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Série Barracões: União da Ilha acredita na força do enredo e do trabalho plástico para subir ao Grupo Especial

Escola leva à avenida a história da bailarina Marietta Baderna, que viveu no século XIX e lutou em prol do povo brasileiro

O CARNAVALESCO entrevistou o artista da União da Ilha do Governador Marcus Ferreira. O bate-papo ocorreu no barracão da escola, no Caju, Zona Norte do Rio de Janeiro, e se debruçou sobre a escolha e desenvolvimento do enredo, o trabalho plástico de 2025, as dificuldades da Série Ouro e as expectativas para o desfile oficial, que ocorrerá em 28 de fevereiro (sexta-feira). Em 2025, a Ilha aposta no enredo “Ba-der-na! Maria do Povo”, sobre a bailarina italiana Marietta Baderna que viveu durante o século XIX e foi contratada pelo governo imperial brasileiro para dançar para a elite carioca.

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Fotos: Gabriel Radicetti/CARNAVALESCO

“Quando ela chegou, ela já se revoltou com as atitudes do governo imperial da época para com o povo carioca, com os restantes dos indígenas tamoios, com a escravidão que ainda era latente. Aquilo chocou um pouco ela. Quando o governo começou a destratar a companhia lírica italiana, os músicos, os bailarinos e toda a equipe artística que vinha dançar para a burguesia, os salários começaram a atrasar e os artistas passaram fome, ela se rebelou como uma estrela que era e se aliou de definitivamente ao povo. A partir disso, ela liderou várias lutas artísticas, raciais e sociais. Ela foi uma uma grande personalidade do Rio de Janeiro, mas um pouco apagada”, disse Marcus.

A escolha do enredo, no entanto, não foi fácil. A homenagem à Marietta Baderna foi a sétima proposta levada por Marcus à direção da escola, que logo se identificou com a artista.

“Durante a pandemia, eu estava na Viradouro e vi um vídeo do Fantástico, Mulheres Extraordinárias, de 30 segundos, sobre a Marietta. Ali eu já pensei: ‘Nossa, que história linda’. Ficou guardado como ideia. Foram-se 2 anos na Viradouro, depois 2 anos na Mocidade. As escolas para onde a gente vai têm assinatura própria.. Casou muito de encontro com aquilo que o insulano gosta, desses carnavais divertidos e de histórias lúdicas, viagens extraordinárias que a Ilha já fez. Foi com certeza uma escolha acertada. Hoje eu vejo que, dos sete, foi o desejo que eles querem e a gente faz Carnaval para as escolas por onde a gente passa”, explicou Marcus.

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Uma vez decidido o tema do desfile, a equipe de criação partiu para a complicada pesquisa. É que só existem dois livros que abordam a vida da artista, dos quais o mais recente é “Baderna” (2023), de Paula Giannini, tetraneta de Marietta. Paula colaborou com Marcus no desenvolvimento histórico e defesa do enredo para 2025.

“Descobri, durante a pesquisa, que, quando desembarcou no Rio de Janeiro, Baderna olhou para a Baía de Guanabara e achou que estava numa ilha encantada. As duas cores que chamaram a atenção dela foram o azul e o vermelho. Eu falei ‘pô, nada é por acaso’”, revelou Marcus.

Associada pelo governo e pela elite à mobilização popular, o sobrenome de Marietta entrou para a história brasileira como sinônimo de confusão e balbúrdia. Um dos objetivos do desfile, segundo o carnavalesco, é desmistificar essa questão, jogando luz sobre a contribuição social e potência da bailarina que adotou o Brasil e o povo brasileiro. Para isso, a Ilha investiu no trabalho plástico.

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“Esse resgate que eu fiz historicamente com a Paula Giannini é uma memória do Rio de Janeiro. É uma viagem também ao Rio de Janeiro passado, que a gente não teve muita menção do que foi plasticamente. Eu estou explorando muito os figurinos de uma forma teatral, com materiais não convencionais. Eu aposto muito na subversão ao retratar a elite de maneira suja, esfarrapada e esse povo que foi marginalizado sendo colocado como a nossa verdadeira elite, como tem que ser. Esse duelo visual vai ficar bem evidente na plástica. E o colorido da Ilha. A Ilha gosta de se colorir de cores bem vibrantes. A gente vai apostar muito no cítrico, em tonalidades que conversam tanto com o vermelho e o azul da escola. Os rosas, os laranjas, os verdes. O verde cítrico permeia um pouquinho da abertura junto com a azul da escola, para dar uma acendida no olhar. É o bom, bonito e barato da Ilha”, adiantou Marcus.

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Já nas alegorias, o carnavalesco garantiu um bom acabamento: “Na Série Ouro, diante das limitações financeiras, quem está bem acabado, quem está bem proporcionado, tira 10”.

Formado em arquitetura e desenho industrial, Marcus Ferreira foi convidado, em 2003, por Márcia Lage, então no Salgueiro, para colorir figurinos da escola mirim. Nunca mais parou. Após uma passagem como carnavalesco pela Intendente, em 2009, com a Mocidade de Vicente de Carvalho, recebeu sua primeira grande oportunidade de direção artística de uma escola com a Estácio de Sá, em 2011. Em 2017, conquistou o título da divisão de acesso pelo Império Serrano e, em 2020, venceu o Grupo Especial com a Viradouro. Na época, Marcus trabalhava em conjunto com o Tarcísio Zanon.

“Eu passei pela Intendente, depois eu tive 9 anos na Série Ouro. Cheguei ao Especial e agora tô na Ilha, pela Série Ouro novamente. Já são 16 carnavais assinados. É uma trajetória um pouco extensa, mas de muito aprendizado sempre. A cada ano a gente aprende um pouco”, resumiu Marcus.

Com vasta experiência, o artista comentou sobre as particularidades da Série Ouro, conhecida pelas limitações financeiras que exigem criatividade para serem contornadas.

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“Fazer Série Ouro é ver essas dificuldades que são enfrentadas, estruturais principalmente. A gente faz um espetáculo um pouco menor em comparação ao Especial, em termos de setorização, mas o financeiro é muito abaixo. O exercício da criatividade é muito maior. Essa minha trajetória de ter feito muitas escolas de base me deu resiliência, aptidão para poder fazer um espetáculo legal. O desafio no Especial é acertar artisticamente; já na Série Ouro é pensar em enredos legais e na construção de um carnaval que seja possível, que seja finalizado”, expressou.

Marcus também citou o desafio de trabalhar com o atraso na subvenção pública, que foi liberada em 2025, em suas palavras, muito tardiamente. Apesar disso, ele prometeu aos insulanos um belo espetáculo.

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“A Ilha está se esforçando para fazer um espetáculo grande, mostrar uma escola grandiosa. Quando eu fui campeão pelo Império, outra grande escola que infelizmente sofreu essa tragédia, foi na garra, na falta de recursos, mas foi com um carnaval grande. A gente tem pensado o carnaval da Ilha no conjunto, em defender os quesitos. A escola vai defender todos os quesitos: a plástica acertada, uma boa colorimetria, tantas ideias finalizadas com toda dignidade, a iluminação acertada, casal muito bem ensaiado, comissão que tem surpresinha, mas que a gente não pode falar. O ensaio técnico foi um espetáculo, a escola passou muito bem, com um samba de muita valentia”, afirmou.

Questionado sobre a pressão pelo título e pela ascensão ao Grupo Especial, Marcus Ferreira não titubeou.

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“Toda escola grande tem que pensar grande. A ilha tem entregado excelentes carnavais no grupo. O nosso pensamento é subir, ganhar. Eu quero voltar para o Especial, eu quero voltar com a Ilha. É uma grande história, uma escola que sempre honrou a sua história, inclusive no Grupo Especial. O pensamento é fazer um grande carnaval. Se formos os melhores, que a gente vença, com justiça”, finalizou o carnavalesco.

Entenda o desfile

Em 2025, a União da Ilha vem com três alegorias e um elemento cênico, na comissão de frente. O abre-alas vem com um avancé, acoplado de seis por seis permitido pelo regulamento. São cerca de 2.000 componentes, divididos em quatro setores. Marcus os destrincha a seguir.

Setor 1: “Esse primeiro setor é a Ilha Encantada, que é justamente essa chegada dela ao Rio de Janeiro. É uma visão nativista do Rio de Janeiro. Da Mata Atlântica, da Guanabara. É uma visão mais operística mesmo. A Ilha inverte papéis ao colocar o povo como os verdadeiros reis, a verdadeira elite da época. O Principado Carioca são os pretos, são os tamoios. É uma releitura do povo Carioca. É essa visão que ela teve logo de início de se espantar com as feições desse povo das ruas, do povo preto, do povo indígena. O desfile começa com essa abertura mais do Rio de Janeiro, da ópera nativa do Rio de Janeiro, que ela encontrou no cais”.

Setor 2: “O segundo setor se chama febre dançante. A gente coloca a burguesia como os verdadeiros errados sociais da época. A gente chama de ralé da época, porque enquanto a febre amarela assombrou o Rio de Janeiro, o povo se recolheu e a elite estava fazendo bailes imperiais clandestinos, desrespeitando as normas de epidemia da época. É um setor bem criativo, de farrapos e materiais criativos e alternativos para mostrar essa ralé, que não era os escravizados da época. Era a elite branca que escandalizou o Rio de Janeiro durante um período em que o Rio, os cariocas precisavam se resguardar socialmente”.

Setor 3: “O terceiro setor se chama Marcha das Prateadas, que é quando Marietta lidera a primeira greve brasileira, a favor desses artistas que estavam necessitados, passando por problemas financeiros por conta do agravamento salarial, feito por Dom Pedro. Eles recebem um convite para ir para Recife, para estrear o Teatro Santa Isabel, nas margens do Rio Capibaribe. Lá, os ares libertários do fim da escravidão já estavam muito latentes. Ela dança o lundu no Teatro de Santa Isabel, para a elite pernambucana, e foi um sucesso. Daí, Dom Pedro convida a companhia lírica italiana a voltar para o Rio de Janeiro e nessa volta, o principal teatro da época imperial, que era o Teatro São Pedro de Alcântara, que hoje no lugar dele é o Teatro João Caetano, pega fogo misteriosamente. As óperas caem em declínio. A Marieta lidera uma última ópera, que ela não dançou, com as artistas bailarinas da época, a favor da libertação de um jovem preto, de uma criança negra, que foi um sucesso. Ela deixa esse ideal libertário no Teatro Provisório, que foi o teatro que sucedeu o Teatro São Pedro de Alcântara”.

Setor 4: “Marieta entra em depressão e se isola ao fim da vida, por ter sido muito difamada na época pelo governo imperial. Por justamente ter liderado a luta do povo da época, o final de vida dela não é muito feliz, mas ela deixa esse legado de revolução, de liberdade pelas ruas, liberdade pelo povo. O sobrenome Baderna é entoado pelas ruas cariocas pelos jovens revolucionários da época, que proclamam a República Badernista. ‘Baderna’ é batido nas ruas como forma de protesto pelo fato dela ter desaparecido do cenário social da época. Ali começa verdadeiramente a revolução da Baderna e o ideal que ela deixou para a cidade. A liberdade já tinha sido obrigada a ser assinada. Ela deixa esse legado ao final do desfile. É um grande carnaval que foi feito nas ruas do Rio. Essas pessoas reclamaram ‘Baderna’ para a eternidade, até os dias de hoje”.

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