Por Luan Costa (Colaboraram Allan Duffes, Lucas Santos, Freddy Ferreira, Guibsom Romão, Matheus Morais, Marcos Marinho, Marielli Patrocínio, Rhyan de Meira, Carolina Freitas e Raphael Lacerda)
A Beija-Flor de Nilópolis realizou seu último ensaio técnico antes do desfile oficial e transformou a Marquês de Sapucaí no verdadeiro “terreiro de Laíla”, como diz a letra do samba. O famoso rolo compressor nilopolitano, tão marcante em outros tempos e recentemente adormecido, mostrou que está de volta, e com ainda mais potência.
A comunidade azul e branca foi o grande destaque da noite, com um desempenho avassalador do início ao fim, unindo técnica e emoção em perfeita sintonia. A harmonia musical da escola também se mostrou impecável, mesmo sem a presença de Neguinho da Beija-Flor à frente do carro de som. Já a bateria soberana de mestres Plínio e Rodney, mais uma vez, deu um show à parte, empolgando o público presente.
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Além disso, todos os quesitos se mostraram sólidos e tiveram seus momentos de destaque. O ensaio deixou claro: a Beija-Flor está mais viva do que nunca na briga pelo campeonato.
A agremiação da Baixada será a segunda escola a se apresentar no dia 03 de março e levará para a avenida o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”, do carnavalesco João Vitor Araújo, que pretende eternizar o legado do mestre Laíla.
O diretor de carnaval, Marquinho Marino, falou ao CARNAVALESCO e fez suas considerações sobre o ensaio.
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“A equipe toda – a equipe de harmonia, a equipe de carnaval, os diretores – enfim, toda a parte de organização, o pessoal do barracão, a administração, todo mundo tem feito um trabalho de muito apoio, um ajudando o outro, um abraçando o outro, um dando a mão pro outro. A gente chegou à conclusão de que, com a comunidade que temos, com os segmentos que temos, só falta estarmos unidos o tempo inteiro para fazer um bom trabalho. A equipe do barracão está fazendo um trabalho espetacular na montagem dos carros, na decoração, com amor, com esmero. A equipe de administração da escola não está medindo esforços para nos ajudar e dar todo o suporte que precisamos. Hoje chegamos ao ponto que queríamos. Ainda não no ápice, porque o ápice tem que ser no desfile, mas no ponto ideal para desfilar. E, principalmente, chegar aqui hoje e dizer que nossa escola está pronta é um orgulho para nós. Barracão pronto, fantasias prontas. Amanhã entregamos as fantasias, segunda-feira continuamos e terminamos na terça. Os carros já estão embalados. Quero dar os parabéns ao presidente por todo o apoio que ele nos dá, à administração, ao patrono… E dizer que estou muito feliz. Acho que a palavra certa não sou eu estar feliz, mas sim: a escola está feliz”, pontuou Marino.
Comissão de Frente
Pelo terceiro ano consecutivo, os coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon estão à frente da comissão de frente. Neste ensaio a apresentação manteve a mesma concepção e coreografia já exibidas no mini-desfile, nos ensaios de rua na Mirandela e no primeiro teste na Sapucaí. A grande diferença desta vez foi o uso da iluminação cênica da avenida, que trouxe ainda mais dramaticidade aos atos.
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Formado exclusivamente por homens, o grupo se apresentou com figurinos que remetem a sacos de lixo e os corpos pintados de branco, criando uma estética impactante. No centro da performance, o destaque foi o bailarino que representou Exu, atravessando a avenida sobre pernas de pau com impressionante desenvoltura e agilidade.
O grande diferencial da apresentação ficou por conta do figurino inusitado e da presença imponente de Exu, que garantiu um impacto visual marcante e reforçou a proposta cênica da comissão de frente, já consolidada como um dos pontos altos do desfile da Beija-Flor.
Mestre-sala e Porta-Bandeira
Claudinho e Selminha Sorriso atravessaram a avenida com a habitual elegância e o carisma que os consagram ano após ano, atraindo todos os olhares do público. Vestidos predominantemente de branco, o casal apostou em uma coreografia clássica, sua marca registrada, com poucos passos fortemente marcados e giros executados com extrema precisão.
A experiência de Selminha foi fundamental para contornar os fortes ventos na altura da primeira cabine de jurados, demonstrando total controle e segurança. No geral, foi mais uma apresentação boa da dupla, reforçando o entrosamento e a excelência que fazem deles uma referência no segmento.
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Após o ensaio, ainda bem inteiros, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da Beija-Flor, Claudinho e Selminha Sorriso, analisaram o ensaio e explicaram a emoção de mais uma vez pisar na Sapucaí em um enredo tão emocionante.
“É o sentimento de mais um ensaio técnico entregue. No primeiro a gente corrigiu algumas coisas pra colocar em prática hoje. Tudo funcionou. A gente sabe que tem duas emoções diferentes neste desfile. Uma é a emoção irreparável que é a homenagem ao nosso mestre que tanto nos ensinou não só para o casal, mas para toda a Beija-Flor, para o mundo do samba, para o maior espetáculo da terra a céu aberto do mundo, que é o nosso que querido Laíla. A gente sabia que a cada momento de ensaio técnico ou se o desfile fosse hoje, é certeza, mais uma vez, eu falaria que o nosso trabalho está pronto”, avalia o mestre-sala.
“A gente ama o que faz, a gente se cobra muito, é preciso melhorar, mas o saldo foi muito positivo para nós dois, a reação do público também foi maravilhosa e agora é esperar chegar o grande dia. Hoje foi uma prévia do que nós vamos apresentar no dia, tenho certeza que a escola passou hoje lindamente, está faltando só detalhes, alegorias e fantasias, para que nós possamos brigar por esse título em homenagem ao nosso grande mestre Laíla, e a Beija-Flor, nosso embaixador, nosso ídolo, nosso grande amor. Então é como lá atrás ele dizia, treino é jogo. A Beija-Flor foi bem aqui nos ensaios técnicos, que bom que tem dois. Agente está aqui para aperfeiçoar cadavez mais, e o público tem a oportunidade de estar aqui, talvez alguns não tenham condições, é um respeito a todos os presentes que também estão em casa nos assistindo, fizemos o nosso melhor por nós e por todos vocês”, finaliza a porta-bandeira.
Harmonia e Samba
O famoso rolo compressor nilopolitano esteve presente na Sapucaí. Adormecido em anos anteriores, ele parece ter voltado com ainda mais potência nesta temporada, resultado de um trabalho consistente do carro de som, que, neste ensaio, teve Nino do Milênio e Leozinho Nunes como figuras centrais na ausência de Neguinho da Beija-Flor. O entrosamento entre os intérpretes e a bateria soberana de mestres Plínio e Rodney foi evidente, criando uma sintonia que potencializou ainda mais o canto da escola.
Os ritmistas realizaram diversas paradinhas ao longo da avenida, incluindo um grande paradão que destacou a força do canto. Todas as alas atravessaram a Sapucaí com o samba na ponta da língua, mas mais do que isso: cantaram com garra e extrema empolgação. O ápice ficou por conta dos versos que antecedem o refrão principal e, claro, do refrão marcante: “Da casa de Ogum, Xangô me guia, Da casa de Ogum, Xangô me guia, Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor, Terreiro de Laíla, meu griô”.
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“Hoje foi maravilhoso, graças a Deus. O trabalho que a gente vem fazendo no carro do som foi impecável, mesmo com a ausência do nosso maior nosso mestre, o Neguinho. Mas a felicidade está a mil hoje, eu também me realizei passando com a Beija-Flor, que é a escola do meu coração, que eu tenho uma história ali, através do Laíla, então é felicidade dupla. Representando o Neguinho e o podendo homenagear de alguma forma o mestre Laíla. E passar com o som pela Sapucaí inteira foi maravilhoso, porque a gente consegue ter uma noção melhor de como vai ser o samba no dia e hoje, graças a Deus, deu tudo certo. Agora é só chegar o nosso mestre maior que o nosso chão está prontinho para ele”, disse o intérprete Nino do Milênio.
Evolução
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A evolução da Beija-Flor foi digna de manual: limpa, coesa, fluida e sem atropelos. Apesar do grande volume de componentes, a escola se manteve compacta do início ao fim, demonstrando um equilíbrio perfeito entre organização e empolgação. Cada integrante cumpriu seu papel com precisão, garantindo não apenas a técnica esperada para um desfile desse nível, mas também a emoção indispensável que torna a apresentação ainda mais marcante. O entrosamento entre os segmentos foi evidente principalmente nas alas coreografadas, que mais uma vez tiveram destaque.
Bateria e Outros Destaques
Uma bateria “Soberana” da Beija-Flor de Nilópolis com uma parte de trás do ritmo muito bem afinada, equalizada e com bom trabalho dos surdos de terceira. Caixas consistentes e repiques coesos auxiliaram nos médios. As icônicas frigideiras da Deusa da Passarela deram valor sonoro com seu tilintar metálico ressoando. Na cabeça da bateria, cuícas sólidas ajudaram na musicalidade da parte da frente do ritmo. Um trabalho de imenso destaque do naipe de chocalhos, interligado a uma ala de tamborins que mostrou eficiência e boa coletividade, dando brilho às peças leves. Uma criação musical intuitiva nas bossas levou em conta as nuances melódicas do samba nilopolitano para consolidar seu ritmo. Louvável a integração musical dos arranjos com a obra da Beija. Atabaques e um agogô de duas campanas também mostraram categoria na bossa do estribilho, num toque inserido no tema da agremiação. Uma bateria “Soberana” da Beija devidamente preparada para brigar pela pontuação máxima no Carnaval.
O ensaio também foi marcado por momentos especiais, como a presença de Serginho Aguiar representando Laíla. Ele desfilou à frente da escola e foi calorosamente saudado pelo público nas frisas. No encerramento, a Beija-Flor apresentou um tripé com uma imagem que reunia personagens históricos da agremiação, reforçando a conexão com sua trajetória e suas grandes personalidades.
“A gente, cada dia se supera e vai culminar no dia do desfile melhor ainda, se possível. Eles estão de parabéns, o samba é emocionante. Não tenho nem palavras… Emoção, agradecimento, total gratidão a minha bateria, a minha escola por tudo. Agora é só desfilar. Tem um efeito, emoção muito mais forte com fantasia. A gente vai fazer um grande desfile para brigar pelo título do carnaval”, garantiu mestre Rodney.
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