Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Reconhecida nos últimos anos como uma agremiação que investe em sambas-enredo potentes, o Barroca Zona Sul impactou no primeiro ensaio técnico da agremiação, realizado no último sábado. Se a qualidade da obra é inquestionável, agora, a Faculdade do Samba soube transformar a competência advinda dos compositores da agremiação em sintonia com desfilantes e público presente. As arquibancadas cheias, que esperaram para ver a instituição do Jabaquara desfilar, corresponderam à altura e assistiram uma apresentação muito competente. O Barroca Zona Sul será a segunda agremiação a desfilar na sexta-feira de carnaval (28 de fevereiro), com o enredo “Os Nove Oruns de Iansã”.

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Comissão de Frente

A impactante apresentação começou logo na comissão de frente. Menos pela presença de uma personagem representando Iansã, em uma bela fantasia preta, prateada e vermelha, e mais pelos elementos cenográficos presentes: nove ao todo. Desses, oito eram pequenos espaços circulares inteiros amarelos em que oito componentes se movimentavam e interagiam. Atrás deles, uma espécie de palco, também circular e bem maior, em que outros integrantes dançavam. O quesito despertou curiosidade.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Mais uma grande noite de Lenita Magrini e Marquinhos Costa. O entrosamento já característico da dupla esteve mais uma vez evidenciado, com giros bastante rápidos e uma eficácia tocante na dança, com raios longos e ocupando com primor o espaço entre os guardiões. Com ambos de verde, o vestido de Lenita, tal qual aconteceu no minidesfile, dava a impressão que ambos levitavam na passarela.

BarrocaZonaSul et PrimeiroCasal 1

Harmonia

Se o canto da escola foi forte em todas as alas, duas merecem destaque por, em muitas outras coirmãs, não terem tanto destaque ao entoar o samba: a das crianças (que veio no espaço destinado ao último carro alegórico) e a de passistas, que mostrou que o samba não está apenas na ponta do pé, mas também na ponta da língua. Estreando como intérpretes oficiais da Faculdade do Samba, Cris Santos e Dodô Ananias esbanjaram simpatia com os componentes e interagiram bastante com o público, sempre se complementando.

BarrocaZonaSul et InterpretesCrisDodo

O ótimo trabalho de intérpretes, carro de som e bateria, por sinal, foi recompensando: a arquibancada cantou junto com a agremiação do começo ao fim do desfile – com especial atenção ao momento em que a “Tudo Nosso” executava uma paradinha apenas com os atabaques, instante em que o carro de som também parava e a arquibancada entoava a canção. Ao todo, foram três convenções como essa – e, em ao menos uma delas, Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio, popularmente conhecido como Cebolinha, presidente da agremiação, vibrou bastante. Quem também foi flagrado radiante foi Pedro Alexandre, o Magoo, carnavalesco da agremiação.

BarrocaZonaSul et InterpreteDodo

Ao fazer um apanhado geral da “Tudo Nosso”, mestre Fernando Negão detalhou a agenda dos ritmistas: “Vamos ensaiar amanhã na nossa quadra, na quarta-feira vamos ajustar alguns detalhes, fazer algumas reuniões com a diretoria para ver os pontos positivos, os pontos negativos e tentar consertar para o próximo ensaio”, destacou.

Evolução

Basicamente metade das alas do Barroca tinha algum tipo de adorno, que criaram uma excelente estética para a movimentação da escola. Mais do que isso: o sucessos dos leques no naipe de chocalhos da bateria se repetiu, criando ótima interação com o público. Foi perceptível notar o quanto a escola se encontrou com o enredo e com o samba, desfilando leve e sorridente – e com uma liberdade maior, quando comparada a outras coirmãs, para se movimentar mais livremente. O falso refrão após o refrão de cabeça, inteiro em idioma africano, também era a deixa para que todos se movimentassem e fizessem movimentos com as mãos, tal qual a representação de Iansã.

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Douglas Pinto, um dos diretores de Harmonia da agremiação, entretanto, acredita que é possível melhorar em alguns aspectos: “Para melhorar, acho que é o problema de todas as escolas, a assiduidade dos componentes na quadra e nos ensaios específicos. Chega aqui e reflete que uma parte já stá mais evoluída, a outra não. O público do carnaval hoje é outro, a gente tem que trabalhar com o pessoal que chega. Esse é o ponto negativo. Muita gente chegou aqui pela primeira vez. A positiva é que a resposta veio bem. Da entrada da pista para cá, acho que já fluiu melhor. Do começo da pista para o final, já senti uma diferença. Ajustamos muito coreografias, ajustamos comissão, casal, ajustamos apresentações. É ensaio, ensaio é isso e é para isso. A gente não vai falar que acertou tudo porque é mentira, ninguém acerta tudo. A gente quer melhorar a cada ensaio. E foi um bom termômetro hoje aqui”, comentou.

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Samba

No dia em que o samba foi apresentado à comunidade, Ewerton Cebolinha disse à reportagem que esse era o melhor samba-enredo do Barroca desde 2019. A fala do mandatário verde e rosa mostrou-se profética: com ótima execução por parte da dupla de intérpretes e excelente sustentação por parte da “Tudo Nosso”, ele foi cantado ao longo de toda a apresentação por componentes e arquibancadas. O refrão de cabeça, em especial, tinha muita sinergia entre passarelas e arquibancadas.

BarrocaZonaSul et

Douglas elogiou o desempenho da canção na avenida: “Eu acho que a comunidade já pegou muito bem o samba. A parte da harmonia está bem afirmada. O samba é bom, o samba pegou bem. Faltaram algumas alas do interior que tiveram problemas por conta do horário, mas a escola veio com, praticamente, 80% do contingente total. A gente conseguiu sentir o samba. Claro que sem o som da avenida, com carro de som, dá um delay. É óbvio, normal. Mas, aí, acho que a resposta foi muito boa. Na questão de evolução, também demos um avanço. Compactamos mais a escola. Acho que foi bom, foi muito bom. Para um primeiro ensaio, foi bom. Temos mais dois. A sorte é que temos três esse ano, então esse daqui vai nos dar uma noção para os outros dois”, vislumbrou.

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Outros destaques

Já conhecidas do carnaval paulistano, as duas destaques à frente da “Tudo Nosso” abrilhantaram o desfile: Raíssa Moreira, a princesa, e Juju Salimeni, a rainha – que, inclusive, estava de vermelho para representar Iansã.

BarrocaZonaSul et RainhaJuju 1

Sobre o desempenho dos ritmistas em si, Fernando destacou que ainda há margem para melhora: “Hoje o ensaio foi muito bom, mas ainda estamos em uns setenta ou oitenta por cento. Vamos ajustar algumas coisas na bateria, algumas escapadas, algumas falhas, para o próximo ensaio ser muito melhor. Mas temos que manter essa garra, essa dedicação, esse empenho, essa alegria e essa concentração da galera”, comentou.

BarrocaZonaSul et MestreFernandaoNegao

Também é necessário destacar a elegância da ala das baianas, com um rosa mais escuro e em tons de verde mais claro, criando um contraste extremamente agradável.

Colaboraram Naomi Prado, Nabor Dalvagnini, Lucas Sampaio e Gustavo Lima

Veja mais imagens do ensaio

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