e os bois-bumbás Caprichoso e Garantido. Ainda que, inicialmente alguns aspectos não fossem de tanto conhecimento do publico leigo, a ideia por traz do enredo foi passada de forma simples e com muita leitura, principalmente nos carros que dividiram muito bem os setores, com a Pajelança no abre-alas, os seres encantados e os defensores da mata na segunda alegoria e os festivais culturais na última. As fantasias de ala faziam o complemento da mensagem. Além disso, tudo que foi proposto pelo carnavalesco foi apresentado de forma lúdica, mas com muitas representações imagéticas.

Evolução

A Estácio de Sá começou o desfile bem neste quesito, com o samba valente levando a evolução um pouco mais pra frente, com a comissão chegando rápido nos módulos, mas sem correria e fluidez, não fazendo com que o desfile tivesse grandes momentos de parada, ainda que houvesse os quatro módulos. Porém, depois da última apresentação de comissão de frente e casal, a agremiação apressou demais o passo e não se preparou como devia para a entrada da bateria no segundo box. A ala de passistas a frente foi o motivo do problema. Uma parte dos componentes se apressou e a outra ficou no caminho ainda para aguardar o momento dos ritmistas iniciarem a manobra. O que gerou um buraco dentro própria ala bem em frente do último módulo de julgamento. Alguns passistas chegaram a retornar para o ponto inicial. Após essa situação, a bateria entrou até bem no recuo, mas a escola passou a acelerar o passo ainda mais até passar os setores todos e a bateria voltar para a pista. O final do desfile com a bateria se apresentando foi satisfatória, mas já com o quesito um pouco mais comprometido.

Samba-enredo

A obra de 2025 da Estácio de Sá que passou na Sapucaí é de autoria dos compositores Júlio Alves, Claudio Russo, Magrão do Estácio, Thiago Daniel, Filipe Medrado, HB, Serginho do Porto, Diego Nicolau, Tinga, Adolfo Konder, Dilson Marimba e Marquinhos Beija-Flor. O samba tem um refrão principal forte “Eu vou, eu vou” e a obra, ainda que no seu caráter inicial não era tão para frente como outras obras que a Estácio já levou para Sapucaí, foi bem preparada para este desfile ficou bem a caráter, inclusive da Bateria Medalha de Ouro, com valentia mas sem comprometer a sua ótima linha melódica.

O samba teve passagens com destaque de canto forte como o refrão de baixo, como “Pelo amor de Deus Tupã/ Pelo canto da Yara”, “Eu sou o dom de resistir, eu sou Estácio”, e “Verde pra viver, ver de ser humano/ Neste coração Estaciano”. Nas bossas, um toque de marujada que davam um charme ainda maior para o samba. No geral, um samba valente como o estaciano gosta, mas com passagens muito ricas melodicamente, que contagiou inclusive o público, muitas pessoas cantando e curtindo nas frisas.

Fantasias

Esteticamente a Estácio mostrou um bom conjunto de fantasias, que produziam no desfile uma boa paleta de cores, bem relacionada, inclusive com a temática que estava sendo retratada no setor. No início uma maior predileção pelo verde como visto na fantasia das baianas que representavam “Iamandacy a mãe da mata”, nos tons mais clarinhos, para destacar a mãe da mata e encantada responsável por conceder a permissão para adentrar a floresta. Depois, no segundo setor, a escola procura um colorido maior ao falar de forma mais intensa dos homenageados no enredo, os encantados amazônicos como a ala 10 “Curupira: a força da natureza engerada”, a ala 11 “Guajara: lança feitiços” e Yara, da número 8. No final, a paleta de cores segue um colorido do setor do meio. Destaque para fantasias que falam sobre os festivais como “Adana Encantada do Festribal” e Peixe-boi Engerado”. No geral uma ótima utilização das cores, das formas, como bonitos costeiros, mas, ainda assim, com a qualidade um pouco menos esperada no aprumo dos materiais utilizados nas fantasias. É de fato difícil muitas vezes a realidade da Série Ouro, mas a Estácio poderia caprichar um pouco mais na finalização dos matérias que foram levados para a Sapucaí.

Alegorias e adereços

Além da evolução, alegorias e adereços foi um quesito problemático para a Estácio. Não pelo visual em si que esteve muito bonito, mas principalmente no acabamento. O Abre-Alas “O Rei Do Samba Engerado e os Encantos da Floresta Amazônica” fugiu um pouco do tradicional vermelho da escola, possuindo o forte verde amazônico, de acordo com o enredo, inclusive na figura emblemática do leão. Nele, uma floresta Xamânica e algumas esculturas muito grandes. A alegoria aludiu artisticamente ao universo da Amazônia com o Leão estaciano emergindo a partir do ritual da pajelança. Na composição dessa alegoria, encontram-se também árvores majestosas e aves de algumas espécies que tomaram forma como a diversidade vegetal. Apesar da beleza, houve falhas no forro da alegoria.

Em seguida, a escola trouxe a alegoria “Encantados Eternos: Guardiões da Floresta” representando o encontro do Leão com o universo dos encantados, seres que incorporam os elementos e riquezas da floresta. Carro muito colorido, porém, com rasgo perto do cocar do índio que vinha a frente do carro. O último carro “Festas e Festivais da Floresta No Templo Dos Sambistas” encerrou o desfile celebrando o encontro entre os festivais culturais da Amazônia e o samba carioca. A cenografia traduziu as festas amazônicas, que misturam elementos da natureza e da cultura local e ribeirinhos, entrelaçados com os símbolos do samba carioca, reforçando a conexão entre os guardiões da cultura amazônica. Uma alegoria muito colorida, ainda com o verde bastante presente em todo o desfile da Estácio de Sá e um grande arco com cerca de 16 metros de altura, representando a Apoteose no final, mas com a divisão de cores, no azul e vermelho do Caprichoso e Garantido. A alegoria também apresentou problema de acabamento na sua parte de trás. Conjunto alegórico bonito, mas problemático.

Outros destaques

A Bateria “Medalha de Ouro”, de mestre Chuvisco, veio como “invasores: cobiça” representando os primeiros vindo do continente europeu que deslumbram-se com as belezas amazônicas. A rainha Tati Minerato, estreando no posto na Estácio, depois de alguns anos na Porto da Pedra, veio com o figurino “encantando o olhar dos invasores” fazendo alusão às riquezas e biodiversidade da Amazônia.

Os passistas vieram com a fantasia ” Ganhabora: Trança Pés” que representou um dos sete espíritos protetores, “Ganhabora”, o obstáculo intransponível para os gananciosos e desmatadores da floresta. No final do desfile, o carnavalesco Marcus Paulo estava em êxtase e muito feliz, encontrou próximo do setor 10 a carnavalesca Annik Salmon com que trabalhou na Tijuca e lhe deu um grande abraço. A musa Alessandra Mattos também roubou a cena com samba no pé e beleza.

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