Por Lucas Santos (Colaboraram Allan Duffes, Luan Costa, Freddy Ferreira, Guibsom Romão, Matheus Morais, Marcos Marinho, Marielli Patrocínio, Rhyan de Meira, Carolina Freitas e Raphael Lacerda)
A Portela voltou a pisar na Sapucaí em dessa vez trouxe para si todos os holofotes ao levar para o templo sagrado da cultura brasileira, uma figura icônica da musica nacional. Merecidamente aclamado quando anunciado, Milton Nascimento, que será reverenciado no desfile, deu um show de respeito ao carnaval carioca participando de um de seus eventos mais populares: o ensaio técnico. E, com lugar de destaque, fazendo parte da comissão de frente comandada por Leo Senna e Kelly Siqueira. Um momento de grande emoção. Em retribuição ao carinho, a comunidade portelense cantou com muito afinco, assim como já tem feito em seus ensaios de rua em Madureira, mas ainda mais emocionada, em uma noite que também contou com mais uma grande desempenho de Gilsinho e do carro de som, ajudando a moldar o samba da Portela para ser competitivo no dia oficial. A escola também apresentou uma evolução fluída e muito brincante. Noite muito positiva para o portelense.
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Em 2025, a Portela encerra os desfiles do Grupo Especial, já na madrugada da quarta-feira de cinzas com o enredo “Cantar será Buscar o Caminho Que Dar No Sol – Uma Homenagem a Milton Nascimento”, desencontro pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga.
Comissão de frente
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A grande surpresa da noite, o homenageado esteve presente e fez parte da comissão coreografada por Léo Senna e Kelly Siqueira. Milton Nascimento, veio vestido com um bonito terno Azul, sentadinho em uma espécie de trono ladeado pelo sol na parte de trás do acento e com alguns girassols. Na apresentação, dançarinos com chapéus de palha e uma bonita vestimenta, com maquiagem dourada inclusive, ladeavam o artista como prestando uma referência. Na parte final, mais surpresas, algumas faixas saíam do pequeno tripé com canções dele Milton, depois essas faixas viravam e formavam um enorme sol em conjunto com o tripé redondo e a bandeira da Portela era erguida acima do artista.
Mestre-sala e Porta-Bandeira
Marlon e Squel mostraram chamaram atenção pela elegância. Ele, com um terno claro, mais puxado para o prateado com sapato azul. Já, ela, um vestindo que fazia referência ao pavilhão da Portela em azul e branco. Na dança, mais uma vez, a preferência por um bailado mais tradicional, mas com algumas pitadas interessantes que deram um tempero.
Marlon em alguns momentos apresentou uns passos que lembravam mais a dança da gafieira, riscando o chão com intensidade,mas com muita classe. Squel apostou nos rodopios e já para o final apresentou uma tradicional bandeirada. O casal também soube usar muito bem a roupa, o mestre-sala fazia movimentos segurando o paletó com muita classe, enquanto os giros porta-bandeira produziam um bonito efeito no vestido bicolor. Outro ponto muito positivo foi a dupla se buscar o tempo todo como um casal apaixonado, com momentos de muita ternura durante a apresentação. A intensidade do casal esteve boa e o sincronismo também.
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“Eu acho que a coreografia sempre pode melhorar. O importante é chegar a 100% no dia do desfile. Se atingirmos 100% hoje, talvez, no desfile, já tenhamos ultrapassado aquela linha tênue entre algo muito bom e uma coreografia marcada demais, que perde a sensibilidade. Mas hoje foi maravilhoso, foi incrível, foi emocionante. Acho que a Portela é isso. A Portela fala muito mais com o lado emotivo do que com a técnica. A gente canta com o coração, a gente evolui com o coração. Eu risco com o coração nos pés. Então, acho que foi um ensaio maravilhoso, contagiante. Eu e a Squel, a Squel e eu… Nossa proposta é essa: uma dança tradicional, uma dança de olhar, uma dança de sentimentos, em que o coração pulsa no mesmo ritmo. E cumprimos essa proposta desde o primeiro ensaio, e agora reforçamos ainda mais”, disse o mestre-sala.
“Sempre podemos melhorar. Estamos ensaiando para isso, em busca de apresentar o nosso melhor. Graças a Deus, tivemos um ensaio sem intercorrências. Apresentamos uma coreografia muito pensada, muito elaborada, muito discutida e estudada com base nas justificativas. Estamos trabalhando duro para que nosso trabalho seja reconhecido e respeitado por todos. Acho que o nosso recado é esse: trabalho, trabalho, trabalho. Trabalho incansável”, completou a porta-bandeira.
Harmonia
O canto dos componentes apesar da hora já avançada e o tempo de concentração mais uma vez foi muito potente. O portelense, mais uma vez, cantou forte, com intensidade e correção, de forma homogênea na escola, inclusive alas coreografadas e alguns outros segmentos como velha guarda e a própria comissão de frente. No carro de som, Gilsinho mostrou porque tem tantos anos de Portela, além da qualidade como intérprete, mostrou que conhece muito bem a comunidade, é sua voz potente se sobressaiu indo bem afinada e firme até o final, com os apoios fazendo um trabalho muito bom também para sustentar o canto. Harmonia, novamente, foi grande destaque de um treino da Portela e promete ser importantíssima no grande dia, até para puxar outros quesitos como o smaba-enredo.
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Samba-enredo
A Portela apostou em uma obra que se encaixou a um estilo mais cadenciado da Tabajara do Samba. Não é uma obra para correria realmente. Com a comunidade está em consonância, já que os componentes mantiveram o bom nível de canto. A dúvida fica apenas para o momento de ter que fechar o carnaval e por não ser uma obra tão explosiva, e sim mais melodiosa. A melodia, aliás, é de fácil assimilação e tem alguns pontos que faz referência a músicas do Milton, como no refrão do meio sobre o Trem Azul. Destaque para “quem acredita na vida” o bis dentro da segunda parte e o refrão principal que é um momento de maior animação. No geral, a obra rendei acima das expectativas.
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“Até onde eu vi, eu achei excelente. A escola está cantando muito, depois do segundo recuo a gente vê o resto da escola passar. A escola estava cantando muito, sorrindo muito. Eu gostei demais. Com o som na Sapucaí inteira a gente não tem medo de errar, a gente sabe que a gente vai ouvir, que a escola inteira vai ouvir, então a gente não precisa poupar nada. Hoje o Nilo fez várias boças aí que não tinha feito no primeiro ensaio por falta de som. Mas hoje foi tranquilo, hoje foi fácil”, citou o intérprete Gilsinho.
Evolução
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A Portela apostou em poucas alas coreografadas, dando maior ênfase à espontaneidade dos componentes. Apostou em uma evolução também mais cadenciada, ponto positivo de não ter apresentado nem correria e nem alas emboladas. Além disso, também não houve grandes espaçamentos que pudessem se configurar no risco de abrir buraco. Evolução bastante livre, com várias alas com algum tipo de adereço de mão já treinando para o grande dia.
Bateria e Outros destaques
O homenageado, Milton Nascimento, foi aclamado quando anunciado pelo presidente Fábio Pavão. Como elemento alegórico abrindo a escola, no tripé, não podia ser diferente, a Águia que faziam barulho e tudo. Em uma bonita homenagem a outras escolas, em um dos setores, as bandeiras das coirmãs Império Serrano, Unidos da Ponte e Unidos da Bangu foram tremuladas mostrando solidariedade da Portelas pelas agremiações que perderam fantasias em um incêndio na semana passada. De dourado, as baianas chamaram a atenção pela elegância. E quem também chamou muita atenção, toda brilhosa, foi a rainha Bianco Monteiro mostrando o já costumeiro samba no pé.
Uma bateria “Tabajara do Samba” da Portela com sua afinação tradicional, com peso característico, deixando evidente o bom balanço das terceiras. Repiques coesos se uniram a um bom naipe de caixas de guerra, com a genuína batida rufada. Na cabeça da bateria portelense, uma ala de chocalhos ressonante se destacou. Cuícas consistentes, agogôs corretos e um naipe de tamborins eficiente auxiliaram no preenchimento da sonoridade das peças leves. Bossas pautadas pelas variações melódicas do samba-enredo da Águia e baseadas na pressão sonora dos surdos foram bem executadas pela pista. Grande trabalho das caixas e dos surdos de terceira nos arranjos propostos. Uma bateria “Tabajara” da Portela que não vê a hora de fechar a inédita terceira noite de desfiles, em busca de uma grande passagem.
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“Nosso ensaio foi bom. Todo mundo tava meio apreensivo com esse som, para ver como ia se comportar, mas foi bom. Com os ajustezinhos que tem para semana que vem, acredito que a bateria vai ficar bem. Não são grandes ajustes. A bateria se comportou bem pelo andamento as boças, tudo direitinho. É só pedir mais atenção, toda vez que vai chegando o carnaval e a bateria passa bem, o componente relaxa. E não pode relaxar, é até o final. Eu vou chamar a galera, vou falar que estou cobrando porque foram bons, mas têm que ser melhor, e nunca fica de sapato alto. Sempre tem que melhorar mais um pouco”, comentou mestre Nilo Sérgio.