Por Guibsom Romão e fotos de Allan Duffes (Colaboaram Gabriel Radicetti, Raphael Lacerda, Luiz Augusto, Matheus Morais, Matheus Vinícius e Rhyan de Meira)
Com um carro de som impecável, uma comissão de frente impactante e uma harmonia bem trabalhada, a Portela fez bonito em seu ensaio técnico na Sapucaí. Sob a regência de Gilsinho, o canto forte da comunidade embalou a avenida, enquanto a coreografia e os elementos visuais reforçaram a força do enredo sobre Milton Nascimento. A centenária de Oswaldo Cruz e Madureira mostrou coesão na evolução e reforçou sua candidatura ao título de 2025, fechando a noite com a energia característica de quem sabe a grandiosidade que carrega.
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Sendo a segunda escola a ensaiar na noite de sábado, a Portela vem com o enredo ‘Cantar Será Buscar o Caminho que Vai dar no Sol’, desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga. A expectativa é de um desfile emocionante na terça-feira de Carnaval.
“A Portela é uma oração. Se eu falasse que a gente veio cantar samba hoje também estaria certo, mas eu prefiro dizer que a gente veio orar. Sabe por quê? Por causa do manto azul, por causa da águia, por causa do Milton Nascimento e porque todos os portelenses hoje não fizeram um ensaio, se alguém disser que a gente fez ensaio aqui estará errado. Os portelenses vieram orar, vieram celebrar a passagem da sua escola. Claro que a técnica é importante, ela é crucial, vital, mas se diante de tudo você não conseguir se emocionar pra emocionar, ser feliz para rir felicidade, vai fazer outra coisa. A Portela veio fazer carnaval, e carnaval é isso, felicidade multiplica felicidade”, analisou Junior Schall, diretor de carnaval.
Comissão de Frente
Sob as coordenações dos coreógrafos Leo Senna e Kelly Siqueira, os componentes da comissão se apresentaram com uma roupa em tons de azuis e detalhes dourados, transmitindo a sofisticação e grandeza do homenageado. A coreografia, executada com precisão diante das quatro cabines de jurados, foi cuidadosamente planejada para representar a trajetória de Milton Nascimento. Alguns guarda-chuvas foram utilizados durante a apresentação, os guarda-chuvas de cor azul simbolizavam a ditadura militar que o Brasil sofreu e eram substituídos por guarda-chuvas com girassóis desenhados, remetendo a vinda de melhores tempos.
No fim da apresentação e seu ponto alto, a mesma cadeira utilizada anteriormente por Milton Nascimento nos eventos da escola, entra no meio da apresentação e a placa que a cantora Esperanza Spalding, com quem Milton concorria ao Grammy, usou para demarcar a ausência de Milton na plateia da premiação, é colocada em cima da cadeira e uma faixa com a palavra “Respeito” é aberta a cima da cadeira. Esse ato foi uma manifestação da escola a respeito do desrespeito que a premiação teve com o seu homenageado, que teve um lugar na plateia principal da premiação negado.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Marlon Lamar e Squel Jorgea entraram muito bem para se apresentarem nas cabines de julgadores. Apresentando a coreografia oficial, o casal deixou transparecer o encantamento mútuo entre eles, em alguns momentos eles se assemelhavam a um casal apaixonado. Foi uma coreografia muito delicada. Mesmo com o vento forte tentando atrapalhar a condução da bandeira nos primeiros módulos, Squel demonstrou de maneira firme o domínio sob seu mastro e tirou de letra. Foi perceptível um levíssimo descompasso que o casal apresentou no que se refere ao ritmo de bailado individual. Além desse leve descompasso, é notável que o casal, mesmo em grande forma, ainda tem potencial para voar mais alto. Uma execução de coreografia mais aguerrida, com explosões e o ritmo levemente acelerado, é capaz de fazer o casal brilhar muito mais do que já brilha.
“Saiu tudo como o ensaiado, como o programado. Quando chegamos aqui olhei pro Marlon e perguntei se queria bater a coreografia, olhar o video, ele só falou pra gente entrar na avenida e fazer o que a gente sabe, então fomos. Agora é curtir esse bom ensaio, bater a coreografia, dia 22 estaremos aqui de volta, é trabalhar, trabalhar e trabalhar até o desfile oficial que a gente não para nessa reta final”, citou Squel.
“A gente está muito confiante, chegamos aqui, nos olhamos e ‘bora? vamos’, quando a coreografia tá no corpo, óbvio que vamos assistir o vídeo da apresentação de hoje e sempre tem algo pra corrigir, mas serve pra melhorar a coreografia, não para mudar a coreografia, ela já está na gente. E estamos muito felizes, sabemos que será um desfile emocionante aos moldes da Portela, como a escola mostrou aqui, brilha Milton Nascimento”, completou Marlon.
Harmonia e Samba
Gilsinho e seu carro de som foram pontos altos do ensaio. Porém, quanto mais longe a ala estava do carro de som e da bateria, o seu canto aparecia um pouco mais cadenciado, não baixo, mas num ritmo mais para baixo. Ao contrário das alas próximas do intérprete ou do mestre Nilo que bradavam o samba em um tom mais aguerrido. Gilsinho mostrou pleno domínio do samba que defenderá na avenida, passando a sensação de que se ele quiser, dá para brincar ainda mais com o microfone, já que o samba e o andamento permitem.
A escola cantou muito e bem alto, até o fim da Sapucaí os portelenses desfilaram com o samba na ponta da língua e evoluindo de maneira precisa. O uso do caco “eu acredito”, por parte dos componentes, no meio da repetição da frase “Quem acredita na vida não deixa de amar” puxava a escola para cima. O samba passou bem pela avenida, o possível dentro de suas limitações.
“Foi um bom ensaio. Até onde a gente pôde ver, a escola estava cantando muito bem, estava todo mundo cantando, todo mundo animado, a bateria foi sensacional, ritmo purinho, do início ao fim, o carro de som sustentando o samba do início ao fim, e a comunidade cantando muito, então acho que foi muito, muito proveitoso. Agora vamos ajustar mais algumas coisas para o segundo ensaio e fazer melhor ainda. Ajustar mais algumas coisas de canto, mais coisas para a escola cantar. Achei que a escola cantou muito bem, mas eu tenho certeza que a Portela pode cantar muito mais, então vamos forçar o canto para a escola cantar um pouco mais alto, cantar um pouco mais firme, não que não tenha sido, foi ótimo, mas a gente pode melhorar, sempre pode”, disse Gilsinho.
Evolução
A escola conseguiu manter a coesão na evolução, sem atropelos, estagnação ou buracos, mesmo com muitas alas coreografadas e teatrais, o que pode ser um desafio. No entanto, será interessante observar se essa fluidez se mantém no desfile oficial, quando há mais elementos cenográficos e pressão do julgamento.
O mesmo tripé utilizado no Dia Nacional do Samba na Cidade do Samba, foi utilizado neste ensaio técnico, com a presença de Tia Surica e Carlos Reis em cima do elemento cenográfico e a águia mascarada no meio. Foi a comprovação de que nos ensaios de rua a evolução funciona muito bem na Portela.
Outros destaques
A atriz Gabz, protagonista de ‘Mania de Você’, desfilou à frente de uma ala e não conteve a emoção. Cria de Irajá, ela estava em casa com a centenária de Oswaldo Cruz e Madureira. O uso de girassóis pelos componentes continuam causando um efeito visual interessante para as apresentações da escola, causando uma curiosidade em saber como a escola irá usar o amarelo no seu desfile.
A rainha de bateria, Bianca Monteiro, esbanjou simpatia e muito samba no pé. Ela interagiou o tempo inteiro com o público presente na Avenida. Segundo o nosso colunista, Freddy Ferreira, a bataria teve “uma apresentação segura durante o percurso garantiu o bom ritmo da Majestade do Samba, além de paradinhas bem vinculadas ao samba da azul e branca de Oswaldo Cruz.
Freddy Ferreira analisa bateria da Portela no ensaio técnico na Sapucaí
“Foi muito bom. As bolsas já estavam sendo feitas lá em Madureira, mas hoje viemos aqui para tocar e colocar o andamento. E a bateria segurou o andamento. Os jurados estão batendo muito nisso na nova formação. Então o andamento foi correto e teve sustentação. A bateria está muito boa, mas estou sempre cobrando. Hoje não teve nada de errado. Só vimos que foi no andamento. E, devido a distância da escola que estava muito grande, eu não fiquei arriscando muitas bossas. No dia do desfile, logicamente, com o som na avenida inteira, eu vou fazer mais bossas”, revelou mestre Nilo Sérgio.