Para a comunidade da Tom Maior, 2009 é um ano mais do que especial. Naquele ano, a agremiação apresentou o enredo “Uma nova Angola se abre para o mundo! Em nome da paz, Martinho da Vila canta a liberdade!” e encantou boa parte de quem acompanhava o desfile no Sambódromo do Anhembi ou pela televisão no que é, para muitos, o desfile mais marcante da vermelho e amarelo. Em 2025, a escola reeditará a temática – e foi a deixa para que o CARNAVALESCO pedisse para componentes-chave da instituição relembrarem a marcante apresentação. A reportagem, em contato com alguns componentes bastante importantes da escola da Zona Oeste paulistana, perguntou quais eram as principais lembranças daquela apresentação – e as respostas foram as mais diversas possíveis.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Início arrebatador

Boa parte dos entrevistados destacou o quanto a “cabeça” (ou seja, os primeiros segmentos) da escola em 2009 foi marcante. Um deles foi Flávio Campello, carnavalesco que comandará a reedição do enredo: “A minha grande lembrança daquele desfile de 2009 é a emoção do início do desfile, que tinha o peso da Guerra Civil Angolana. Aquela abertura de desfile talvez tenha sido o mais impactante. Sempre quando as pessoas lembram daquele carnaval, obviamente elas sempre associam a essa entrada, essa abertura. Eu garanto, em 2025, não teremos isso”, destacou, aproveitando para frisar a principal diferença entre as apresentações.

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Carnavalesco Flávio Campello

Outro setor que vem logo no começo da escola e é muito lembrado por todos que compõem o carnaval paulistano é a comissão de frente. À época coreografada por Luiz Mario Vicente, os integrantes simulavam o drama de refugiados da Guerra Civil Angolana – com direito a choro de uma mãe que perdeu o filho e com pessoas com membros decepados. Yaskara Manzini, que estreará como coreógrafa na Tom Maior em 2025, detalha: “Para mim, chama muito a atenção a comissão-de-frente. Além de coreógrafa, eu sou pesquisadora e professora universitária. Foi uma das primeiras vezes que a gente viu, de fato, uma teatralização na pista. O que a pessoa chama de teatro hoje em dia, com personagens e etc… por vezes, isso é dito muito levianamente. Se você ouvir um personagem, você tem que pensar como é isso emocionalmente. Normalmente, o personagem tem uma história pregressa. E, naquela comissão-de-frente, a gente via pessoas que tinham estudado muito o tema que elas construíram para construir também os personagens. Para mim, naquele desfile que podemos chamar de ensinamento, o que mais me chamou a atenção foi a seriedade e a dramaticidade daquela comissão de frente, que estava muito ligada aos cânones do teatro convencional, do teatro que a gente assiste para fora da uma escola de samba”, pontuou.

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Yaskara Manzini, coreógrafa da Tom Maior em 2025

Diversidade de opiniões

Outros componentes citaram mais de um segmento ao relembrar o histórico desfile. Mostrando alinhamento até mesmo nas lembranças, o casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição está nessa lista. Com muito entusiasmo, Ruhanan Pontes fez as suas escolhas: “Eu acho que o desfile de Angola… eu acho o desfile muito fod*. Eu não consigo citar só um, vou citar três coisas que me marcaram. O primeiro foi a comissão-de-frente, que é sensacional, no período da Guerra Civil Angolana. Pesadona a comissão-de-frente. Eu gosto muito, em seguida, do abre-alas, também. Eu acho muito louco, tinha aquelas caveiras com as metralhadoras, como se tivesse em guerra. A coreografia da bateria, a bateria do Mestre Carlão nesse ano, eu acho que foi a sensação do carnaval… não só pela coreografia, mas também pelo ritmo e pela batida de caixa antiga, que era sensacional também. Eu também gosto da batida de agora, mas eu acho que a bateria era mais… não sei explicar. E a roupa do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira também, eu gostava muito da roupa. A roupa do primeiro casal é sensacional”, comentou.

Ana Paula Sgarbi foi um pouco mais enxuta ao falar das lembranças de 2009: “Eu acho que, quando me perguntam do desfile, a primeira coisa que vem na minha cabeça é a comissão-de-frente. Eu também cito o casal de mestre-sala e porta-bandeira, também: eu me lembro muito deles no desfile. Até quando falaram de reeditar, eu voltei a assistir para olhar de novo. Vai ser um contexto completamente diferente, mas eu fiz questão de ir lá e de lembrar esses momentos”, dissecou.

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Ruhanan Pontes e Ana Paula, casal da Tom Maior

É importante relembrar que o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira em 2009 eram os históricos Jairo Pereira e Simone Gomes, que desfilaram entre 1993 e 2003 e entre 2007 e 2022 na instituição.

Para Carlos Alves, o Carlão, presidente da agremiação desde 2023 e mestre da Tom 30 (bateria da escola) desde 1999, há outro ponto de atenção: “A grande lembrança daquele desfile foi o quanto ele paralisou muito as pessoas quanto à história contada. Mas, em 2025, a nossa abordagem vai ser bem diferente. A nossa abordagem em 2025 é muito mais alegre, mais para o lado da religião e das riquezas que Angola tem”, comentou, aproveitando para falar sobre o que será apresentado no próximo ano.

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Carlão, presidente e mestre de bateria da agremiação

Também de olho em 2025, Gilsinho, intérprete da Tom Maior desde 2022, prometeu uma exibição ainda mais marcante no ano que vem: “Eu assisti várias vezes o desfile, achei que foi um desfile muito bom, a escola estava muito bem e a gente espera que a escola venha bem melhor do que naquele desfile. Não adianta a gente pensar que vamos vir no mesmo patamar, não: a gente tem que vir pra briga mesmo, tem que vir pro pau. A gente tem que vir melhor do que foi naquela época. Claro que as pessoas mudaram, mudou muita gente, poucas pessoas que estão aqui hoje participaram daquele desfile de 2009. Mas a essência da escola está aí. A essência é a mesma, a mesma vibração, a mesma motivação. A gente vai cantar muito! Eu espero que a escola consiga cantar mais forte do que cantou em 2009 e fazer um grande desfile”, afirmou.

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Gilsinho, intérprete da Tom Maior

Execução impecável

Outro ponto muito elogiado pelos componentes da escola, como não poderia deixar de ser, é o histórico samba-enredo. Composto por Maradona, Claudinei, Amós, Ferracini, Ricardo e Tinga, a obra novamente será executada no Anhembi. Erica Ferreira, diretora-geral da Tom Maior, relembrou: “Na avenida, assistindo a Tom Maior, o que mais me chamou atenção foi o samba-enredo e a emoção que aquele desfile e toda a parte artística proporcionaram. A bateria fez uma bela coreografia, foi um desfile explosivo; mas, ao mesmo tempo, mexeu com o nosso emocional. Em 2025, vão ver uma outra Tom Maior. A Angola de 2009 vai encontrar o Brasil de 2025 – e vice-versa: os irmãos vão se encontrar. Juntando os dois desfile, o que mais vai ficar em voga é a ancestralidade: a força ancestral de um povo que a Tom Maior vai carregar”, comentou.

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Erica Ferreira, diretora-geral da Tom Maior

A supracitada coreografia da bateria em 2009 contou com uma bossa que durou uma passada inteira do refrão do meio com alguns integrantes, fantasiados de maneira distinta do branco majoritário dos ritmistas, levantando placas que formavam o nome da escola junto. Tudo isso aconteceu à frente do box onde a Tom 30 recuou.

Mesmo com um show lembrado em verso e prosa pelos fãs do samba em 2009, Carlão acredita que é possível fazer muito mais: “Se teve um quesito em São Paulo que evoluiu muito o nível nesses últimos quinze anos foi o de bateria, as baterias no geral. É diferente, o projeto é diferenciado – e, com certeza, o samba é muito bom. É o nosso samba mais conhecido e também o mais conhecido da Tom Maior na comunidade de samba, todo mundo conhece esse samba. Vamos fazer grandes arranjos, fazer uma grande exibição, a nossa bateria (e as bateria em geral) com certeza evoluiu e evoluíram muito”, finalizou.