A mudança sutíl de local de ensaio da Mangueira para está temporada do carnaval 2025 veio bem a calhar, pois a escola agora desfila para as casas do Morro e o público retribui o carinho. Desde o final da tarde, muita gente se aglomerava nas grades da Visconde de Niterói e ia para as janelas, principalmente, aquelas que tinha o segundo andar, para conseguir um bom lugar para ver a Verde e Rosa passar. E ela passou com a energia já conhecida dos últimos ensaios. Se ainda há alguma coisa para ajustar em evolução, na sinergia samba, comunidade, carro de som e bateria, está tudo certo. Em 2025, a Mangueira vai fechar a primeira noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França.

* Seja o primeiro a saber as notícias do carnaval! Clique aqui e siga o CARNAVALESCO no WhatsApp

A direção musical da Mangueira colocou o samba a feição para a comunidade, explorando os pontos mais altos da obra. A bateria, dos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, deixou a música com cara de Mangueira e extraiu tudo que ela poderia lhes dar, enquanto Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz conduziram a comunidade a cantar o tempo inteiro, e no final, já não estando mais valendo, o público também seguia cantando até chegar no Palácio do Samba. Ensaio que mais uma vez mostrou que a escola e a comunidade compraram a briga do samba e querem mostrar suas qualidades na Sapucaí. No mais, casal e comissão de frente mantiveram o bom nível das apresentações anteriores.

mangueira rua1901 1
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

O diretor de carnaval da Verde e Rosa, Dudu Azevedo, se disse contente e avaliou como positiva a evolução dos quesitos do último ensaio para este.

“A gente evoluiu muito no quesito evolução do último ensaio para esse a todo ensaio a faz uma reunião no barracão com as lideranças pra que a gente possa corrigir os erros que a gente encontra nos ensaios. E a gente já até bateu um papo agora no final aqui avaliando esse ensaio e a gente corrigiu muita coisa até do último ensaio pra esse. A gente está bem próximo daquilo que a gente precisa fazer em determinados momentos do desfile. Estamos felizes com isso, conseguimos acertar aquilo o que houve do último ensaio pra cá”, entende o diretor.

mangueira rua1901 5

Dudu também ressaltou o trabalho integrado entre carro de som, direção musical e bateria. “O carnaval hoje é muito técnico e a Mangueira tem aquele jeito da emoção. Só que aí você trabalha com profissionais tão dedicados, com pessoas que tecnicamente buscam sempre beirar a perfeição. A gente vê a a técnica, a gente o profissionalismo dessa bateria e o julgamento de tudo hoje olha muito também para técnica do canto. Muitas vezes, a gente até já está satisfeito, mas eles não, querem mais, buscam a perfeição, é bom termos esse combo de bateria, carro de som e direção musical”, finaliza o profissional.

Comissão de frente

Comandados pela dupla Lucas Maciel e karina Dias, os componentes desta vez, até pelo calor, vieram menos caracterizados do que no ensaio anterior, utilizando de bermudas e camisetas da escola. A coreografia variava entre movimentos de uma falange unida em que todos os integrantes faziam o mesmo movimento e, em outros momentos, a coreografia apresentava os bailarinos fazendo movimentos solos.

mangueira rua1901 4

No geral, assim equipe trouxe uma coreografia bastante intensa que procurava muitas vezes pontuar trechos do samba e tinha como grande ponto alto, quando na segunda do samba, que citava mais a questão da identidade e da ligação dos povos bantos com a comunidade da Mangueira e demais favelas do Rio de Janeiro, quando todos os componentes erguiam o punho para o alto, sendo aplaudidos pelo público. Karina e Lucas a todo momento, como é característico, quando acontecia a apresentação para as cabines simuladas, os coreógrafos incentivavam e davam alguns pontos de referência para os componentes.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Matheus Olivério e Cintya Santos, dessa vez, estavam com roupas mais leves, mas de forma alguma, menos elegantes, agora em tons mais voltados para o rosa. O casal apresentou uma coreografia que é bem típica da característica da dupla, energia mas bem dentro de uma cadência, com preocupação na correção dos movimentos. Matheus é de uma elegância na dança que é louvável e tem movimentos que são muito seus, não se encontra em outros mestes-salas. Já Cintya sempre foi marcada pela sua energia nos giros, mas faz tudo com muita técnica, correção e carisma. E, mais, coloca a suavidade nos momentos em que ela pedida.

mangueira rua1901 7

Nesta coreografia apresentada no ensaio, iniciam apresentando e valorizando o pavilhão até iniciarem uma sequência mais coreográfica mais perto do falso refrão do meio do samba, com passos de dança mais correlacionado com o povo banto homenageado no enredo. E, logo, depois, vem uma parte mais energética com rodopios e giros com mais intensidade da dupla. Na segunda parte do samba, totalmente dentro da singeleza da melodia, uma parte com um dançar mais delicado e algumas mesuras. Nesta parte dançam mais juntos. Isso até o ápice e o show de Cintya no “É de arerê” em que a porta-bandeira dá os seus giros mais característicos e que sempre impressionam. No final, no trecho “Sou a voz do Gueto” a dupla faz uma pose em que se valoriza e valoriza o pavilhão relembrando que a mangueira é “Matriarca das paixões” e o “orgulho de ser favela”. Apresentação encerrada com a bandeirada da porta-bandeira, em brilho solo. Muito forte!

Harmonia

Nem precisava o grito de alguns “harmonias” para que a comunidade cantasse. Do início ao fim foi um desbunte ouvir o povo de Mangueira berrando o samba, mais uma vez, o carro de som fez os já tradicionais apagões para que a comunidade cantasse a obra. Em um deles, a bateria ficou de fora do carro de som em pelo menos uma três passadas, com os intérpretes guiando só com alguns inícios de frase. O “é de arerê” era cantado com mais vibração. Já o carro de som mostrou bem entrosado e ensaiado.

mangueira rua1901 3
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

A direção musical trouxe boas entradas dos cantores de apoio, com vocalizações e respostas claramente bem trabalhadas engates deste ensaio. Dowglas e Marquinhos ficaram a vontade alternando mais força e mais dedicação ao canto propriamente dito com momentos de chamar a comunidade. Todas as entradas e aberturas de voz foram dentro da melodia e do aspecto melódico da obra.

Samba-enredo

O samba entrou no início da temporada 2025 do carnaval sem muito destaque entre os críticos e o público em geral, assim como a obra que fazia homenagem a Marrom em 2024, mas a cada ensaio, a cada atividade da Mangueira vem rompendo barreira, assim como a obra do carnaval passado, e conquistando corações, neste momento, de fora, porque na comunidade e nos segmentos da escola já está mais do que valorizado, como se tem visto nos ensaios. Nisso, é importante citar e parabenizar, além da direção da escola, seis personagens de forma mais retumbante.

mangueira rua1901 8

Primeiro, a direção musical formada por Vitor Art e Digão, arrumaram a obra, fazendo que os pontos que mais se destacam se sobressaem e levantando aquilo que não se destacava tanto nas eliminatórias. Depois, mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto fizeram com que a obra ganhasse pressão e tivesse cara de Mangueira. A bateria, mais uma vez, está muito bem encaixada, com bossas dentro do enredo e que só destacam a obra. Por fim, Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz trouxeram a obra para se tornar agradável não só para eles cantarem, mas toda a comunidade. Tem o samba na mão.

Na obra, destaque para a segunda do samba, em tom menor, diferente da cabeça, quando o assunto se torna mais sério ao falar da valorização dos próprios personagens da comunidade e as dificuldades enfrentadas pelos “herdeiros” dos povos bantos, a melodia ganha profundidade e desagua em um pré-refrão que é belíssimo com “É de arerê, força de matamba/ É dela o trono onde reina o samba”, que prepara para a explosão em “Sou a voz do gueto…”, único “senão” que colocaria é neste mesmo refrão a palavra “dona” de “dona das multidões” que acaba tendo a acentuação um pouco forçada para caber na melodia, mas de resto a obra vem realmente se transformando e tem rendido bons frutos não só para o quesito como para harmonia, evolução e bateria. Rendeu muito, mais uma vez.

Evolução

Evolução ainda é um quesito que a Mangueira precisa dedicar um pouco mais de atenção. Ainda que a fluidez e o ritmo que os componentes evoluíram estava muito bom, com cadência, sem correr, curtindo o samba, em alguns momentos ainda pode-se perceber alguns espancamentos maiores, principalmente, nos deslocamentos entre a ala e o tripé que representava alegoria, esse tempo e esse controle de quando a ala a frente deve andar ou segurar, ainda pode melhorar um pouco mais para não gerar problemas no dia oficial.

mangueira rua1901 6

No início, se percebeu uma quantidade maior de alas com coreografia, mas isso não prejudicou a evolução e protagonizou um bonito efeito, principalmente em duas alas em que os componentes vinham de saia. Aliás, alguns adereços interessantes foram vistos nos dedfilantes, com uma espécie de bambolê simulando a saia de fantasias.

Importante destacar que muita gente dançou e sambou, muito pelo excelente ritmo produzido pela bateria, realmente muito gostoso de se ouvir e tornando as “dancinhas” espontâneas, bem dentro do enredo. No final, destacar uma ala que fazia uma coreografia que lembrava alguns “passinhos” de fundo, que brilhavam mais ainda quando a bateria fazia a bossa no ritmo, na segunda do samba.

Outros destaques

Antes do início da apresentação, a escola prestou homenagem com um minuto de palmas para a carnavalesca da Mocidade Independente de Padre Miguel, Márcia Lage, que faleceu no último domingo. O carnavalesco Sidnei França veio à frente da escolar curtindo o ensaio.

mangueira rua1901 2
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

A rainha de bateria Evelyn Bastos marcou presença com muito samba no pé e sensualidade. Destaque para a ala de xequerês da Mangueira, que já se tornou tradicional na “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” por trazer sempre uma linda sonfonia para os ouvidos com suas bossas e um colírio para os olhos com suas coreografias, bom demais. E o momento fofura ficou para uma ala de crianças que vinha no final.