Por Gabriel de Souza e Raphael Lacerda
O Centro de Caxias se tornou paraense na noite do último domingo. Com a força do canto da comunidade caxiense e sob a proteção das águas de Nazaré, a Acadêmicos do Grande Rio deu início à temporada de ensaios de rua na Avenida Brigadeiro Lima e Silva, no coração da cidade.
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A escola estava praticamente completa – com exceção da comissão de frente, que costuma ensaiar separadamente durante este período. Ao todo, o desfile pelas ruas da Baixada durou pouco mais de uma hora. O trecho de cerca de 800 metros ficou tomado por componentes e por torcedores, que não perderam a oportunidade de prestigiar a Tricolor da Baixada.
O diretor de carnaval da agremiação, Thiago Monteiro, destacou que os ensaios de rua têm o papel de iniciar acertos na evolução do desfile. Para ele, o samba e a força do canto da comunidade serão os pontos de destaque nesta temporada de treinos.
“Os ensaios de quadra já começaram há dois meses e, agora, é poder “esticar a jiboia” – acertar partes de evolução, harmonia e fazer esse casamento do andar da escola. Temos uma comunidade experiente e que não mudou desde o último carnaval. No primeiro ensaio, a gente vê tudo o que foi feito durante esses meses. Agora, é colocar para avançar. O ponto forte é a gente pegar esse samba – que para mim é o melhor do Carnaval – e manter no nível que ele está. O samba é tão bom que, se crescer mais, estará ótimo. Mas ele já está num nível excelente pelo o que vemos nas terças (ensaios de quadra). Agora, nossos segmentos precisam traduzir isso para o itinerante (ensaio de rua)”, avaliou o diretor de carnaval.
Campeã em 2022 e consolidada entre as melhores desde 2019, a Grande Rio bateu na trave no último carnaval ao garantir a terceira colocação. Thiago acredita que as correções são pontuais, mas que a escola já possui uma receita de como fazer um grande espetáculo.
“A Grande Rio já tem bem definida e estruturada a sua forma de desfilar. É lógico que muda alguma coisinha ou outra, mas são coisas pontuais. Acredito que a gente encontrou uma forma de desfilar e posicionar a escola, e tem dado certo. Não temos muitas mudanças, mas é preciso entender que o enredo é outro e que o personagem que o componente vai defender é outro. No escopo geral dessa estrutura, é tudo muito parecido”, disse.
A harmonia caxiense tem sido um ponto fundamental nessa virada de chave iniciada com Joãozinho da Gomeia, em 2019. A escola garantiu os 30 pontos no quesito por três carnavais seguidos, mas pecou no último desfile – ao menos, na opinião dos jurados. Com “Nosso destino é ser onça”, o segmento amargou dois 9.9 e um 9.7.
No entanto, o samba-enredo composto por mestre Damasceno e parceiros promete levar a harmonia da escola de volta à normalidade de excelência. Para um dos diretores de harmonia da agremiação, Clayton Bola, a tendência é melhorar a cada ensaio que passa. “A expectativa é a melhor possível. É o que nós sempre falamos, é um dia atrás do outro. Se o ensaio de hoje foi bom, é repetir na próxima semana”.
A expectativa é a mesma para o intérprete Evandro Malandro. Após o ensaio, o músico também destacou o ótimo rendimento do samba e a força do chão da escola – opinião que parece ser unânime dentro da equipe.
“A gente tem tudo para fazer com que o samba ecoe cada vez mais. A nossa arrancada foi maravilhosa e a Grande Rio deu um show na avenida. Foi muito bacana ver aquela Grande Rio que estava na quadra cantando a plenos pulmões. A gente já estava doido para ir para a rua, mas o nosso diretor de carnaval Thiago Monteiro esperou o melhor momento, juntamente dos nossos diretores de harmonia. Eles foram as cabeças pensantes para entender o melhor momento de vir para a rua. E foi o momento certo”, analisou o intérprete.
Questionado sobre o que repetir do último carnaval e o que fazer diferente, Malandro foi objetivo: “Tudo. O canto, bateria, andamento, carro de som e comunidade. O que não fazer? Não parar de cantar depois do fechamento dos portões (risos)”.
Responsável por abrir o ensaio de rua, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Daniel Werneck e Taciana Couto mostrou um breve pedaço das coreografias que estudam levar para a Passarela do Samba. Os dois se apresentaram com as quatro cabines de julgadores já demarcadas. Segundo a diretoria da escola, o posicionamento de cada uma respeitava o tamanho real da Marquês de Sapucaí.
“A expectativa é sempre enorme, porque a gente vê se o samba irá ou não funcionar. Nós sempre temos algo para melhorar, porque estamos em processo de montagem da coreografia, apesar de ter testado algumas coisas no minidesfile. Nós estamos nesse processo de pesquisa e melhora”, detalhou a porta-bandeira.
“Acredito que nós iremos sentir a comunidade hoje. Para saber o que iremos melhorar e vamos embora, porque ensaio é para isso”, completou o mestre-sala.
Na bateria, mestre Fafá aproveitou para testar algumas bossas e reafirmar a excelência do quesito. Sobre comentários feitos após o minidesfile, ele reafirmou o lema que rege os ritmistas caxienses.
“Vou seguir a minha linhagem de sempre: silêncio e trabalho. Recebemos algumas críticas no minidesfile, e eu já tinha prometido a mim mesmo que não falaria mais com ninguém da imprensa. Tem muita bateria colocando o andamento para trás e ninguém da imprensa pergunta. É sempre a mesma pergunta para a bateria da Grande Rio. Para o primeiro ensaio, acredito que foi bom. Ainda temos muito para evoluir, mas é um dia de cada vez. O nome já diz: é ensaio. Depois, a gente tem que sentar e ver o que errou e o que acertou para poder melhorar a cada dia”, desabafou.
Questionado sobre o que manter e o que fazer diferente, Fafá disse que “é manter o que fizemos e que resultou na nota máxima. Melhorar os pontos da escola e da bateria que a gente errou no ano passado para poder subir mais duas posições e conquistar o título novamente”.