Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins
A Pérola Negra teve o objetivo de impactar mesmo estando no Acesso 2. Geralmente as escolas apostam em carros reduzidos pelo tempo menor que o grupo tem, mas a Vila Madalena fez o seu abre-alas com uma grandiosidade que pegou todos de surpresa. A promessa da agremiação era de surpreender, mas não a ponto de fugir completamente do ‘roteiro’ do Acesso 2 e levar um abre-alas padrão Grupo Especial. Além disso, muitas informações e esculturas realistas foram usadas nas duas alegorias. O quesito, além da comissão de frente de fácil leitura e o carro de som foram os destaques do desfile.
A ‘Joia Rara’ foi a quinta escola a desfilar com o enredo “Exu Mulher” – assinado pelo carnavalesco Rodrigo Meiners.
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Comissão de frente
A ala, que é coreografada por Alê Batista, tem como dois personagens principais: Exu e Exu Mulher. Os outros bailarinos carregam a narrativa das entidades dos orixás: Olodumarê, Ewá, Ogum, Xangô, Iemanja, Iansã, Oxum, Nanã, Omulú, Oxalá, Oxóssi e Oxumaré.
A ideia da dança era simples, mas bem criativa. O Exu feminino e o masculino ficavam interagindo a maioria do tempo entre eles próprios durante toda a coreografia. Os outros bailarinos, que representavam os orixás, realizavam uma espécie de xirê e faziam uma comissão de frente bem colorida. A ideia era retratar a figura de Exu, principalmente a figura da mulher, como diz o enredo e, assim, fazê-la como uma entidade do bem, sem demonização.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Kadu e Camila, foi para a pista representando “A Chama da Intolerância”. Foi uma grande surpresa neste desfile oficial, pois a porta-bandeira chegou em janeiro neste ciclo carnavalesco. Eles já tinham entrosamento de carnavais anteriores, mas mesmo assim, com tudo em cima, tudo muda. Sobretudo, Camila foi destaque. Dentro do desempenho, a dupla optou por fazer os movimentos obrigatórios. Um desfile seguro. Houve a coreografia dentro do samba, mas foi algo bem discreto. Se destacou pelos giros e sincronia dos movimentos.
Enredo
“Exu Mulher”, desenvolvido pelo carnavalesco Rodrigo Meiners, teve uma ótima apresentação na pista. É um enredo afro, mas que em duas alegorias e uma comissão de frente deu para entender a mensagem perfeitamente, principalmente o quesito que abre a escola – A ideia de colocar os dois Exus no xirê junto com os demais orixás, já passou a sensação de que a escola queria eliminar essa narrativa de demonização que existe sobre a entidade.
Vale destacar as homenagens feita para mulheres na segunda alegoria. Um enredo feminino em uma escola que é governada por mulheres foi uma ideia bem justa colocada em prática.
Alegorias
O abre-alas, que representava a “Demonização de Exu e da cultura africana”, levou para a avenida esculturas grandes, realistas e de cores quentes. Realmente era um belo carro, com uma grandeza de comprimento e largura. Para formar este tamanho, a escola apostou em um acoplamento. Haviam figuras de demônios na frente da alegoria e uma escultura no topo.
O segundo carro, simbolizando o “Terreiro Pérola Negra – Saudação Exu Mulher”, também levou duas esculturas negras realistas – Essas ainda mais detalhadas (maquiagem branca). Outra observação importante é a homenagem às mulheres: Sambista Glorinha, presidente Sheila Mônaco, a escritora Cláudia Alexandre, que é autora do livro Exu Mulher, inspiração do enredo da agremiação. Ponto impSrtantíssimo para o conjunto visual.
Fantasias
A escola optou por utilizar fantasias volumosas em todas as suas alas, com adereços de cabeça ‘pesados’, mas isso não impediu a evolução satisfatória dos componentes, preenchendo os espaços corretamente na pista. As vestimentas usadas foram bastante coloridas.
Harmonia
Um samba-enredo que a comunidade e o povo do samba abraçaram. A resposta do Anhembi foi uma prova. É uma obra musical afro, mas não há muitas palavras oriundas do continente. Por isso, a comunidade pegou fácil e é uma das obras mais queridas do carnaval paulistano, se confirmando na avenida. Os últimos versos para embalar o refrão de cabeça foram as partes mais cantadas pelos desfilantes da Vila Madalena.
Samba-enredo
Irretocável foi o desempenho da dupla Bruno Ribas e Lucas Donato. O experiente intérprete apadrinhou o jovem, que está estreando como intérprete oficial em uma escola de samba em São Paulo. Ambos mostraram que ensaiaram muito neste ciclo de carnaval e foram destaque da Pérola Negra no desfile. A aposta da presidente Sheila em Donato surtiu muito efeito – Ele fazia os cacos, Bruno respondia e vice-versa. O desempenho do ensaio técnico se repetiu e os dois conduziram a ala musical com maestria. Ambos foram os grandes destaques da Pérola Negra no desfile oficial.
Evolução
É bem verdade que não foi uma dança solta, mas esteve de acordo para os preenchimentos de espaço. Não há coreografia dentro do samba, apenas movimentos nos refrões principal e do meio.
Outros destaques
A bateria “Swing da Mada”, regida pelo estreante no carnaval como mestre oficial, Sombrinha, desfilou representando os “Iniciados no candomblé”. O desempenho foi de sucesso, se destacando principalmente pelo andamento dado para o samba. Uma nova característica de bateria chegou na Pérola Negra.