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Componentes LGBTQ+ elogiam coragem e posicionamento do Tuiuti no enredo do Carnaval 2025

Escola de São Cristóvão leva à avenida o desfile “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, sobre a primeira travesti não indígena do Brasil

O Paraíso do Tuiuti levará à avenida no Carnaval 2025 o enredo “Quem Tem Medo de Xica Manicongo?”, sobre aquela que é reconhecida como a primeira travesti da história brasileira. Sequestrada da África, onde exercia livremente sua identidade, e transportada ao Brasil como escrava, Xica sofreu forte repressão da coroa portuguesa.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

“O enredo prega a liberdade de ser quem se é, se expressar do jeito que você é, sem ter medo, vergonha, de nada. A Tuiuti vem mostrando isso para a comunidade toda”, disse a travesti Eduarda Cardoso, de 50 anos, que já desfilou pelo Salgueiro e Unidos da Tijuca e iniciou este ano sua trajetória na Paraíso do Tuiuti. Eduarda trabalha como cuidadora de idosos.

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Eduarda Cardoso, de 50 anos, que já desfilou pelo Salgueiro e Unidos da Tijuca e iniciou este ano sua trajetória na Paraíso do Tuiuti

“Xica Manicongo foi a primeira trans não-indígena escravizada do Brasil. A Tuiuti este ano mostra que está apta a lutar pelos direitos LGBTQIA +. Isso é muito importante hoje em dia, por conta dessa criminalidade toda que acontece com a gente, com a nossa comunidade”, reforçou o cabeleireiro Germano Angelo, de 31 anos, que se identifica como homossexual e entrou na escola ano passado.

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Cabeleireiro Germano Angelo, de 31 anos

Além de Eduarda e Germano (e também de Natty e Manuela, apresentadas mais à frente na reportagem), o segundo ensaio da noite foi prestigiado por lideranças da comunidade LGBTQ+, como a presidente da Associação Nacional de Transsexuais e Travestis (ANTRA) Bruna Benevides e a atriz e cantora Valéria Barcellos.

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Presidente da Associação Nacional de Transsexuais e Travestis (ANTRA) Bruna Benevides

“A Tuiuti dá um passo muito importante no sentido de humanizar as pessoas trans e nos colocar no centro dessa vitrine que é o carnaval. Nós estamos vivendo o futuro que Xica Manicongo e outras que nos antecederam projetaram para nós”, posicionou-se Bruna.

“Para nós da comunidade LGBTQ+ e, em especial, para as mulheres trans, foi o início de tudo, a primeira mulher trans que se tem notícia no Brasil, vinda da África. Para nós que somos travestis pretas, é o DNA da nossa existência. É de uma resistência tão forte e imensa que ela se faz presente até hoje, através do enredo da Tuiuti”, celebrou Valéria.

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Cantora Valéria Barcellos

Germano e Eduarda explicaram o que não pode faltar este ano no desfile da escola: “Como sempre, muita animação. A Tuiuti ultimamente vem vindo numa grande felicidade que eu acho que esse ano leva o título”, projetou Germano. “Não vai faltar emoção, aquele fervor. Muito calor”, profetizou Eduarda.

A cabeleireira transexual Natty Lacerda, de 29 anos, no entanto, é mais enfática: “Não pode faltar bastante travesti”, comentou, aos risos. Sobre a parte do samba que mais a toca, Natty, que desfila há três anos como passista da Tuiuti, respondeu “Eu travesti/Estou no cruzo da esquina”. “É uma palavra forte”, reconheceu a cabeleireira.

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Cabeleireira Natty Lacerda, de 29 anos

Eduarda concordou – e justificou: “Porque eu sou uma travesti e tenho orgulho de ser quem eu sou”.

Germanou elegeu o refrão “Ê! Pajubá!/ Acuendá sem xoxá pra fazer fuzuê” como seus versos preferidos da canção. “Essa parte vai pegar porque é o que as bixas mais falam. É um pajubá nosso, para quem não sabe o que é pajubá ter a oportunidade de conhecer”, argumentou ele, referindo-se ao termo utilizado dentro da comunidade LGBT para referir-se ao próprio vocabulário criado pela comunidade. “Tem muita gente que não conhece o linguajar que a gente usa e critica, faz piada ou usa de má fé. Essa é a minha parte favorita porque a gente aquenda sem fazer fuzuê”, defendeu.

A jornalista bissexual, Manuela Caldas, de 27 anos, estreante na avenida, refletiu, por sua vez, de forma particular sobre a questão: “O enredo da Xica Manicongo para mim une dois universos, que são cantados no samba: o mundo do Axé e também o mundo LGBT. Por isso, eu amo a parte do samba que associa a Xica Manicongo às marias padilhas, às pombas-giras em geral (“Chama a Navalha, a da Praia e a Padilha,/ as perseguidas na parada popular”). Acho que é algo que tem suas barreiras em ambas as partes. Na comunidade LGBTQ+, muitas pessoas têm medo de se aproximar de qualquer religião e muitas religiões também têm barreiras contra a comunidade LGBTQ+. Colocar a Xica Manicongo como uma pomba gira une exatamente tudo que eu vivo, tudo o que eu acredito e é a parte mais emocionante para mim”.

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jornalista bissexual, Manuela Caldas, de 27 anos, estreante na avenida

Os componentes revelaram que a opção por levar Xica Manicongo à avenida aproximou-os da agremiação. “A escola sempre foi muito família. Desde quando eu entrei, sempre me acolheu super de boa, nunca me tratou com diferença. Esse enredo, no entanto, serve para unir as pessoas”, disse Natty Lacerda.

“Me sinto muito mais próximo. É importante você demonstrar para o mundo, como a Tuiuti está fazendo, que qualquer tipo de ser humano é importante, independente de classe social, religião ou qualquer outro fundamento da vida”, esclareceu Germano.

“Assim que eu tomei conhecimento do enredo, eu fui procurar se a Tuiuti tinha um histórico de apoio à causa LGBT e eu me surpreendi quando vi que não. É muito corajoso, tem que ter muito peito para você bancar é um enredo como “eu travesti” no ano de 2025 e eu achei curioso que não tinha um histórico, que isso seja algo novo. Eu espero que a Tuiuti honre isso no ano que vem. Isso me deu muito respeito pela escola para os próximos anos”, ponderou Manuela.

“Xica Manicongo é reconhecida como a primeira travesti do Brasil. Preta, africana e candomblecista. O Carnaval é exatamente quem a Xica Manicongo é. Se você está gostando e não entendeu, repense o que você gosta de verdade”, colocou Manuela.

“Todas as pessoas – tanto gay, lésbica, travesti, homem, mulher -, todos somos a esperança de uma nação”, finalizou Natty.

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