Por Luan Costa, Lucas Santos e Guibsom Romão

Na decisão mais apertada da história centenária da Portela, segundo o presidente Fábio Pavão, a Majestade do Samba consagrou a parceria de Samir Trindade, Fabrício Sena, Brian Ramos, Paulo Lopita 77, Deiny Leite, Felipe Sena e JP Figueira como vencedora do concurso de samba-enredo para o Carnaval 2025. O resultado foi divulgado depois de 6h deste sábado e a quadra seguiu lotada para festa dos portelenses. A escola, em 2025, homenageará o cantor e compositor Milton Nascimento com o enredo “Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol – Uma homenagem a Milton Nascimento”, que será desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga.

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Foto: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

O compositor Samir Trindade, quatro vezes campeão da disputa de samba-enredo da Portela, conversou com o CARNAVALESCO após a vitória na escola.

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Compositor Samir Trindade venceu pela quarta vez na Portela

“É a quarta vez campeão aqui na Portela, mas dessa vez é especial, eu estava engasgado, alguns vices seguidos, muito sofrimento, muita luta e resiliência, mas essa torcida merece muito, é uma torcida que me carrega aqui, é uma torcida da comunidade, estavam com a espinha na garganta pra gritar é campeã. Eu tenho certeza que a Portela vai chegar na avenida com um grande samba, estou muito feliz. Quem acredita na vida não deixa de amar e eu nunca deixei de amar a Portela”, disse o compositor Samir Trindade.

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O compositor Paulo Lopita 77, que também venceu pela quarta vez, celebrou a conquista: “Eu ganhei na Portela por três anos seguidos, 2016, 2017 e 2018. Ganhei com o Samir. Estamos nesta parceria juntos há 20 anos. Já tinha um tempinho que a gente não ganhava. É um novo tempo, uma conquista muito grande. Foi muito trabalho, muita luta, vem com um sabor muito grande. Esperamos que esse samba possa ser para a Portela muito importante na Avenida, assim como a gente ganhou aqui, que ela possa ganhar lá. E fazer samba sobre o Milton, que é um grande artista, não foi fácil, tivemos que estudar muito, mas gerou essa grande obra”.

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Compositor Brian Ramos

O compositor Brian Ramos comemrou sua primeira vitória na disputa de samba da Portela. “A primeira conquista, a primeira vez. Sensação indescritível, ano passado vice-campeão, esse ano campeão, estou realizando um sonho de infância. Realmente, quem acredita na vida não deixa de amar”.

Feliz com a safra de sambas da Portela para o Carnaval 2025, o presidente Fábio Pavão conversou com o CARNAVALESCO sobre a disputa e abordou também a confiança da escola no enredo e na comissão de frente.

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Presidente Fábio Pavão

“Eu queria aproveitar para parabenizar a ala de compositores da Portela pela qualidade nas obras e pelo engajamento que eles tiveram nesse concurso, pela forma como esse concurso de samba aconteceu. Ser compositor da Portela, ninguém no mundo pode entender, mas requer que a pessoa tenha um conjunto de valores de respeito ao samba, de respeito à Portela. A minha confiança no enredo de 2025 é total. Os carnavalescos, o André e o Antônio, desde que propuseram o enredo, tudo que vem sendo feito até agora e vem sendo apresentado é de grande excelência! A sinopse, os sambas, as fantasias, e agora é uma parte importante que culminou o processo de escolha com um grande samba. Também tenho confiança total na nossa comissão de frente. “Tanto que nós renovamos os coreógrafos que perderam um décimo agora e que gabaritaram no ano anterior”.

‘Milton Nascimento está feliz’, garante carnavalesco

No segundo ano a frente do carnaval da Portela, os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga se mostraram já mais entrosados com a comunidade e com a expectativa de fazer um desfile ainda melhor que em 2024.

“Acho que a gente está bem esperançoso agora, essa é a palavra e eu acho que na noite de hoje a gente está muito tranquilo. É um sentimento de serenidade também. A Portela está muito feliz com o trabalho que a gente fez e com o enredo. Estamos muito empenhadados em fazer um grande carnaval e melhor até que o último que passou”, analisa André.

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Os pesquisadores da Portela com os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga

“Foi um passo muito importante para a escola nessa reconexão com a forma de fazer carnaval competitivo e forma de fazer carnaval feliz. A escola está muito feliz e a gente espera acelerar ainda mais este processo. E o Milton Nascimento também está muito feliz. Ser homenageado pela Portela, acho que é a maior alegria que uma pessoa pode receber em vida. Ele está muito, muito contente. A gente tem um contato de muito respeito, de troca. Ele está muito lisonjeado e na expectativa de um grande carnaval, de uma grande homenagem”, acrescentou Gonzaga.

André Rodrigues revelou qual em sua opinião será o grande trunfo para a Portela no próximo carnaval.

“O que a gente está sentindo hoje, é primeiro a comunhão do portelense, a comunhão de quem ama essa escola, e, principalmente, o acreditar no campeonato. Eu acho que esse é um dos grandes trunfos e um dos grandes legados do último carnaval, que é acreditar que a gente pode levar o campeonato, acreditar que a Portela é uma grande escola, que ela tem que ser respeitada, que ela tem que pisar na avenida com o tamanho que ela tem, sendo respeitada pela história que ela tem, sendo propositiva também. A expectativa é de realmente fazer um carnaval para ganhar, e a gente espera que o portelense também pegue esse ânimo e vá pra avenida com ele. É a união de duas grandes marcas, o Milton e a Portela, é a cultura brasileira”.

Diretor de carnaval da Portela, Junior Schall contou ao CARNAVALESCO como está a preparação da escola para o desfile e falou dos ensaios projetados para o Carnaval 2025.

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Junior Schall, diretor de carnaval da Portela

“A gente vai esperar uma Portela intensa como foi a final. A Portela precisa entender com ênfase que esse é o caminho. O caminho da potência. O caminho de quem vai encerrar as carnaval homenageando Milton Nascimento, ou seja, com um obra que contempla o enredo e com isso alicerçam o trabalho do André Rodrigues e do Antônio Gonzaga (carnavalescos). Semana que vem a gente já vai divulgar a agenda dos ensaios de quadra, ensaios de rua, pra começar o mais imediato possível todo esse trabalho, para manter a excelência do ano passado. Cantar e evoluir com uma Portela se emocionando de dentro pra fora. É importante dizer isso. Esse samba que emociona o povo também para fora e uma escola consegue fazer o caminho contrário, que a gente possa cada vez mais treinar, treinar, treinar, cantar, cantar, cantar e nos emocionar”.

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O intérprete Gilsinho falou ao CARNAVALESCO sobre a relação com mestre Nilo Sérgio, o samba de 2025 e o sucesso do ponto de Xangô na arrancada de 2024.

“O relacionamento com a bateria do Nilo Sérgio é antigo, funcionou nos outros anos e vai continuar funcionando, é um casamento perfeito. O samba deste ano saúda o Milton, canta sua obra e leva a musicalidade forte da Portela para a avenida. Em 2024, o ponto de Xangô fez muito sucesso, mas em 2025 iremos com algo tão marcante quanto, podem aguardar”, prometeu o cantor.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, mestre Nilo Sérgio fez um balanço do trabalho em 2024, a preparação da “Tabajara do Samba” para 2025 e o entrosamento com o intérprete Gilsinho.

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Mestre Nilo Sérgio, comandante da Tabajara do Samba

“A preparação é em cima da musicalidade do Milton Nascimento. A Portela está preparando algumas coisas, eu venho com tambor de mina, a família Silva está sempre ajudando a gente. A bateria da Portela está preparada e eu já estou com alguns arranjos já preparados pra poder colocar no samba. Sobre as notas de 2024, na hora eu não entendi como eu perdi dois décimos na bateria, mas teve um simpósio na Liesa e eu entendi um pouco o que eles falaram, mas essa parte da musicalidade que eu coloquei da afinação, cada uma escola tem a sua afinação, não estou falando que estava errado ou não. Eu fiquei revendo e acho que não teve problema, mas eu perdi, é igual jogo de bicho, vale o que está escrito. Eu aceitei. E vamos trabalhar mais um pouquinho. Eu e o Gilsinho somos lá do Irajá. Sempre achei ele fora de série. O Gilsinho é uma grande voz e temos um casamento perfeito. A bateria casou com com a voz com a voz dele e ele encaixou com a bateria”.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela, Marlon e Squel, conversou com o CARNAVALESCO sobre a preparação para o desfile, mais uma cabine de julgamento, e, claro, a fantasia de 2025.

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“A gente já tem ideias de desenhos coreográficos, de movimentos, mas esperamos o samba ser escolhido para saber se casa ou não. O tempo, como que se vai ser feito. Nos meus últimos carnavais eu digo que eu saio da avenida e consigo desfilar novamente se for preciso. Se eu tivesse que fazer mais três, quatro cabines, eu faria. É acreditar na preparação que eu faço e acreditar na minha dedicação, é só uma questão de ensaio, é só mais um ensaio. Acho que praticamente vamos começar do zero, em relação ao desfile de 2024, estamos estudando as justificativas para fazer algo novo, é tudo novo. Os portelenses vão gostar das nossas fantasias, só digo isso, eles vão gostar”, garantiu a porta-bandeira.

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“A gente já tem um corpo coreográfico pré-pronto. Esperammos sair o samba agora do carnaval de 2025 e adaptamos esse corpo de coreografia que são os requisitos que normalmente se cobra. Várias características que a gente sabe que tem que ter na dança do mestre-sala e porta-bandeira. E com esse samba escolhido, a partir deste momento, a gente começa a elaborar, a desenvolver mais o corpo coreográfico que a gente já tem em mente. Sobre ter mais uma cabine de julgamento, com certeza, muda a preparação física. A gente começou a intensificar um pouco mais. E uma nova cabine, um novo modelo de se apresentar, porque querendo ou não, vai muito do psicológico também, a gente está adaptado a entrar, se apresentar para uma cabine dupla, depois mais uma no meio e depois outra no final. E agora a gente tem uma outra, uma quarta cabine antes da finalização da Sapucaí. E aí, você moldura a sua forma e sua técnica de dançar. Você começa a se resguardar mais em alguns pontos da Sapucaí para realmente chegar inteiro na última. Minha mudança de 2024 para 2025 é que vou tentar deixar a emoção um pouquinho mais contida, eu acho que 2024 foi um carnaval muito emotivo para mim em várias perspectivas. Troca de porta-bandeira, a chegada da carnaval do centenário, que mexeu muito comigo psicologicamente e eu estava muito emotivo. A entrada da Portela na Sapucaí em 2024 foi algo alucinante, e talvez a emoção foi mais a flor da pele. Com certeza 2025 não vai ser dessa forma, é algo que eu já venho trabalhando há alguns meses. A fantasia de 2025 é maravilhosa, divina, inclusive, já fizemos até a primeira prova”, afirmou o mestre-sala.

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Novamente, a Portela terá no comando da comissão de frente os coreógrafos Leo Senna e Kelly Siqueira. Ao CARNAVALESCO, eles falaram do carinho da comunidade portelense, da relação com os carnavalescos e do trabalho para o desfile do ano que vem.

“A gente nunca se sentiu tão abraçado, tão acolhido pela comunidade, pelos segmentos da escola. A comunidade aumenta, a nossa responsabilidade. Quando nós chegamos aqui, a comissão de frente era chamada de ‘calcanhar de Aquiles’, a gente acabou com isso. Mas agora a nossa responsabilidade aumenta na Portela. A gente não quer só o básico. A gente não trabalha com um rendimento que não nos leve ao melhor resultado possível, temos que entregar o melhor para a comissão sempre. Os carnavalescos participam muito, desde a escolha do enredo, a gente começa a ter reuniões. A gente leva para eles essa troca de ideias, todas debatidas entre nós quatro. A gente vai criando a narrativa inteira, que eles dão muita autonomia pra gente também. Levar a construção da comunidade frente a frente. É uma troca entre as diferentes áreas. Já estamos trabalhando a nossa narrativa através do enredo, e agora com esse samba vencendo, a gente acredita que a escolha foi muito bem apropriada, nos permitindo dialogar com um grande samba, com melodia forte e a gente vai encaixar perfeitamente”, comentou o coreógrafo Leo Senna.

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Coreógrafos Leo Senna e Kelly Siqueira

Como passaram os sambas na final

Parceria de Toninho Geraes: O primeiro samba da noite teve a assinatura dos poetas Toninho Geraes, Eli Penteado, Alexandre Fernandes, Víctor do Chapéu, Paulo César Feital, Juca e Juninho Luang. Samba com uma melodia muito forte, criativa e bem desenvolvida, como Milton sempre assinou as suas obras. O samba chama atenção principalmente pela construção da harmonia e encontros melódicos entre suas diferentes partes. Menos explosivo que os concorrentes, conta com um refrão principal que homenageia Milton através do jogo de palavras com “Mil tons geniais”, reverenciando também mestre Candeia e a Portela e a música mineira através dos “tambores de gerais”. Destaque melódico para o refrão do meio, principalmente pelo trecho “feito ouro aluvião, bateiando uma canção, veio à beira do rio”. No refrão principal “o meu samba é oratório” permite uma segunda voz como resposta, realizado algumas vezes pela equipe de voz. Comandado no palco por trio Bruno Ribas, Emerson Dias e Chitão Martins, os cantores mostraram entrosamento e solidariedade, sem vaidade deixando cada um se destacar. Bruno, particularmente, pode “brincar” com uma melodia que pedia sua terças e vocalizacões de sua voz aveludada A parceria trouxe uma torcida animada com bandeiras e tapetes de bolas, os componentes na passada sem o acompanhamento dos cantores, cantaram com força principalmente o refrão principal. Já com a quadra o envolvimento foi bem tímido e o samba teve um andamento que trazia mais para o meio da apresentação uma queda na animação, ainda que não tenha tido problemas para encaixar com a “Tabajara do Samba”.

Parceria de Jorge do Batuke: O segundo samba da noite foi assinado pelos compositores Jorge do Batuke, Neizinho do Cavaco, Feijão, Marcio Carvalho, Araguaci e Claudio Russo. O samba, bastante melodioso e com uma “jeitinho bem nostálgico” em termos de melodia, começa arrumado em duas quintilhas (estrofes de 5 versos) que são semelhantes em harmonia e ajudam a obra a ganhar ritmo ao mesmo tempo que introduzem o tema e apresentam o homenageado através de versos imagéticos, apresentam Milton, a Portela e a Minas Gerais de fundo. A partir de “Dobrando a esquina lá vem Madureira”, que também em um destaque melódico pela escolha das notas, há uma mudança de notas com o forte e dançante “É pó! É poeira”, até chegar o refrão do meio “La êh” fazendo referência de forma proposital a vocalização da música “Maria, Maria”. A partir de “vozes que vão encontrar” a escolha é por notas que exprimem um assunto mais sério, mas ainda sem perder a alegria e a nostalgia da melodia. No refrão principal “No azul da Romaria” a aposta segue não pela explosão, mas por uma linha melódica mais desenvolvida e clara. Comandado por Pitty de Menezes e contando com os apoios de Tem-Tem Jr e Tuninho Jr, a apresentação trouxe para a quadra uma atmosfera diferente. Muita gente se envolveu, dançou e cantou, a torcida, inclusive, participou bastante naquela primeira passada sem as vozes no microfone. Um andamento gostoso, cadenciado, balanceado, mas com muita pressão permitiu que a “Tabajara do Samba” ficasse bem a vontade. Na torcida também se observou uma grande festa de cores com papel picado, mini-sois, balões, além de Oxalá, a águia e um sósia do Milton Nascimento, erguidos no ar. Apresentação muito consistente de um samba bem consolidado e aparentemente já na boca do portelense.

Parceria de Samir Trindade: Além de Samir Trindade, a obra foi composta por Fabrício Sena, Brian Ramos, Paulo Lopita 77, Deiny Leite, Felipe Sena e JP Figueira. A obra traz uma negritude muito forte que marcou não só a música, mas a história de Milton Nascimento. Essa negritude, esse molejo, essa força já está presente de cara no refrão principal “Oxalá preto rei pra sambar Iyá chamou Oxalá preto rei pra sambar Anjo negro é o Sol que faz a Portela cantar Anjo negro é o Sol na minha Portela”. A obra também tem um caráter de versos construídos em uma linha melódica de notas mais alegres, pontuando bastante as finalizações antes dos refrãos, como nos versos “Onde Candeia é chama/Brilha Milton Nascimento”. O refrão do meio “Nessa estrada é sonho, é poeira” como em outras obras, a própria construção melódica e a letra traz esse tom mais nostálgico que é presente também na música de Milton, principalmente em relação às coisas do dia a dia e em especial de Minas Gerais. Destaque melódico para a construção de notas para o trecho “Nas mãos, girassóis na travessia minh’alma em cantoria vem a tarde, vão-se as dores”. Comandado por Tinga no palco, a parceria manteve o clima bem quente tendo muita força e energia no refrão principal “Iya chamou Oxalá preto rei…”. O canto foi bom, inclusive, na passada sem as vozes no microfone e a quadra teve um bom envolvimento com a obra. O andamento também esteve bem ajustado com a “Tabajara do Samba”. A torcida foi um show de colorido com estandartes e girassóis na mão, além de um sósia de Milton Nascimento sendo erguido no ar. Apresentação com muita energia como vinha sendo característico da parceria.