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Série Barracões SP: Com Ailton Krenak, Mocidade Unida da Mooca contará verdadeira história do Brasil em primeiro enredo indígena

Falar de enredos da Mocidade Unida da Mooca nos últimos anos é contar a história brasileira, na qual falou sobre Abdias do Nascimento, Chaguinhas, Helena Theodoro e agora Ailton Krenak. A segunda escola a desfilar no domingo, dia 2 de março, no Grupo de Acesso I, terá como tema: “Krenak – O Presente Ancestral”, ou seja, falará sobre as lutas de Ailton Krenak, líder indígena e membro da Academia Brasileira de Letras. A Mocidade Unida da Mooca, conhecida como MUM, está no Grupo de Acesso I desde 2019 e sonha com a ascensão para o Grupo Especial pela primeira vez na sua história. Em três ocasiões ficou na quarta colocação, o mais perto que ficou do acesso.

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Fotos: Fábio MArtins/CARNAVALESCO

Pois em relação a escolha do enredo surgiu em conversa com a comentarista do Grupo Globo, Ana Thaís Matos, esposa do atual presidente da Mocidade Unida da Mooca, Rafael Falanga. O carnavalesco estreante na escola, Renan Ribeiro, contou um pouco sobre esse processo de escolha.

“Krenak, o presente ancestral, que é o enredo que a Mooca vai levar para o Carnaval de 2025. Esse foi um enredo sugerido pela Ana Thaís Matos, a esposa do Rafael (presidente da MUM). A gente estava em uma conversa no Rio de Janeiro, e ela tinha acabado de ler o livro do Ailton Krenak. E estávamos falando de enredos e tal, e aí a conversa surgiu, não para ser um enredo, ela sugeriu como leitura para mim o livro. E aí eu li o livro, e aí surgiu a ideia para poder fazer um enredo sobre isso, que a Mooca não tinha essa identidade com enredos indígenas. A Mooca vinha em uma linha de enredos africanos, ou qualquer coisa ligada à religião de matriz africana, e a Mooca nunca tinha feito, nos 37 anos delas, um enredo de temática indígena. E aí a gente pensou na possibilidade, comecei a fazer a pesquisa, e saiu o enredo”.

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O carnavalesco da Mocidade Unida da Mooca contou os detalhes do enredo em homenagem ao líder indígena, Ailton Krenak.

“Ailton Krenak, ele me surpreendeu, a partir da primeira coisa que eu vi dele, não me lembro se foi na rede social, na internet, enfim, que foi a frase que ele usou na posse dele na Academia Brasileira de Letras, que ele falava que eu sou o primeiro brasileiro a integrar a Academia Brasileira de Letras que fala uma língua brasileira. E isso explodiu a minha cabeça, porque vem carregado atrás dessa frase, desse discurso, uma carga política muito grande no discurso. Porque a Academia Brasileira de Letras é a Academia Brasileira de Letras com uma língua portuguesa, ou seja, uma língua colonizadora. Então, ele é o primeiro imortal da Academia a falar uma língua originalmente do nosso país, depois de 126 anos de existência da Academia Brasileira de Letras. E isso aí fez a minha cabeça explodir. Fez eu pensar que por trás do Ailton Krenak, para além dele, o que é muito mais potente do que ele, é o discurso dele. E aí, o enredo começou a ser construído não para ser um enredo biográfico, porque não tinha muito sentido ser um enredo biográfico, visto que a vida do próprio Ailton Krenak, foi doada para a causa. E aí a causa se torna o enredo, o discurso dele se torna o enredo”.

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E prosseguiu contando sobre o enredo e a ideia que quer passar no carnaval de 2025: “E aí, baseado na obra dele e em textos dele, eu comecei a construir um enredo que conta a história de 525 anos de genocídio indígena no país. De uma invasão, em 1500, que se torna a desconstrução de um país que já existia. O nosso território, que se chamava Pindorama, era um território já construído socialmente, já tinham sociedades segmentadas, já definidas as etnias indígenas, as formações familiares, as construções sociais do país já existiam dentro da cultura indígena, dentro da construção social indígena. E aí, o colonizador europeu chega impondo sua cultura, como já cantaram algumas vezes, só que muitas vezes essa ótica foi falada pelo olhar do colonizador. Resolvemos escutar a voz do indígena, poder ver como ele enxergou isso. E aí a gente conta sobre isso a ele”.

Ligação indígena com o bairro da Mooca e com o Anhembi

Com o primeiro enredo indígena da história da MUM, Renan Ribeiro buscou referência e encontrou justamente no tradicional bairro da Mooca, localizado na Zona Leste de São Paulo.

“A partir disso, eu tinha necessidade de buscar qual era a ligação que esse enredo teria com a escola, visto que a escola nunca teve uma temática indígena. E uma das minhas preocupações que eu tenho sempre com as escolas em que eu trabalho é com que a escola se veja e respeitar muita identidade da escola. E a Mooca vem construindo nos últimos anos uma identidade muito forte, muito clara, uma linha de raciocínio muito clara, e eu não podia ignorar isso. Olhando para a escola, já trancada no meu escritório, na minha casa, fechada, pensando como construir isso, eu vejo a Mooca sendo construída em cima de dois pilares principais em questão de discurso narrativo. Um é, os enredos de cunho africano, de religião de matriz africana, ligação com orixás, com religiões, com espiritualidade africana. E uma outra vertente que é um discurso muito ácido. Sempre um enredo que provoca muita reflexão, que propõe muita coisa, que apresenta personagens. É sempre um enredo muito propositivo, no sentido histórico e tal. E aí, para eu ignorar uma parte disso, que era essa vertente africana, eu precisava que a outra parte ficasse muito evidente. Então, o discurso do Ailton, que vai de encontro à linha de discurso da escola, se torna algo muito potente, um enredo para a escola continuar se enxergando daquele jeito, para a comunidade continuar se enxergando, fazendo parte daquilo. E aí eu construo essa narrativa”.

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O nome do bairro foi um das principais referências, mas outras foram descobertas e estão contadas no enredo. Assim como o Anhembi, nome que também tem ligação importante e é palco dos desfiles das escolas de samba.

“A primeira pesquisa que eu fiz para tentar fazer um link direto entre a escola e a cultura indígena, foi do próprio nome da escola, do bairro, da Mooca, que é o nome indígena. Então, Mooca é uma tradução de Moo que é fazer, e Oca é casas. E aí eu descobri que a Mooca foi construída em cima de uma aldeia tupi-guarani. E onde existia também a aldeia, tinha um rio, que era um afluente do tamanho do Tamanduateí. E aí, pesquisando os Krenaks, eu descobri que os Krenaks moram em torno de um rio, vivem em torno de um rio, que é o rio Doce, que é o rio que foi contaminado lá pela Vale do Rio Doce, no estouro da barragem de Mariana e tal. E aí, olhando o mapa topográfico, já na minha loucura mesmo de pesquisa, pesquisando coisa que não tinha nada a ver, eu descobri que Anhembi era o nome original do rio Tietê. Era o primeiro nome do rio Tietê, naquele pedaço onde fica o Sambódromo do Anhembi. Então, tinha um monte de rio aparecendo na minha história, e aí, dentro da minha loucura, eu começo a entender que isso não pode ser acaso, porque era muita água aparecendo na história que não podia ser ignorada”.

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Setores da escola

Primeiro setor
“A gente começa o nosso desfile, primeiro propondo, em cima de uma frase do Ailton Krenak, que diz que toda cidade é construída em cima de um cemitério indígena, a gente propõe desenterrar esses guaranis que estavam no território da Mooca. Então, já começo com uma reposição territorial, reposicionando os guaranis no território dele e dando para a Mooca essa patente, ou essa fala, ou esse lugar de território indígena, devolvendo ao bairro esse lugar de território indígena, para que, a partir disso, a escola comece a contar a história desses 525 anos de luta indígena”.

“E o rio é esse caminho. É pelo rio, dentro, e aí usando uma construção já fabulística, ou lírica e surrealista, que, normalmente, as construções narrativas indígenas usam, que fica muito evidente lá no Festival de Parintins, que é tudo meio surrealista, as histórias acontecem em um ambiente meio fabuloso. Eu uso essa mesma linguagem indígena para poder construir a narração, a narrativa, do início do desfile, nesse ambiente fabuloso, de surrealismo, que é onde o rio da Mooca encontra, no Anhembi, o rio doce, que os krenaks chamam de Watu. Então, eu levanto o povo tupi, desenterro os guaranis, os tupi guaranis, desenterro o rio da Mooca, levo em direção ao Ayambi, que é o lugar onde a gente desfila, e lá acontece essa profusão de água, esse encontro desses rios, e, a partir do encontro desses rios, a gente começa a escutar a história dos krenaks e a história dos povos indígenas, nesses 525 anos, isso estou no abre-alas ainda. Essa história inteira é a frente da história”.

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Segundo setor
“E, a partir disso, eu começo, numa linha temporal do hoje, para trás, anti-horário, eu começo a entrar dentro da história do Brasil, a partir da contaminação do rio doce, e vou até o período de colonização. Contando toda essa destruição, todo esse rastro de morte que foi espalhado pelo colonizador branco, europeu, de como isso foi destruindo tudo onde eles passavam. Essa boca insaciável, como o Ailton Krenak diz, essa fome insaciável do colonizador, essa boca insaciável, ia engolindo tudo que vinha pela frente. Até chegar no meio do desfile, onde a gente está, já no período de invasão do país. Eu uso uma outra frase do Krenak, quando ele vai se encontrar com o professor Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, na década de 1980. Darcy Ribeiro era secretário de Cultura do Brizola. Na antessala do gabinete do Darcy Ribeiro, tinha um mapa na parede onde apareciam os indígenas extintos e os Krenaks apareciam como extintos”.

“Quando o Krenak se apresenta para o professor Darcy Ribeiro, e o professor Darcy Ribeiro pergunta quem era ele, ele dizia que era um fantasma, porque ele tinha acabado de descobrir que ele tinha sido extinto. Eu uso essa figura fantasmagórica e cadavérica que ele mesmo faz essa ligação para poder falar desses povos extintos. E aí eu trago, segundo o carro, já no meio do desfile, já indo lá no início da colonização, todas essas 1.472 nações indígenas. Obviamente que o carro não tem todas, mas as maiores, ou as que a gente conseguiu referência, porque teve uma dificuldade na pesquisa muito grande de achar referência plástica dessas nações, porque se perderam os grafismos, se perderam os cânticos, as imagens não têm, as histórias não têm, os nomes às vezes não se têm. Então a gente cita alguns daqueles que conseguimos ter acesso e qualquer tipo de referência plástica que conseguimos traduzir isso nas esculturas do carro. Então temos caririzos, os potiguares, os tamoios, os guaianazes, que são hoje coisas que conhecemos como nome de rodovia, nome de bairro, mas eram nações, eram aldeias indígenas, e eles foram extintos. E acabou, não tem, não existe mais, não tem mais nenhum para contar a história. E isso aparece no segundo carro. O segundo carro tem esse aspecto meio fantasmagórico, meio fúnebre até”.

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“E algumas pessoas que veem no Barracão, eu achei engraçado que eles olhavam o carro e falavam que esse carro não é bonito. Mas é isso aí, é a função do carro. A história não foi bonita. O que aconteceu não foi legal. Então, porque o carro plasticamente não é atrativo.

Terceiro setor
“E depois a gente, do meio para o final do desfile, começamos a falar mais especificamente sobre a luta daqui no Brasil, já na presença do Ailton Krenak, a partir da Constituinte, quando ele faz a carta para os povos indígenas e começa a construir uma luta indígena já com alicerçados na Constituição, na lei. Um marco temporal e toda essa construção social, uma reconstrução social dos povos indígenas em direção às garantias deles como cidadão brasileiro. E aí, no final do desfile, a gente chega à figura do Ailton Krenak, já na última alegoria, como imortal, diferente da imortalidade daqueles outros povos indígenas que foram imortalizados com pólvora, com assassinato, com violência, com estupro, com queimada, como ainda continua-se fazendo até hoje. Ele se imortalizou com discurso, com a palavra, com livros, com sabedoria. E aí a imortalidade dele chega no último carro buscando isso e fazendo um contraponto de uma reflexão em cima de tudo que foi dito no enredo, de olhar para esse mundo, de olhar para essa relação do indígena com a terra, com o planeta, com o país, e olhar para o mundo usando um conceito chamado conceito de florestania, que é do Chico Mendes, que o Ailton Krenak usa muito, que é esse olhar para o futuro a partir dessa consciência do homem da floresta, que eles chamam de conceito da florestania e não de cidadania, que cidadania seria o conceito do homem da cidade e a florestania do homem da floresta, de olhar para esse futuro possível a partir dessa ancestralidade indígena. Então a gente só vai alcançar esse futuro, só vamos chegar nesse lugar seguro, de forma segura, de forma consciente, a partir que nos entendermos como parte do todo, como parte do planeta. E aí conseguimos se encaixar e chegar, e pisar no futuro de forma segura. E aí olhamos para frente com esse olhar de homem da floresta, que ele traz nos livros dele, na biografia dele”.

Uma nova MUM visualmente?

Em relação a parte plástica, cores e a estrutura das alegorias, Renan Ribeiro que estreia na agremiação mooquense, fará mudanças no visual que a escola vinha apresentando nos últimos e colocará a sua cara no desfile como explicou.

“Muito colorida. O que muita gente que tem entrado no barracão percebe é que a Mooca está muito mais colorida que nos últimos carnavais. E não tinha como ser diferente porque a gente está falando de Brasil. Então toda essa brasilidade, esse tropicalismo todo que temos na nossa identidade do Brasil, isso tudo está muito aparente no desfile da Mooca. O começo do desfile é mais monocromático, o começo escuro vai clareando, mas no abre alas já é bem clara. E alegorias mais limpas, mais objetivas, grandes ainda, que é uma característica da escola, mas limpas, com muito mais cor. Acho que a principal diferença que existe entre os últimos carnavais e esse da Mooca é uma leveza estética, um colorido, e nas fantasias também muita leveza, nas fantasias mais leves, mais limpas, que aí já é mais do meu gosto mesmo. E muita referência estética indígena muito bem pesquisada. Todos os desenhos que estão no carro, a gente teve muito cuidado de usar grafismos reais, nada foi inventado, nada foi criado. Então são grafismos pertencentes realmente a etnias que citamos, a preocupação de não espalhar cocar pela escola inteira, porque a gente sabe da relação do cocar com o povo indígena, e a gente aprendeu isso”.

Em relação a estrutura das alegorias, reforçou: “Cara, em tamanho, o Abre-alas é gigante, porque a Mooca sempre é uma identidade da escola, é uma das alegorias muito grandes. Com a exceção do Abre-alas, os outros carros não são tão grandes assim, o carro 2 é pequeno até, para o padrão da escola é pequeno, mas é do jeito que eu gosto, eu prefiro carro pequeno, eu gosto de carro pequeno, e era uma das quedas de braço que eu tinha que negociar com a escola aqui, era o tamanho das alegorias, mas chegamos em um acordo bem legal. O último carro é um pouco maior também, isso aqui é mais vazado, é uma leitura diferente, um pouco mais moderna”.

Um dos grandes momentos é no último carro da agremiação, onde Ailton Krenak e familiares estarão presentes, grande aposta do carnavalesco. Inclusive, mostrou a alegoria, escultura, com muito orgulho de onde ficará o nome homenageado pela escola.

“Acredito que a presença do Ailton Krenak, que é o professor, filósofo, escritor imortal da Academia Brasileira, um dos ativistas mais importantes do mundo hoje, presente no nosso desfile, junto com a família inteira Krenak, com o povo da aldeia Krenak que vai participar do nosso desfile. Fora eles, ainda, outros indígenas que são daqui de São Paulo, das aldeias Guaranis daqui de São Paulo, do Museu de Cultura Indígena daqui de São Paulo, da direção do museu que vai participar, também trazendo outros tantos indígenas de nações diferentes, distintas. Eu acho que isso tudo traz para o desfile, corrobora com o desfile em um discurso afirmativo, de posicionamento claro de que lado da trincheira que a gente está. E eu acho que ele vai mostrar para mim, num conjunto com samba, com desfile, com o que a gente viu nos últimos ensaios técnicos, e transformar isso com a plástica, vai haver uma moca muito potente, muito potente, muito pronta, muito madura, muito diferente esteticamente dos últimos anos”.

Renan destaca carro 2 como diferencial do desfile

Questionamos o carnavalesco sobre a parte que mais lhe agrada, e é justamente o choque que está pretendendo protagonizar no segundo setor da escola com um carro ‘diferente’.

“A parte que eu mais gosto, eu acho que os três carros são muito diferentes, esteticamente são muito distintos. O carro abre-alas é mais alegórico mesmo, o carro 2 é mais cenográfico, ele tem mais cara de cenário, tanto que ele é projetado para acontecer um teatro em cima dele, então ele tem essa cara de cenário mesmo, tem um palco gigante no carro 2, então ele é projetado para essa cena, e o carro 3 é mais carnavalesco, mais espelho, placa, então são leituras muito diferentes um do outro. O carro que eu mais gosto é o 2, o abre-alas é lindo, é grande, é bonito, bem acabado, mas o 2 eu acho que é um carro, a mensagem dele é mais forte, ele sintetiza o enredo, ele sintetiza a motivação do enredo, ele tem uma potência muito grande, tanto visual, que causa um certo incômodo, mas principalmente a mensagem dele, eu acho que é muito forte, eu acho que ele está no meio do desfile, justamente com essa virada de chave, ele justifica o enredo”.

Como citamos no texto, Renan Ribeiro chegou na Mooca após os carnavais no Camisa Verde e Branco, mas relembrou que teve uma passagem anterior na escola, mas ainda nos tempos de UESP, ou seja, é estreante no período de Liga.

“Foi um dos carnavais mais tranquilos da vida, e aí o Rafael (presidente) cumpriu a promessa, porque ele tinha me prometido isso, e quando eu fui contratado, ele falou, vai ser um dos caras mais tranquilos da sua vida e foi. Obviamente, vai chegar na reta final, tem um acúmulo de coisas, não é mal, toda escola de samba é isso, tem um acúmulo de coisas que vai aparecendo no final, e você cansa e tal, mas eu estou muito satisfeito, é uma escola que me surpreendeu muito. Me deu muito bem com a escola, com os componentes da escola, a Mooca é uma escola muito receptiva, é uma escola muito calorosos, me receberam muito bem, parece que eu estou na Mooca já há 200 anos, embora já tive outras passagens pela escola, muita gente eu já conhecia, a maior parte é novo ainda para mim, porque a escola multiplicou muito nos últimos anos, mas me deu muito bem, cara, me deu muito bem com o Rafael, com a família dele, com o Diego, que é diretor de Barracão, a gente ficou um time de amigo, para a gente construir o trabalho, a minha relação com a escola é de extremo carinho, afeto, de amizade, não tem nada que tenha uma ressalva sobre a escola. Tudo que foi me proposto foi entregue, de estrutura, de condição de trabalho, de investimento, as alegorias todas saíram, às fantasias saíram no máximo que a escola consegue fazer dentro das possibilidades dela, dentro do que a gente tem hoje, porque fora a questão de investimento de matéria-prima, tem investimento de mão-de-obra, que é a maior dificuldade, maior do que matéria-prima e mão-de-obra, tudo o que a gente podia fazer, a Mooca foi no limite da capacidade de produção”.

‘O Brasil foi construído de uma forma errada’

No espaço livre para falar sobre o projeto, Renan Ribeiro decidiu comentar o que quer levar para o público no carnaval da Mocidade Unida da Mooca, em relação ao povo indígena e suas referências.

“Uma coisa assim, que eu acho que eu queria muito que as pessoas prestassem muita atenção nesse enredo. Estamos contando uma história que nas últimas conversas que a gente teve aqui, até no Barracão, com os representantes dos povos indígenas, era uma preocupação muito grande minha, muito grande, é que o enredo ficasse caricato, ficasse com um olhar de colonizador ainda, e não tivesse essa visão desconstruída da história que está sendo contada. Na semana passada, tivemos uma reunião aqui com os representantes do Museu de Culturas Indígenas e representantes de etnias diferentes aqui para escutar a história que estava sendo contada. Todos eles escutaram com um silêncio absoluto a história e no final estavam completamente emocionados e perguntaram para mim como é que eu ia explicar isso para as pessoas que iam assistir. E eu falei das ferramentas que a gente tem, do próprio samba, as mídias, a escola, o enredo, a pasta de jurados que vai para os jurados. Eu perguntei por que ele estava preocupado com isso. Ele falou assim, porque ninguém nunca contou a nossa história desse jeito e eles precisam entender do jeito que você está falando. Isso para mim deixou muito, obviamente feliz com o resultado, que isso é resultado de pesquisa, é resultado de você, lá atrás, começar uma pesquisa muito profunda para você realmente ter a ótica certa da história, você ter esse reconhecimento dos próprios povos indígenas e de etnias diferentes, de lugares diferentes, de pessoas diferentes, esse entendimento, a emoção do próprio Ailton Krenak quando a gente expliquei o enredo para ele e ele no final da explicação falou assim, está perfeito, é isso que eu penso. Então você conseguir traduzir o pensamento dele para os povos indígenas, isso me deixou muito aliviado também no final, de saber que a gente alcançou o enredo, chegou onde tinha que chegar. Eu acho que podia falar para prestar muita atenção no enredo, na mensagem que está sendo dita, na história que está sendo contada e principalmente do jeito que está sendo contada. Que muitas vezes não é bonito, muitas vezes não é legal, mas porque o Brasil foi construído de uma forma errada”.

E complementou falando sobre a importância de mudar pensamentos, culturas, que estão escritas desconexas da realidade na história do Brasil.

“O Brasil foi construído de uma forma violenta, foi construído de uma forma anti social, de uma forma agressiva, de um país saqueado, destruído e reconstruído com uma ótica que não nos pertencia. E essa ideia, esse pensamento é o viés do enredo. Eu acho que olhar para esse enredo com essa ideia é entender que a gente pode muito dar certo como país a partir do momento que nos entendermos como um povo de um país indígena, originalmente indígena.O enredo caminha por esse viés. Eu acho que esse é o ponto de atenção que eu acho que você tivesse que ter feito o trabalho inteiro”.

Ficha técnica
Enredo: “Krenak – O Presente Ancestral”
Alegorias: 3 carros
Componentes: 1200
Alas: 12
Diretor de barracão: Diego Falanga

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