A Unidos de Padre Miguel pela primeira vez gravou para o álbum das escolas de samba do Grupo Especial, sob a batuta da Liesa, no último dia 30 de setembro, no Century Estúdio. O Boi Vermelho foi muito animado para o momento histórico, conforme constatou o mestre Dinho, comandante da bateria “Guerreiros”. Ele iniciou contando sobre o andamento escolhido para a gravação da faixa, e o uso de alguns instrumentos e arranjos pensados para o samba da escola. Destacou muito a união da escola e da comunidade nessa subida ao Grupo Especial.
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“Botamos o andamento em 140 BPM (batidas por minuto) porque fica melhor até pra apresentar melhor o samba. Botamos alguns arranjos com atabaque, agogô, conga.Bem afro mesmo. Eu tenho muitos anos dentro da escola. Na verdade, eu me criei dentro da Unidos, e hoje a gente tem essa sensação de estar no Especial nesse momento maravilhoso. É um ponto muito alto da escola, que é a comunidade, essa união que a gente tem, eu estou muito feliz, é um grande samba, uma grande obra, a união da Vila Vintém, é o ditado: ‘lá se aprende a amar o samba’. Essa é a verdade”.
Cícero Costa, um dos diretores de carnaval, acompanhou a gravação, e comentou em entrevista o que pode se esperar da faixa da escola, a parte do samba que mais mexe com ele e o que representa estar na gravação do álbum do Grupo Especial.
“Particularmente, essa gravação é importante, é um sonho. A gente lutou bastante tempo para estar aqui e hoje estar aqui é de uma felicidade. Espero que o trabalho esteja sendo bem feito, para que, mais uma vez, a gente possa entregar o melhor de nós. Podemos esperar um samba, um espetáculo de samba. Graças a Deus nós fomos felizes na junção e e espero que esteja de agrado de todos, que possa ser um dos melhores do carnaval. A gente seguiu os critérios da gravação e deixamos uma entrega bem legal para o povo, para o pessoal que curte os sambas-enredo, demos o nosso melhor ainda na gravação. O refrão é o que mais mexe: ‘Vila Vintém é terra de macumbeiro’, tenho certeza que a comunidade vai gritar. Vai gritar esse refrão, e não só o refrão, como o samba no todo”.
Bruno Ribas, intérprete da UPM, se preparou bem para poder colocar a voz no samba da escola, e ressaltou que o melhor período para as gravações seria após o fim das disputas de samba, para o melhor uso da voz dos intérpretes.
Ouça o samba-enredo da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025
“A preparação é exercício vocal, água, bom sono, só que isso tudo só vale quando tem tempo de fazer. É algo que eu pretendo colocar para produção, porque é importante que seja visto a gravação no final do mês de outubro, onde todo mundo já acabou suas tarefas e está fazendo o melhor uso da voz. A preparação é bastante água, sono quando dá tempo”.
Com a Unidos tendo um samba que emociona o intérprete por inteiro, Bruno também comenta como mistura a técnica e a emoção na hora de botar a voz na faixa da escola. “É feito uma mescla de emoção com técnica. Não pode faltar sentimento. Se você não reporta, não transporta o teu sentimento para dentro do que você está fazendo, você não tem razão para fazer aquilo, porque não consegue conquistar as pessoas que estão do outro lado ouvindo”.
Por fim, para Bruno Ribas, ver o Boi Vermelho no álbum do Especial mexe muito, e dá um sentimento muito satisfatório: “É de satisfação total. É poder estar num projeto no qual eu participei de boa parte desse processo, porque eu não estou na UPM de agora, eu estou na desde 2001, eu também me faço contribuinte para que isso tenha acontecido, e agora estar aqui, junto, imagina, é muito maravilhoso, e, acima de tudo, eu estou orgulhoso”.
Júlio Assis, diretor musical da escola, ficou responsável pelo arranjo da obra. Ele contou o que foi pensado, especialmente pela temática do enredo, que apresenta a história de Iyá Nassô e da Casa Branca do Engenho Velho.
“Como é um tema afro e religioso, está bem presente no arranjo, a questão dos atabaques, também tem o coro feminino, que vamos explorar bastante isso. É um samba que está deixando a gente muito feliz desde a escolha e vai todo mundo gostar. Como é o primeiro ano da Unidos de Padre Miguel no Grupo Especial, eu me preocupei bastante em mostrar a obra, deixar o mais limpa possível para que todo público tenha o entendimento total do que é o samba da Unidos de Padre Miguel. Procurei não poluir muito de elementos. Claro que tem partes são voltadas para a temática do enredo. Mas procurei não poluir muito para que o povo conheça bem a obra em si”.
Os compositores Thiago Vaz e Chacal do Sax também estiveram presentes na gravação do samba, e concederam entrevistas ao CARNAVALESCO. Eles falaram sobre a relação com a obra, fruto da junção de ambas as parcerias. Thiago comentou a importância do samba deste ano para a vida dele. “No ano passado, eu tive o prazer e a felicidade de compor o samba que fiz a escola subir e aí já tinha sido um samba importante, mas aí esse ano veio com uma responsabilidade ainda maior. Esse ano tem um sabor muito especial de ter feito o samba-enredo que estará no Grupo Especial”.
Galeria de fotos da final de samba da Unidos de Padre Miguel para o Carnaval 2025
Para o compositor Thiago Vaz, diversas são as parte do samba que tocam seu coração e traduzem de forma muito sensível o enredo da Unidos sobre Iyá Nassô: “Esse samba tem muita sensibilidade, e a primeira parte é muito bonita, tem muita informação litúrgica do que diz o enredo, refrão do meio que é muito balanceado, e que a gente aposta muito. A parte que mais me toca é a hora da chamada ‘toca o adarrum, que meu orixá responde’, eu acho que ali é a hora da comunidade bater no peito e falar com orgulho que é Unidos de Padre Miguel. E ‘Olorum guia o Boi Vermelho seja onde for’, é fazer toda essa ancestralidade, guiar primeiro fazer ele não só se manter no Grupo Especial, mas como chegar entre as primeiras que é o grande objetivo da escola. Com a junção, eu acho que tem tudo para ser um samba para brigar pela obra do carnaval. Eu não tenho dúvida que esse samba vai render muito bem, primeiro que ele vai começar lá na comunidade, que canta muito. Vai alcançar níveis muito altos quando começarem os ensaios. Não tenho dúvida que o rendimento desse samba vai ser bom, ele é muito rico de melodia, ele tem muita nuances melódicas”.
Para o compositor Chacal do Sax, o refrão da obra mexe com ele e com todos os praticantes de religiões de matriz africana, por conta do orgulho, afirmação da fé, acima de qualquer vergonha, e funciona como um brado de respeito.
“Sou um cara apaixonado pela UPM. É o quarto ano que eu boto samba e é a terceira vez que eu ganho. A escola já merecia estar no Grupo Especial há muito tempo. Ese samba vai ficar marcado na minha vida. Hoje, muita gente bate no peito e fala, ‘eu sou macumbeiro mesmo, e aí? Me respeita e pronto, acabou’. Por isso, o nosso refrão diz que a ‘Vila Vintém é terra de macumbeiro. Essa mensagem é muito bacana. Eu tenho certeza que vai ser avassalador. O samba é emocionante, alegre, guerreiro. Tem um conjunto de qualidades ali que vai repercutir muito bem na Sapucaí”.