Alceu Maia, mais uma vez, produz o álbum das escolas de samba do Grupo Especial. Em entrevista ao CARNAVALESCO, ele conta sobre a produção das faixas, como estão as gravações, e o que foi pensado para o álbum neste ano. O produtor começou relembrando dos anos envolvidos com o trabalho e as diferenças dos últimos álbuns.

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Fotos: Matheus Morais/CARNAVALESCO

“São mais de quarenta anos, trabalhando neste disco como músico, tocando cavaquinho, eventualmente outros instrumentos, depois passei a fazer arranjo, ser um dos arranjadores, depois produzi durante dois, ou três anos, aí saí dessa função. Recebi um convite da Liga, um convite muito carinhoso, feito de uma maneira tão bacana, que eu não pude, não tive como não aceitar. Aí estou nesta função agora, um pouco diferente, porque o jeito de produzir agora é diferente do de antes. Em 2023 foi um disco de estúdio, o disco do ano passado outro modelo e o deste ano um outro modelo diferente dos dois. A gente tem que pesquisar, pensar, a equipe toda trabalhando junto para este novo formato que a gente vai apresentar para vocês”.

Para o músico, o álbum tem ter como característica principal em relação a execução das obras, o DNA de cada escola, além de comentar sobre a quantidade e execução de bossas dentro da gravação dos sambas deste anos, falando que foi optado por um caminho mais “light”, além de comentar sobre a não inclusão de alusivos no álbum deste ano.

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“O principal é a essência de cada samba, a essência de cada bateria, o DNA de cada escola tem que estar representado ali, que é o que a gente tenta trazer desde sempre. Sobre as bossas, a gente sempre tem uma reunião antes, e os mestres de bateria, todos presentes, concordaram fazer algo para priorizar a obra musical em si, e todos eles são super competentes, e cada mestre também tem seu estilo e a sua personalidade que está sendo representada. Em relação aos alusivos, hoje em dia o mercado da música é muito imediatista, no ano passado a gente teve uma visão diferente, porque a gente fez uma gravação registrando, ao vivo, as baterias de cada escola. Se a gente fizesse o alusivo não ia ter sentido estar a bateria toda ali montada, tocando e ter outra coisa diferente, e isso já gera um outra mixagem, e o disco, a gente tem um prazo muito apertado para entregar, e foi por isso que a gente pensou nessa não inclusão dos alusivos”.

Sobre cacos nas gravações, Alceu afirma que esse papel é mais para o coro ou para um outro cantor, no caso de agremiações com mais de uma voz principal, ficando muito estranho quando o próprio cantor é a sua segunda voz.

“Não faz muito sentido ter o cantor cantando e ao mesmo tempo, a voz deste cantor fazendo os cacos, fica uma coisa muito falsa, fica estranho você ouvir a mesma voz. Quando eu fazia os arranjos e produzia, eu brincava que eles gostam de fazer segunda voz, mas o próprio cantor fazendo segunda voz na voz dele, e aí eu brincava, falava com eles: ‘Existe Chitãozinho e Chitãozinho? Existe Zezé di Camargo e Zezé di Camargo?’, e ano passado, quando a gente tinha essa segunda voz, ou era feita pelo cantor da escola, ou era feita pelo coro, mas é uma coisa mais indicada para o coro, do que para um cantor fazer sozinho”.

Alceu também comentou das novidades, focando na forma em que está se dando a gravação, misturando os formatos e buscando uma sonoridade nova.

“Vou usar um termo que o Zé Katimba, meu grande parceiro, fala, quando a gente pergunta das novidades: ‘as novidades são as antigas’. Neste ano não estamos gravando nem todo mundo como se fosse estúdio, nem todo mundo como se fosse ao vivo. A gente grava algumas coisas juntas, como caixa e repiques, todos os tamborins, os surdos gravados juntos também, e isso não é uma adaptação, mas é uma realidade de se gravar fazendo essa mistura entre a gravação de estúdio e a gravação ao vivo, para ter uma sonoridade mais característica de uma nova visão, mas dentro de uma visão antiga também. Ou seja, as novidades são as antigas”.

Por fim, seguindo a fala sobre o estúdio, Alceu Maia comentou como está sendo o passo a passo das gravações das escolas, seguindo o cronograma de um dia de gravação para cada escola.

“Já dei uma dica mais ou menos. Estamos gravando os surdos, dois de primeira e segunda juntos, depois dois de terceira, depois as caixas e os repiques juntos, depois os tamborins, e depois os complementos, agogô, cuíca, chocalho, o que tiver de instrumentos menos, e depois a gente grava as harmonias, cavaquinho e violão, solinhos que uma escola tem, aí o coral, a voz e a gente deixa tudo preparado. Em um dia só a gente grava desde de manhã até de noite, tudo que tiver que ser gravado, até a voz”.