Faltam poucos dias para os desfiles oficiais das escolas de samba na Sapucaí, as expectativas em torno da Viradouro só aumentam. A atual campeã do carnaval carioca se prepara para buscar o bicampeonato apostando no enredo “Malunguinho, o Mensageiro de Três Mundos”, que celebra a força cultural afro-indígena e a luta por liberdade. Nos últimos anos, a escola de Niterói ganhou fama por elevar o patamar de excelência na avenida, se tornando uma forte adversária para as escolas do Grupo Especial e se consagrando com o título em 2024.
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O CARNAVALESCO conversou com alguns componentes da Vermelha e Branca para saber como eles estão lidando com a pressão para superar o desfile campeão. Nas palavras do Mestre Ciça, comandante da bateria Furacão Vermelho e Branco, a Viradouro “elevou o sarrafo lá em cima” no quesito competição, mas ele deixa o ego de lado e encara isso como uma forma de aprimorar seu trabalho, com muita humildade.
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“Temos a consciência do nosso alto padrão de qualidade, mas temos que ter pé no chão. As outras escolas também estão vindo fortíssimas, e assim nossa responsabilidade só aumenta. Sabemos que fizemos um bom carnaval ano passado, mas em todo carnaval se ganha e se perde. Vamos ensaiar muito e cumprir as exigências da escola, porque aqui é desse jeito, o que a gente combina, o que a gente faz. É muita dedicação. Mas me considero uma pessoa abençoada, porque a Viradouro tem um samba espetacular esse ano, que ajuda muito a bateria. Viremos com um ritmo forte, sem correria, com batidas
precisas, e com letras que interagem com o público. ‘O rei da mata que mata quem mata o Brasil’ vai ser um boom na avenida. Faremos um grande desfile da bateria”.
Tarcisio Zanon, carnavalesco responsável por desenvolver o enredo, acredita no poder do processo criativo interno para fazer uma boa apresentação, sem comparações com outras escolas ou desfiles passados.
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“Estamos trabalhando duro e estamos muito confiantes. Tem até um termo que aprendemos com o nosso enredo, que se chama a miração, que significa olhar para dentro de si mesmo. É o que a gente faz. Todo ano olhamos para dentro e tentamos melhorar nossas técnicas, até porque, cada ano é uma página em branco. Temos feito um trabalho em equipe, com união e troca, buscando dar mais conforto aos componentes para facilitar o processo de construção das alegorias e fantasias, e isso tem feito toda a diferença no resultado final. Sem contar que temos um projeto que fala de uma entidade, um universo muito mais masculino, que tem tudo a ver com esse momento da Viradouro, de se posicionar em realidades. Estamos trazendo um grande líder quilombola que enfrentou um sistema. E a Viradouro não está vindo para comemorar apenas um título, ela está vindo para fazer a diferença e para lutar por esse bicampeonato. Espero que esse ano consigamos contemplar o público com um grande carnaval”.
A porta-bandeira Rute Alves enxerga todo desfile como uma oportunidade para trazer novidades: “A cada ano buscamos fazer um trabalho mais rebuscado, visando agradar os jurados, incluindo os novos, mas sem perder a nossa essência”. Enquanto isso, para seu parceiro de dança, o mestre-sala Julinho Nascimento disse: “Cada ano é um ano, e independentemente do resultado, sempre buscamos superar o anterior. Por mais que 2024 tenha sido um ano de êxito, e que tenhamos conseguido entregar a nota que a escola precisava, agora o frio na barriga e as responsabilidades são novos”.
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Rute faz questão de citar uma frase usada pelo diretor de carnaval da escola, Alex Fab, que diz “Aos campeões, o desconforto!”, para ressaltar a importância de sempre dar o seu melhor na disputa pelo título, pois, segundo o casal, a partir do momento que se faz a curva na entrada da avenida, todas as agremiações estão competindo igualmente.
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Falando nele, Alex comenta sua relação com a cobrança pela perfeição. “Trabalhamos para sempre entregar um projeto bem feito, sem pensar em níveis de superação. Procuramos nos manter entre as melhores para, no final, termos a sensação de dever cumprido. Tudo o que nos propomos a fazer envolve muito respeito e verdade. Nesse ano nosso carnaval vem grande, com energia e carregado de sentimentos, respeitando a história da religiosidade. Mas quem vai definir qual desfile foi melhor que o outro é o público e seu gosto pessoal”.
O ex-presidente e atual diretor executivo, Marcelinho Calil, afirma que o motivo de sua escola vir forte esse ano é não se apoiar na ideia de favoritismo para montar o desfile. Ele ainda reforça ser contra a fala que diz que “a Viradouro não comete erros”.
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“Nunca vou concordar com isso, porque se eu concordasse, seria uma soberba enorme. Jamais. A escola trabalha muito, vem corrigindo tudo, se aprimorando sempre. Favoritismo é algo que vem 100% externamente para cá, internamente nem falamos esse tipo de coisa. Não falamos nem em ganhar carnaval no dia a dia, muito menos em ser favorito. Mas, aceito essa cobrança, sem hipocrisia nenhuma. É importante para uma escola que busca títulos, ser pressionada, afinal, isso é do jogo. E a Viradouro vem forte novamente, podem confiar, mas não precisamos superar 2024. Nosso papel é reescrever uma nova página e tentar ser novamente a melhor do ano, e não necessariamente ser melhor que
nós fomos no ano anterior. São enredos diferentes, com histórias diferentes. Já temos a missão de competir com outras escolas, não precisamos adicionar o peso de tentar ganhar do nosso próprio desfile”.
Já Wander Pires, intérprete da escola pelo terceiro ano consecutivo, encara o favoritismo como algo positivo.
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“Para nós, esse pensamento do público é maravilhoso. Usamos isso como forma de incentivo para melhorar o nosso trabalho e conseguir atender às expectativas da nossa comunidade, da nossa escola, e do público que nos acompanha. E dá resultado, pois sinceramente, eu trabalhei em várias escolas, mas até me assustei com o quanto a Viradouro é perfeccionista. Faremos um desfile grandioso”, afirma o cantor, que é muito amado pela comunidade.