Por Luiz Gustavo e fotos de Magaiver Fernandes (Colaboraram Allan Duffes, Raphael Lacerda e Guibsom Romão)
Há mais de uma década sem pisar no sambódromo, a Tradição realizou seu ensaio técnico mostrando entusiasmo em estar de volta ao templo sagrado do carnaval carioca. Porém o pique não foi sustentado durante toda a passagem da escola pela pista, após um início forte de bom canto por parte de algumas alas, gradativamente o ensaio caiu e terminou com muitos componentes mudos. Em contrapartida, a agremiação apresentou uma evolução organizada e constante do começo ao final, sem buracos e atropelos. Um dos diretores de carnaval, David dos Santos, falou ao CARNAVALESCO sobre o ensaio e o retorno ao sambódromo.
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“Ver a Tradição depois de dez anos fora da Sapucaí faz passar um filme, e a Tradição mostrou que chegou com cara de escola grande como ela sempre foi, e ter essa recepção do público, essa interação de quem esteve aqui presente prestigiando foi muito gratificante. O trabalho está sendo feito, construído e foi realizado com sucesso neste ensaio”.
A Tradição abre os desfiles da Série Ouro na sexta de carnaval, dia 28 de fevereiro, com o enredo “Reza” de autoria do carnavalesco Leandro Valente.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Tradição no ensaio técnico
Comissão de frente
A comissão comandada por Tony Tara apresentou um grupo vestido de bruxas e um componente central vestido de tranca rua com caveiras no chapéu e no elemento de mão. Uma coreografia de ritual bem elaborada, com boa teatralização e realizada com muita sincronia pelos componentes. Uma apresentação sem maiores arroubos, mas extremamente bem feita. No primeiro módulo a comissão utilizou elementos de fogo que tiveram falhas e foram abortados nas demais cabines.
Mestre-sala e Porta-Bandeira
Jorge Vinícius e Verônica tiveram um desempenho irregular ao longo do ensaio. Logo na primeira cabine a bandeira enrolou no momento em que Jorge Vinícius fez a pegada da bandeira. Nos demais módulos o erro não se repetiu, porém outras falhas aconteceram e mostraram um casal não tão à vontade na avenida, principalmente Vinícius que em vários momentos mostrou indecisão nos movimentos. Verônica também mostrou-se um pouco travada em sua dança, porém com mais segurança. Um ensaio para correções até o desfile.
“A gente entrou com uma energia muito boa. O enredo vem falando de fé. A gente veio caracterizado até pela santa do dia de hoje, 2 de fevereiro, Iemanjá e o pescador. E nós trouxemos essa energia, trouxemos a fé para esse ensaio de hoje. Foi um ensaio tranquilo. Fomos a primeira escola a passar, passamos com muita energia e, graças a Deus, não pegamos calorão do minidesfile. Graças a Deus, também não choveu. Acredito que foi a fé da escola, do povo todo pedindo para a gente não pegar chuva. A gente testou sapato
hoje, testamos coreografia, e daqui a gente vai analisar durante este mês que nós
temos até o desfile para acertar os pontos”, comentou a porta-bandeira.
“Acredito que a nossa entrada está perfeita. A gente está ensaiando desde abril, intensificado – balé, funcional, academia. A gente está dançando junto pelo segundo ano consecutivo. Veronica é uma baita experiente, e eu só estou fazendo o cortejo dessa Iemanjá linda que ela veio representando”, completou o mestre-sala.
Harmonia
A Tradição abriu o seu ensaio com um canto satisfatório nas primeiras alas, vários componentes entoando forte o samba da escola. Com o passar das alas o canto foi caindo de forma clara, com desfilantes apresentando dificuldades para cantarem até mesmo os refrãos. As últimas alas passaram praticamente mudas, como uma ala formada por mulheres vestidas de ciganas, que pouco abriam a boca para ao menos tentar acompanhar o samba da agremiação de Campinho.
“Para mim foi emocionante. A escola veio bem e cantando. Samba lindo, melodioso e valente. Estou feliz com a alegria da escola. E pode esperar que no dia 1 de março a gente vai cantar mais ainda”, assegurou o intérprete Tuninho Jr.
Evolução
Quesito onde a escola se mostrou bem organizada e linear durante todo seu ensaio. O ritmo foi mantido em todas as alas, sem alas se misturando ou espaçamentos significativos entre elas. A escola vem solta na maior parte de seu contingente, com três alas coreografadas que não travaram a evolução da Tradição. Foi um ensaio bem assertivo no quesito para uma agremiação que passou dez anos fora da Sapucaí.
Samba
A composição de Diego Nicolau, Pretinho da Serrinha e Fred Camacho apresenta uma estrutura melódica com várias nuances, algumas muito bem encaixadas, outras causando uma quebra no samba, como na repetição da palavra “reza”, resultando em uma obra que teve desempenho irregular neste ensaio técnico. O carro de som liderado por Tuninho Junior teve bom desempenho e extraiu bastante do samba, porém o mesmo não se sustentou durante o ensaio, principalmente na parte final da apresentação da Tradição.
Outros Destaques
A presidente Raphaela Nascimento vibrou com a passagem da escola e cantou bastante durante o ensaio. O mestre Thiago Praxedes analisou a performance da bateria no ensaio.
“Tivemos um desempenho bem satisfatório. Nesta semana completamos três meses à frente do trabalho. Chegamos em outubro. Inúmeras dificuldades, a Tradição está sem quadra. Então é toda uma complexidade para você começar a iniciar um trabalho com base. E o trabalho avançou no momento certo. Estamos muito satisfeitos com a evolução da bateria. Temos muito até dia primeiro de março para evoluir ainda. Mas a gente já sente que a bateria da Tradição criou uma identidade. E uma identidade muito parecida com a identidade da bateria do mestre Fornalha, do mestre Dacopê, no final dos anos 1980, quando a Tradição nasceu. Uma bateria grave, com os agogôs à frente sendo bem referencial. Eu fico muito feliz com isso. Uma bateria que está resgatando a identidade, mas uma bateria competitiva dentro do regulamento do carnaval. Hoje a gente veio num andamento 144. Talvez, por sermos a primeira escola, a gente coloque aí de um a dois bits um pouco para frente, mas aí a gente vai sentar com a direção de carnaval para fazer a avaliação do ensaio, para ver se realmente vale a pena a gente manter o andamento”.