Por Guibsom Romão e fotos de Magaiver Fernandes (Coloboraram Allan Duffes, Luiz Gustavo, Juliana Henrik e Raphael Lacerda
Com o enredo “Maraka’anandê – Resistência Ancestral”, a Unidos de Bangu foi a terceira escola a passar pela avenida no ensaio técnico do último domingo. De autoria de Alexandre Rangel e Raphael Torres, o desfile da escola da Zona Oeste exaltará a Aldeia Maracanã, localizada ao lado do estádio homônimo. A aldeia, símbolo da resistência indígena carioca, tem sido alvo constante de tentativas de apagamento, violência e desocupação.
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“Sem palavras. Eu só pedi para eles virem pra cá para se divertirem. O restante, quem tem que fazer é a gente. Fantasia, quem faz é a gente. Carro alegórico, quem faz é a gente. Eles só tem que despejar a alegria na Avenida. E o que aconteceu hoje foi maravilhoso. O Carnaval é feito de alegria e diversão e isso tem que ser mantido. Por isso, a gente está aqui hoje, porque o carnaval é folia, é alegria, é amor. Eu sou meio suspeito, porque eu não vejo muito o ensaio técnico como algo diferencial no desfile. O desfile tem vários quesitos que podem ser alterados. Cai uma pena, tu perde conto. Aqui não tem pena. Para mim, a verdade é que isso aqui é juntar a escola e fazê-la entender o que é a Sapucaí. A gente tem que usar o carnaval passado para que neste carnaval não cometa os erros que foram cometidos. O nosso objetivo este ano é buscar o título”, garantiu Marcelo do Rap, diretor de carnaval.
Comissão de Frente
Sob o comando do coreógrafo Fábio Costa, a Bangu apresentou uma comissão composta por homens e mulheres trajando vestimentas inspiradas na cultura indígena, com pintura facial característica e cocares ornamentados. A coreografia, bem ensaiada e executada, combinou passos do ballet clássico com elementos de danças indígenas, resultando em um efeito visual impactante. Além disso, os integrantes entoaram brados que remetiam aos rituais dos povos originários do Brasil, reforçando a temática do enredo. No entanto, o canto ficou aquém do esperado para dar impacto, tornando-se necessário o incentivo direto do coreógrafo para que os componentes cantassem diante das cabines de jurados.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Leonardo Moreira e Bárbara Moura, que já dançam juntos há alguns anos e também são o segundo casal do Salgueiro, demonstraram entrosamento e entrega ao longo do ensaio. Com uma coreografia bem decorada e executada, brilharam a cada apresentação diante das cabines. No entanto, ao se distanciarem, tornou-se perceptível uma diferença de ritmo entre eles: Leonardo exibia vigor e rapidez no bailado e riscado, enquanto Bárbara mantinha um desempenho mais cadenciado. Esse descompasso foi sendo ajustado ao longo da avenida, mas é um ponto que requer atenção para o desfile oficial.
Harmonia
Apesar da excelente performance de Igor Vianna à frente do carro de som, o canto da escola deixou a desejar. Algumas alas passaram pela avenida sem entoar um único verso completo do samba-enredo. O trecho “Originário é Bangu, Maracanã” empolgava e era cantado com força, mas um único verso não sustenta o conjunto do desfile. Para a apresentação oficial, será essencial que a comunidade cante do início ao fim para garantir uma harmonia sólida e convincente.
“O time de canto se apresentou de forma bastante coesa no carro de som. Fizemos o que estava ao nosso alcance. As condições dos dados e a bateria mantiveram o ritmo que ensaiamos. Assim, no final, tudo correu bem! Posso afirmar que o resultado foi extremamente positivo. Com certeza, até o desfile estaremos ainda melhores! Isso é indiscutível, estamos dedicados a isso. E temos certeza de que vamos aprimorar ainda mais! Preparem-se para muitas surpresas! A cada ensaio, surgem novidades. Fico muito feliz com essa evolução”, declarou o intérprete Igor Vianna.
Evolução
A evolução da escola também apresentou desafios. Algumas alas não demonstraram a organização esperada, com componentes se corrigindo mutuamente durante o ensaio. Além disso, a ala coreografada que representava indígenas sendo agredidos por policiais mostrou uma performance confusa e visivelmente pouco ensaiada, evidenciando a necessidade de ajustes tanto na execução quanto na clareza da proposta cênica.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Bangu no ensaio técnico
Samba
Embora o carro de som e a bateria, comandada pelo mestre Laion, tenham apresentado um bom desempenho, o samba da Unidos de Bangu não aconteceu na avenida. Como já mencionado, apenas um verso do refrão foi amplamente cantado pelos integrantes, o que comprometeu a energia geral da escola.
“Já diz o nome é ensaio técnico e eu me sinto muito orgulhoso pelo desempenho da Caldeirão da Zona Oeste na noite de hoje. Estamos trabalhando há alguns meses. Não é fácil para ninguém chegar aqui, também não é fácil pra gente. Hoje sinto que se fosse na noite do dia oficial, eu com toda humildade do mundo, eu conseguiria atingir o objetivo, que é a nota 40. A nossa maior proposta é jogar com regulamento debaixo do braço. E acho que no dia oficial com efeito da fantasia, com toda a nossa entrega, a magia que acontece no dia dos desfiles no dia oficial, será muito especial”, afirmou mestre Laion.
Outros Destaques
Um dos momentos mais marcantes do ensaio foi a presença de indígenas da Aldeia Maracanã no desfile. Eles atravessaram a avenida carregando faixas com mensagens de resistência, como: “Eles combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer” e “Aldeia Maraka’nã quebrando o asfalto de corações e mentes”.
A presença dos indígenas reforçou a importância do enredo e trouxe um peso simbólico forte para a apresentação, conectando o desfile à realidade histórica e social que ele busca retratar. Esse elemento deve ser potencializado no desfile oficial.