Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins
A Imperador do Ipiranga desfilou no último sábado pelo Grupo de Acesso 2 do carnaval de São Paulo de 2025. Com um conjunto de quesitos eficiente, o chamariz foi a comissão de frente que contou com intrigante truque de mágica para atrair os olhares do público para a passagem da escola, encerrada após 48 minutos. A agremiação da Vila Carioca foi a sétima a passar e se apresentou com o enredo “Abrakadabra”, assinado pelo carnavalesco Anselmo Brito.
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Comissão de Frente
Coreografada por Diego Costa, a comissão de frente da Imperador foi intitulada “Poder e sedução” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba e faz uso de um elemento cenográfico. A proposta do quesito é intrigante ao propor um conflito ocorrendo na cidade de Heliópolis, no Egito, de mesmo nome da comunidade onde a escola se localiza em São Paulo. A coreografia começa com um faraó e uma princesa, que é uma criança, com o restante do elenco formado por guardas egípcios e dançarinas do ventre, que na verdade são as vilãs dessa história por usarem da sedução para descobrirem os mistérios. No segundo ato, as mulheres saem e dão lugar a múmias que surgem seguidas de um mágico. Soldados do faraó surgem para resgatar a princesa, que sobe com o mágico para o tripé e realizam um truque de mágica. A menina entra em uma estrutura de caixas que se fecham e se dividem em três. As caixas voltam a ser empilhadas e a menina sai delas inteira.
É uma coreografia que faz uma boa narrativa da abertura do desfile, mas o truque de mágica é a grande atração. É ousado fazer uma atuação que envolve detalhamento, mas a própria estratégia envolveu dar tempo para que ela ocorresse sem sustos. O quesito atraiu a atenção do público e contribuiu para a boa apresentação geral da escola.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da Imperador, formado por Alex Malbec e Naiomy Pires, se apresentou representando “Ísis e Osíris – Segredos na areia do deserto”. A dupla teve um bom desempenho nos módulos em que foram observados, cumprindo as obrigatoriedades com capricho e elegância. A atuação segura do casal permite à escola sonhar com as desejadas notas dez do quesito.
Enredo
O enredo da Imperador faz uso de uma narrativa lúdica para contar a história do ilusionismo desde seus primeiros registros no antigo Egito. A maneira como a mágica foi tratada pela Europa Medieval e como ela sobreviveu à Santa Inquisição se faz presente, mostrando também como o conceito chegou aos artistas que se tornaram os mágicos, que proporcionam grandes espetáculos dos tempos modernos inspirados pelo pioneiro Harry Houdini, até a atualidade dos grandes espetáculos. A trajetória da magia da Heliópolis egípcia até a Heliópolis brasileira conta com passagens curiosas, como o uso de “truques” pelo cinema principalmente em tempos mais rudimentares.
É um enredo cuja leitura na Avenida foi fácil. A boa distribuição das alas e das alegorias permitiu que a história da magia fosse bem contada mesmo com as limitações que o Grupo de Acesso 2 impõe. A escola pode se orgulhar do trabalho feito de apresentar sua proposta para o público.
Alegorias
A Imperador se apresentou com um conjunto de duas alegorias. O carro Abre-alas tinha o nome de “O mago e os limites do saber”, enquanto a segunda alegoria da escola foi batizada de “Grande espetáculo”. Além de bem-acabados, os dois carros alegóricos se encaixaram no desfile de modo a contribuir com a narrativa no momento exato. O Abre-alas ilustra o período medieval de forma lúdica e joga para as alas seguintes o conteúdo bem desenvolvido. O segundo carro conclui com o espetáculo dos mágicos, que são os artistas que perpetuaram este estilo único de entretenimento. Conjunto eficiente do jeito que tem que ser.
Fantasias
As fantasias das alas da Imperador procuraram retratar a narrativa do enredo de modo a valorizar especialmente o período pós-medieval do enredo. Apenas o primeiro agrupamento, a ala das baianas, esteve encaixado no segundo ato que representou a Idade Média. A maioria das fantasias focou em mostrar como o ilusionismo evoluiu desde as revelações da bola de cristal dos ciganos até o surgimento do artista que conhecemos como mágicos, destacando ícones com Harry Houdini e o polêmico Mister M. Também procuraram mostrar como a magia se faz presente na vida das pessoas através do cinema e do teatro.
As vestimentas estavam bem-acabadas e permitiram uma fácil leitura, se encaixando adequadamente no enredo. Outro quesito seguro para a Imperador do Ipiranga no desfile.
Harmonia
A comunidade da Vila Carioca clamou o samba com vigor e desenvoltura ao longo de todo o desfile. O canto da comunidade estava nítido na expressão dos componentes e contribuiu positivamente, valendo destacar a animação da ala que representou os ciganos. Não foram notadas oscilações entre os segmentos durante o desfile, fazendo do quesito mais um destaque positivo.
Samba-enredo
A obra que conduziu o desfile da Imperador é assinada pelos compositores Cosme Araújo, Marquinhos Beija-Flor, João Vidal, Thiago Daniel, Thiago Tarlher, Claúdio Vagareza, Giuliano Paim, Sid Miranda e Chu Santos, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Rodrigo Atração. É uma música que consegue narrar a história do enredo com clareza e ao mesmo tempo ser de fácil captação da parte da comunidade. A atuação da ala musical foi destaque e contribuiu para que o samba tivesse sucesso no desfile da escola.
Evolução
O andamento do desfile da Imperador do Ipiranga foi tranquilo por toda a Avenida. Não foram notados espaçamentos excessivos entre segmentos, e o recuo da bateria foi bem-executado. Os componentes estavam soltos nas alas, mas sem comprometer a compactação entre cada uma delas. Um bom desempenho da escola a nível técnico.
Outros destaques
A bateria “Só Quem É” teve bom desempenho, executando as bossas previstas pelo regulamento de forma adequada, mas a corte da bateria foi um show à parte. A Rainha Jéssica Bueno caracterizada como uma mágica e Roberto Theodoro, caracterizado de coelho, do clássico truque da cartola, levantaram o público por toda a passagem pelo Anhembi.