A mudança sutíl de local de ensaio da Mangueira para está temporada do carnaval 2025 veio bem a calhar, pois a escola agora desfila para as casas do Morro e o público retribui o carinho. Desde o final da tarde, muita gente se aglomerava nas grades da Visconde de Niterói e ia para as janelas, principalmente, aquelas que tinha o segundo andar, para conseguir um bom lugar para ver a Verde e Rosa passar. E ela passou com a energia já conhecida dos últimos ensaios. Se ainda há alguma coisa para ajustar em evolução, na sinergia samba, comunidade, carro de som e bateria, está tudo certo. Em 2025, a Mangueira vai fechar a primeira noite de desfiles do Grupo Especial com o enredo “À Flor da Terra – No Rio da Negritude entre Dores e Paixões”, desenvolvido pelo carnavalesco Sidnei França.
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A direção musical da Mangueira colocou o samba a feição para a comunidade, explorando os pontos mais altos da obra. A bateria, dos mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto, deixou a música com cara de Mangueira e extraiu tudo que ela poderia lhes dar, enquanto Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz conduziram a comunidade a cantar o tempo inteiro, e no final, já não estando mais valendo, o público também seguia cantando até chegar no Palácio do Samba. Ensaio que mais uma vez mostrou que a escola e a comunidade compraram a briga do samba e querem mostrar suas qualidades na Sapucaí. No mais, casal e comissão de frente mantiveram o bom nível das apresentações anteriores.
O diretor de carnaval da Verde e Rosa, Dudu Azevedo, se disse contente e avaliou como positiva a evolução dos quesitos do último ensaio para este.
“A gente evoluiu muito no quesito evolução do último ensaio para esse a todo ensaio a faz uma reunião no barracão com as lideranças pra que a gente possa corrigir os erros que a gente encontra nos ensaios. E a gente já até bateu um papo agora no final aqui avaliando esse ensaio e a gente corrigiu muita coisa até do último ensaio pra esse. A gente está bem próximo daquilo que a gente precisa fazer em determinados momentos do desfile. Estamos felizes com isso, conseguimos acertar aquilo o que houve do último ensaio pra cá”, entende o diretor.
Dudu também ressaltou o trabalho integrado entre carro de som, direção musical e bateria. “O carnaval hoje é muito técnico e a Mangueira tem aquele jeito da emoção. Só que aí você trabalha com profissionais tão dedicados, com pessoas que tecnicamente buscam sempre beirar a perfeição. A gente vê a a técnica, a gente o profissionalismo dessa bateria e o julgamento de tudo hoje olha muito também para técnica do canto. Muitas vezes, a gente até já está satisfeito, mas eles não, querem mais, buscam a perfeição, é bom termos esse combo de bateria, carro de som e direção musical”, finaliza o profissional.
Comissão de frente
Comandados pela dupla Lucas Maciel e karina Dias, os componentes desta vez, até pelo calor, vieram menos caracterizados do que no ensaio anterior, utilizando de bermudas e camisetas da escola. A coreografia variava entre movimentos de uma falange unida em que todos os integrantes faziam o mesmo movimento e, em outros momentos, a coreografia apresentava os bailarinos fazendo movimentos solos.
No geral, assim equipe trouxe uma coreografia bastante intensa que procurava muitas vezes pontuar trechos do samba e tinha como grande ponto alto, quando na segunda do samba, que citava mais a questão da identidade e da ligação dos povos bantos com a comunidade da Mangueira e demais favelas do Rio de Janeiro, quando todos os componentes erguiam o punho para o alto, sendo aplaudidos pelo público. Karina e Lucas a todo momento, como é característico, quando acontecia a apresentação para as cabines simuladas, os coreógrafos incentivavam e davam alguns pontos de referência para os componentes.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Matheus Olivério e Cintya Santos, dessa vez, estavam com roupas mais leves, mas de forma alguma, menos elegantes, agora em tons mais voltados para o rosa. O casal apresentou uma coreografia que é bem típica da característica da dupla, energia mas bem dentro de uma cadência, com preocupação na correção dos movimentos. Matheus é de uma elegância na dança que é louvável e tem movimentos que são muito seus, não se encontra em outros mestes-salas. Já Cintya sempre foi marcada pela sua energia nos giros, mas faz tudo com muita técnica, correção e carisma. E, mais, coloca a suavidade nos momentos em que ela pedida.
Nesta coreografia apresentada no ensaio, iniciam apresentando e valorizando o pavilhão até iniciarem uma sequência mais coreográfica mais perto do falso refrão do meio do samba, com passos de dança mais correlacionado com o povo banto homenageado no enredo. E, logo, depois, vem uma parte mais energética com rodopios e giros com mais intensidade da dupla. Na segunda parte do samba, totalmente dentro da singeleza da melodia, uma parte com um dançar mais delicado e algumas mesuras. Nesta parte dançam mais juntos. Isso até o ápice e o show de Cintya no “É de arerê” em que a porta-bandeira dá os seus giros mais característicos e que sempre impressionam. No final, no trecho “Sou a voz do Gueto” a dupla faz uma pose em que se valoriza e valoriza o pavilhão relembrando que a mangueira é “Matriarca das paixões” e o “orgulho de ser favela”. Apresentação encerrada com a bandeirada da porta-bandeira, em brilho solo. Muito forte!
Harmonia
Nem precisava o grito de alguns “harmonias” para que a comunidade cantasse. Do início ao fim foi um desbunte ouvir o povo de Mangueira berrando o samba, mais uma vez, o carro de som fez os já tradicionais apagões para que a comunidade cantasse a obra. Em um deles, a bateria ficou de fora do carro de som em pelo menos uma três passadas, com os intérpretes guiando só com alguns inícios de frase. O “é de arerê” era cantado com mais vibração. Já o carro de som mostrou bem entrosado e ensaiado.
A direção musical trouxe boas entradas dos cantores de apoio, com vocalizações e respostas claramente bem trabalhadas engates deste ensaio. Dowglas e Marquinhos ficaram a vontade alternando mais força e mais dedicação ao canto propriamente dito com momentos de chamar a comunidade. Todas as entradas e aberturas de voz foram dentro da melodia e do aspecto melódico da obra.
Samba-enredo
O samba entrou no início da temporada 2025 do carnaval sem muito destaque entre os críticos e o público em geral, assim como a obra que fazia homenagem a Marrom em 2024, mas a cada ensaio, a cada atividade da Mangueira vem rompendo barreira, assim como a obra do carnaval passado, e conquistando corações, neste momento, de fora, porque na comunidade e nos segmentos da escola já está mais do que valorizado, como se tem visto nos ensaios. Nisso, é importante citar e parabenizar, além da direção da escola, seis personagens de forma mais retumbante.
Primeiro, a direção musical formada por Vitor Art e Digão, arrumaram a obra, fazendo que os pontos que mais se destacam se sobressaem e levantando aquilo que não se destacava tanto nas eliminatórias. Depois, mestres Rodrigo Explosão e Taranta Neto fizeram com que a obra ganhasse pressão e tivesse cara de Mangueira. A bateria, mais uma vez, está muito bem encaixada, com bossas dentro do enredo e que só destacam a obra. Por fim, Marquinho Art’ Samba e Dowglas Diniz trouxeram a obra para se tornar agradável não só para eles cantarem, mas toda a comunidade. Tem o samba na mão.
Na obra, destaque para a segunda do samba, em tom menor, diferente da cabeça, quando o assunto se torna mais sério ao falar da valorização dos próprios personagens da comunidade e as dificuldades enfrentadas pelos “herdeiros” dos povos bantos, a melodia ganha profundidade e desagua em um pré-refrão que é belíssimo com “É de arerê, força de matamba/ É dela o trono onde reina o samba”, que prepara para a explosão em “Sou a voz do gueto…”, único “senão” que colocaria é neste mesmo refrão a palavra “dona” de “dona das multidões” que acaba tendo a acentuação um pouco forçada para caber na melodia, mas de resto a obra vem realmente se transformando e tem rendido bons frutos não só para o quesito como para harmonia, evolução e bateria. Rendeu muito, mais uma vez.
Evolução
Evolução ainda é um quesito que a Mangueira precisa dedicar um pouco mais de atenção. Ainda que a fluidez e o ritmo que os componentes evoluíram estava muito bom, com cadência, sem correr, curtindo o samba, em alguns momentos ainda pode-se perceber alguns espancamentos maiores, principalmente, nos deslocamentos entre a ala e o tripé que representava alegoria, esse tempo e esse controle de quando a ala a frente deve andar ou segurar, ainda pode melhorar um pouco mais para não gerar problemas no dia oficial.
No início, se percebeu uma quantidade maior de alas com coreografia, mas isso não prejudicou a evolução e protagonizou um bonito efeito, principalmente em duas alas em que os componentes vinham de saia. Aliás, alguns adereços interessantes foram vistos nos dedfilantes, com uma espécie de bambolê simulando a saia de fantasias.
Importante destacar que muita gente dançou e sambou, muito pelo excelente ritmo produzido pela bateria, realmente muito gostoso de se ouvir e tornando as “dancinhas” espontâneas, bem dentro do enredo. No final, destacar uma ala que fazia uma coreografia que lembrava alguns “passinhos” de fundo, que brilhavam mais ainda quando a bateria fazia a bossa no ritmo, na segunda do samba.
Outros destaques
Antes do início da apresentação, a escola prestou homenagem com um minuto de palmas para a carnavalesca da Mocidade Independente de Padre Miguel, Márcia Lage, que faleceu no último domingo. O carnavalesco Sidnei França veio à frente da escolar curtindo o ensaio.
A rainha de bateria Evelyn Bastos marcou presença com muito samba no pé e sensualidade. Destaque para a ala de xequerês da Mangueira, que já se tornou tradicional na “Tem Que Respeitar Meu Tamborim” por trazer sempre uma linda sonfonia para os ouvidos com suas bossas e um colírio para os olhos com suas coreografias, bom demais. E o momento fofura ficou para uma ala de crianças que vinha no final.