Para quem sentia saudades daquela Beija-Flor do modelo “rolo compressor” de décadas passadas, o primeiro ensaio técnico desta temporada trouxe um gostinho do que a escola pretende apresentar em seu desfile oficial. E mais do que isso: há muito tempo a Beija-Flor não fazia um ensaio com tanta energia, vigor e com uma comunidade tão feliz em estar na Sapucaí.
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A comunidade da azul e branca se fez presente e cantou a plenos pulmões o samba em homenagem ao maior responsável por construir essa mística em torno da escola: Laíla. Foi uma apresentação à altura de Nilópolis, onde a emoção se aliou à técnica, o público se envolveu e todos os quesitos brilharam.
Outro momento marcante da noite foi a presença de Neguinho da Beija-Flor, que, esse ano, se despede do carnaval da escola e fez questão de elevar ainda mais o nível do ensaio. Sua voz inconfundível impulsionou o canto da comunidade e das arquibancadas, tornando a noite ainda mais especial.
Naquele que pode ter sido o seu último ensaio, Negrinho se emocionou do iniciou ao fim e brincou que teve que ir a base de calmantes para manter a emoção, ainda que não tenha conseguido segurar completamente.
“Eu estou aqui sobre efeito de de dois tranquilizantes para conseguir, senão, não ia conseguir segurar a emoção. Vamos ver no dia, acho que eu vou ter que tomar uns quatro para ver se consigo cantar. Mas, temos um carro de som bastante amplo, maravilhoso, a rapaziada sabe das coisas, quem a rapaziada está firme, bonitos, e é por isso que a gente está aí parando também, para dar oportunidade.a eles”, disse o intérprete.
Em 2025, a agremiação da Baixada levará para a avenida o enredo “Laíla de todos os santos, Laíla de todos os Sambas”, do carnavalesco João Vitor Araújo, que pretende eternizar o legado do mestre Laíla. O próximo ensaio da escola na Sapucaí será no dia 22 de fevereiro, após a lavagem do Sambódromo.
O diretor de carnaval, Marquinho Marino, falou ao CARNAVALESCO e fez suas considerações sobre o ensaio.
“Pra mim, foi muito bom! Dentro do que a gente se propõe para um ensaio técnico, sabemos que não temos alegorias nem fantasias. Se você pensar tecnicamente, sem esses elementos, não dá para completar os 80 minutos. Mas precisamos aproveitar esse tempo da melhor forma possível. Por exemplo, quando a bateria faz uma paradinha para o jurado, normalmente ela fica ali por 30 ou 40 segundos no máximo. Mas, no ensaio, eu faço uma passada inteira com a bateria parada. Isso porque aqui é o momento de testar. Agora, o foco é seguir com os ensaios, manter essa pegada forte da comunidade e dos segmentos, e continuar aperfeiçoando cada detalhe. Estou muito feliz! Acho que estamos no caminho certo e tenho certeza de que o mestre Laíla será muito bem homenageado”, disse Marino.
Comissão de Frente
Pelo terceiro ano consecutivo, os coreógrafos Jorge Teixeira e Saulo Finelon comandam a comissão de frente da Beija-Flor. A apresentação seguiu a mesma concepção e coreografia já exibidas no minidesfile e em alguns ensaios de rua na Mirandela.
O grupo é formado apenas por homens, todos vestindo figurinos que remetem a sacos de lixo e com o corpo pintado de branco. No centro da performance, o destaque foi o bailarino que representou Exu, cruzando a Sapucaí sobre pernas de pau com impressionante desenvoltura e agilidade. O grande diferencial da apresentação ficou por conta do figurino inusitado e da presença imponente de Exu, que garantiu um impacto visual marcante
Mestre-sala e Porta-bandeira
Falar de duas lendas do carnaval como Claudinho e Selminha Sorriso nunca é fácil, mas é sempre essencial reverenciá-los. Mais uma vez, a dupla riscou a Sapucaí de ponta a ponta, apresentando um trabalho impecável e mostrando o que há de melhor: classe e excelência.
“Nossoa proximos passos são continuar ensaiando. Somos um casal de veteranos, os mais antigos em atividade no carnaval, mas nunca sabemos tudo, estamos sempre em processo de aprendizado, e hoje foi um teste valendo, como nós costumávamos ouvir do Laíla. Mas foi lindo, interagimos com a comunidade, é muito bom ver o povo, muitos deles não podem estar no desfile oficial, e estão aqui prestigiando as três escolas. Com certeza, passamos uma mensagem muito linda, mostrando esse enredo tão justo, tão merecido para o Laila, que não está mais entre nós, e era alto de data, revolucionário, inovador, um homem que nos inspirou e ensinou, transformou o modelo do carnaval e é um exemplo, é um exemplo de vida para as pessoas também sem formação acadêmica, mas seres intelectuais, inteligentes. Essa homenagem é muito justa pra ele”, entende Selminha.
Neste ensaio, Selminha representou o povo cigano, com suas cores quentes e vibrantes, enquanto Claudinho manteve sua marca registrada: o azul de sempre. Durante as quatro paradas para os jurados, o casal esbanjou giros bem executados, e a coreografia também incorporou passagens do samba, como a parte “dobram atabaques no quilombo Beija-Flor”, onde fizeram o movimento de tocar os atabaques com perfeição. A sintonia e a sincronia entre eles foram nítidas, e o público, claro, os ovacionou do início ao fim.
“O ensaio técnico é valendo, claro que a gente testou várias coisas para ver se funcionavam ou não funcionavam, mas deu tudo certo dentro do nosso propósito. Estou muito feliz, e também, a minha porta-bandeira está muito feliz, a nossa equipe, está feliz pelo propósito que a gente tem ensaiado durante o ano todo e hoje a gente conseguiu colocar aqui. É uma felicidade imensa, agora praticamente fazer algum ajuste pequeno e dar continuidade ao que foi feito aqui hoje. Feliz tambem pela Beija-Flor, pelo canto, pelo samba maravilhoso. A gente teve um canto forte, a gente vem para disputar esse título tão sonhado para a Baixada, para Nilópolis”, garantiu Claudinho.
Harmonia e Samba
A harmonia musical da Beija-Flor foi um dos grandes destaques deste ensaio. O carro de som contou com a presença luxuosa de Neguinho da Beija-Flor, que, mesmo sem ter participado de muitos ensaios, engrandeceu a noite e impulsionou o canto não só da comunidade, mas também das arquibancadas, que vibraram ao ouvi-lo.
A bateria, comandada pelos mestres Plínio e Rodney, teve um papel fundamental na sustentação do samba e do canto da escola. Acostumada a desfilar de forma mais reta, desta vez apresentou uma sequência de bossas interessantes, além de um grande paradão, que evidenciou ainda mais a força do canto.
O samba, que já estava na boca do nilopolitano antes mesmo de ser escolhido, se confirmou na avenida e manteve seu alto rendimento do início ao fim. Com destaque para os versos que antecedem o refrão principal e claro, o refrão: “Da casa de Ogum, Xangô me guia, Da casa de Ogum, Xangô me guia, Dobram atabaques no quilombo Beija-Flor, Terreiro de Laíla, meu griô”.
O diretor de carnaval, Marquinho Marino, falou sobre a participação de Neguinho e se mostrou contente com o resultado harmônico apresentado pela escola. Ele também projetou o próximo ensaio na Sapucaí, que terá o teste de som da avenida.
“Fiquei muito satisfeito! A participação do Neguinho foi fundamental, não só na parte musical, mas também para puxar o canto junto com ele. Os componentes ficaram emocionados com sua presença e com a forma como o samba e a bateria foram conduzidos. Para um primeiro ensaio em uma pista tão grande e larga como essa, foi extremamente satisfatório. Além disso, não tivemos nenhum problema técnico grave a ser apontado. A passagem de som vai ajudar ainda mais, porque teremos o áudio em toda a avenida. Fizemos três paradões durante o desfile e não houve nenhum atravessamento, o que demonstra o excelente trabalho da harmonia – tanto a musical quanto a diretoria de harmonia, que mantém os componentes cantando com força nesses momentos”, disse Marino.
Evolução
O nilopolitano sabe como brilhar na Sapucaí, e durante o ensaio deste sábado não foi diferente. Cada componente estava plenamente ciente do seu lugar, do que fazer e de como fazer. O resultado foi uma evolução coesa, sem atropelos. A comunidade, visivelmente emocionada, manteve a concentração e a técnica de desfile em todos os momentos. Mesmo com alas gigantes, a organização foi impecável, o que também se refletiu nas alas coreografadas, especialmente na que encerrou o desfile da azul e branca. A escola utilizou elementos para demarcar o espaço dos carros alegóricos no desfile oficial, além de um enorme tripé representando o abre-alas.
Outros Destaques
O ensaio foi movido pela emoção, e não foi diferente para a rainha de bateria, Lorena Raíssa. Grávida de seu primeiro filho, a jovem desfilou visivelmente emocionada e agradeceu todo o carinho recebido das arquibancadas. Outra grávida que brilhou na avenida foi a dançarina Brunna Gonçalves, esposa da cantora Ludmilla. Ela sambou com energia por toda a pista, recebendo muitos aplausos. A ex-rainha de bateria Raíssa de Oliveira e o passista Cássio Dias também roubaram a cena, com uma performance que arrancou suspiros do público.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Beija-Flor no ensaio técnico na Sapucaí
Mestre Rodney fez para o CARNAVALESCO a avaliação da bateria no ensaio técnico. “Perfeito! Missão cumprida, muito bem cumprida. A gente deu aula mais uma vez. Aqui tem dedicação e comprometimento com a escola. Eu estou muito orgulhoso deles e muito satisfeito com o desempenho. Não tenho nada a mudar para o desfile. É intensificar e vir com mais fome, mais vontade de ganhar o carnaval. Hoje foi um ensaio, treino é treino, jogo é jogo. A gente, no dia do desfile, vai comer o asfalto para levar o campeonato para a Nilópolis”, afirmou mestre Rodney.
Colaboraram Allan Duffes, Lucas Santos, Marielli Patrocínio, Juliana Henrik, Gabriell Radicetti, Matheus Vinícius, Matheus Morais e Rhyan de Meira