Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins
Só de estar na pista, a Primeira da Cidade Líder pode se considerar vitoriosa. O incêndio no barracão, no mês de dezembro, fez a escola perder todo o carnaval e ter que recomeçar do zero. E conseguiram. Fizeram um belo desfile e foram avaliados. Sequer cogitaram pedir para ficar de fora do concurso.
A ‘Primeira’ fez um grande desfile, mas pecou na evolução, o que pode ocasionar décimos perdidos. A escola ficou um tempo parada no recuo, demorou para andar e tomou muito tempo, ocasionando outros fatos. A largada do samba também foi feita já com o cronômetro em andamento, o que tomou alguns minutos. Porém a homenagem foi bem feita, a presença de Pai Tinho e Oxóssi foram contadas do início ao fim de maneiras diferentes.
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A Primeira da Cidade Líder levou para a avenida o enredo “Ajodun Odé, Em Seus 40 Anos de Axé, Pai Tinho Celebra Oxóssi”, cruzando a passarela com 49 minutos.
Comissão de frente
Tendo como nome, “Encontro de ancestralidades – Sou filho de uma flecha só”, a comissão de frente comandada por Jonathan Paulino, fez uma coreografia onde haviam personagens como ancestrais indígenas e africanos. A parte central da dança ficava com os bailarinos simbolizando Oxóssi, Ogum, Exu e Ekedi. Dentro disso, havia um Iaô, que simbolizava o homenageado Pai Tinho. Ali, se iniciava um ritual de incorporação com o orixá Oxóssi para o Pai Tinho. Um teatro muito claro e de fácil entendimento, bem como a identificação dos personagens.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Fabiano e Sandra executou um desempenho correto na avenida. Eles optaram por realizar movimentos sincronizados ao invés das coreografias. Sendo assim, a porta-bandeira segurou bem o pavilhão e o mestre-sala cumpriu todos os requisitos. Desfile seguro e sem correr riscos. Com a estratégia de ajudar na evolução.
A fantasia da dupla tem o significado de “Oxóssi vence o grande pássaro, salve o herdeiro de Orunmilá”
Enredo
Assinado pelos carnavalescos Ewerton Vissoto e Cristiano Oliveira, o enredo “Ajodun Odé, Em Seus 40 Anos de Axé, Pai Tinho Celebra Oxóssi”, foi desenvolvido na avenida de forma satisfatória. A leitura foi bastante simples, a comissão de frente retrata muito bem a história de Pai Tinho com Oxóssi, tendo ele no desfile todo – Comissão de frente, tripé da serpente e segunda alegoria.
Alegorias
O abre-alas, denominado “Odé, Comorodé, Rei de Ketu ele é!”, faz uma alusão ao verso do samba-enredo que cita essa frase. Nele, havia traços bem afros, cores de palha, marrom e a atração principal do desfile: Escultura da fênix, que virou o novo pavilhão da escola em 2025. Após a tragédia no barracão, virou sinônimo de força.
O segundo carro, que tem como nome “Àjòdún Odé nas matas do Brasil e no meu terreiro: 40 anos de axé”, é um carro com verde predominante em homenagem às matas de Oxóssi. Por isso também havia esculturas de animais para mostrar essa ligação do orixá que rege Pai Tinho com a mata.
Fantasias
Vestimentas marcadas pelo acabamento em bom estado marcou o quesito. As fantasias da Líder foram estratégicas – A escola optou por costeiros e adereços menores. Provavelmente para deixar o componente mais solto ou visualmente melhor na ótica interna, mas o fato é que a agremiação cumpriu o quesito de maneira correta.
Harmonia
Apesar do pouco contingente, se viu uma escola cantando forte o samba sem parar. Esses poucos componentes da comunidade da Zona Leste estão bem ensaios e mostraram no Anhembi. A parte mais cantada pelos componentes foi o refrão principal, que talvez seja a única parte da letra que a melodia atravessa significativamente.
Samba-enredo
Apesar de ser uma homenagem a um sacerdote brasileiro, o samba, obviamente tem uma pegada afro. Tanto em letra como em melodia. O intérprete Thiago Melodia soube conduzir a sua ala musical de forma correta. Vale destacar a longa introdução cantada para Oxóssi, mas que empolgou os componentes.
Evolução
Foi a situação complicada do desfile. No momento da entrada da bateria no recuo, a escola parou para realizar a manobra. Esse fato tomou um grande tempo no cronômetro da Líder, que estava executando o quesito corretamente até então. Para não correr riscos, o cálculo foi para acelerar os passos, causando variação de velocidade. Essa aceleração também prejudicou a bateria, que não conseguiu realizar bossa para a terceira cabine. Isso deve ser feito no objetivo de cumprir os compassos necessários, mas não deu.
Outros destaques
A bateria, vestida de “Exu, o irmão que abre os caminhos!”. Comandados por mestre Ale, a “Batucada de Primeira” mostrou um ótimo desempenho na avenida, dando destaque para a marcação dentro do samba. Porém, devido à aceleração da escola em dado momento, mestre Ale não conseguiu colocar as bossas para os jurados em prática. Isso foi nítido no terceiro módulo.