Por Lucas Santos, Guibsom Romão e Gabriel Gomes
A Imperatriz Leopoldinense, atual vice-campeã do Grupo Especial do Rio de Janeiro, escolheu a obra da parceria de Me Leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro para ser o samba-enredo para o Carnaval 2025. O resultado saiu perto das 6h deste sábado. Durante a final, a escola prestou homenagem para a carnavalesca Rosa Magalhães, que faleceu recentemente, e teve sua foto exibida no telão do palco e o carro de som cantou sambas de títulos da artista no carnaval. Também houve uma homenagem para o mestre Chiquinho, filho de Maria Helena, que está com um problema de saúde. Em 2025, a escola será a segunda a desfilar no domingo de carnaval com o enredo “ÓMI TÚTU AO OLÚFON – Água fresca para o senhor de Ifón”, que conta a história da saga de Oxalá ao reino de Oyó para visitar Xangô, de autoria do carnavalesco Leandro Vieira. A agremiação busca o seu 10º campeonato.
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“É um samba de agudos, com uma melodia bem agradável para o canto da escola. E botamos de acordo com o que a escola queria direitinho. Não fugiu nem um detalhe do enredo, com uma melodia agradável, e isso foi o que proporcionou a vitória para a gente. Foi muito difícil vencer. O que estou valorizando mesmo é a vitória, entendeu? A qualidade das obras e a concorrência boa. E eu fico muito animado, me emociona mais quando chega assim, no “Justiça maior é do meu pai Xangô”, porque você mostra o canto bonito. Aí, a melodia tem uma queda para preparar pra entrar no refrão final. Um respiro na escola. Ele dá um respiro para chegar rasgando no refrão final. E nessa parte até permite, às vezes, a batida do alujá. É, pra ele descansar um pouco também, que justiça é maior. É baiana, velha-guarda, tudo vem junto. Mas quando dá um refresco, ele vem arrebentando no refrão final. A cabeça é mais ou menos um refrão também, que repete. Eu quero que esse samba possa recuperar o título que perdemos no passado”, disse o compositor Me Leva ao CARNAVALESCO.
“Cada vitória na minha escola de coração é uma emoção diferente. Esse ano, em uma parceria nova, fui convidado pela parceria dos meninos que são bicampeões na escola e desde 2019, eu não ganhava um samba na Imperatriz. Estou muito feliz, quero comemorar muito e vamos atrás do título do carnaval de 2025. O nosso samba não tem uma parte forte, são pontos fortes em todo o samba, uma abertura muito forte, antes de contar o enredo, como foi em 2023 e 2024. Nós temos um refrão de meio muito forte, uma saída para segunda com uma melodia linda e saída para o refrão, que é uma explosão”, explicou o compositor Jorge Arthur, que chegou na sétima vitória na Imperatriz.
“É indescritível. É o terceiro campeonato seguido, meu. Eu entrei aqui há três anos e ainda não perdi nenhum samba. O que é uma honra ganhar numa escola que eu desfilo desde 1998, desde os meus 12 anos. É como se eu tivesse ganhado pela primeira vez. Honra, honra, honra. Eu gosto do refrão principal, que é muito forte. Que fala, “Oni Saurê, saurê, saurê” que é “Senhor, me dê suas bênçãos, bençãos, bênçãos”, a gente invoca o Senhor e pede bênção a Ele. E isso aí dá o ritmo e a vontade de seguir com o samba”, disse o compositor Miguel Haegler.
Firmes no comando da Rainha de Ramos, a presidente Cátia Drumond e o diretor executivo conversaram com o CARNAVALESCO. “Eu acho que todos eram bons os que estiveram no final, independente do que foi escolhido. A gente estava muito tranquilo mesmo, muito feliz com a escolha”, disse João.
A dupla também falou sobre os tres dias de desfile estar mais uma vez em uma posição inicial na disputa. João se mostrou otimista e disse não ligar muito. “Sobre três dias, olha para o lado bom, que eu também enxergo dessa forma aqui, para o lado positivo das coisas. A Imperatriz não está tão entre as primeiras como estaria em outros anos. Porque está basicamente na metade do dia, já é um parâmetro um pouco distinto do que a gente tinha no passado. Mas sendo bem sincero, na verdade, nós não temos a menor preocupação com a posição do desfile, no momento, o que a gente quer, de fato, é um samba que propicia a escola a fazer um desfile como vem fazendo nos últimos anos, concluiu João.
“Foi uma proposta da Liesa e eu acho que a gente apostou. Isso é uma aposta. E eu estou no barco, amigo. Eu tenho que torcer para que dê certo. E eu, confio na Liesa. Acho que a gente tem que, agora que tá no barco, tem que fazer de tudo”, comentou a presidente.
Cátia também comentou como pretende apresentar a Imperatriz 2025. “Quero trazer um desfile maior, mais empolgado e com mais garra e eu tenho comunidade para isso. Hoje eu posso falar que eu consegui, porque quando eu entrei em 2021, eu tinha que levar a equipe do meu pai, que tinha sido contratada em 2020. A gente teve um ano de Covid, que não teve carnaval. Agora, eu consegui montar o meu time. Eu não falo time, eu falo família. Porque eu não tenho uma equipe, eu tenho uma família. Um por todos e todos por um. É muito legal o que a gente vive. É muito legal a equipe que nós temos, porque todo mundo se doa. Eu acho que esse aí é o legado que a gente vai deixar de uma escola organizada, de uma escola que está atrás, de uma escola que corre o tempo todo, de uma escola que quer sempre se superar. E a Imperatriz, eu acho que ela está fazendo isso. Nesses três anos de gestão, acho que a gente vem provando que a Imperatriz, a cada ano, supera a si mesma, a si própria”.
Cátia Drumond comentou mais sobre a escolha do enredo que deu origem a obra que vai embalar o carnaval da Imperatriz em 2025. “É um enredo que a gente não fala há 46 anos, que a Imperatriz não faz um enredo nessa temática. O último ano foi 1979, e era um pedido da comunidade. Foi um pedido atendido, e eu acho que a comunidade está feliz, vai seguir feliz e eu tenho certeza que o que nós vamos apresentar de projeto para a comunidade é o melhor que a gente pode entregar. orque a gente trabalha, trabalha, trabalha, e vamos trabalhar até o domingo de carnaval”.
O diretor executivo João Drumond finalizou informando as datas que a escola pretende iniciar os ensaios de quadra e de rua. “Agora a gente tem um tempinho também para o Lolo colocar as bossas dele, vamos fazer a gravação e queremos realizar os ensaios de quadra na segunda quinzena de outubro e ir para a rua na segunda quinzena de novembro, sempre aos domingos na rua e na sexta o ensaio de quadra”.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, Leandro Vieira falou do momento da Imperatriz e o enredo de temática afro.
“A Imperatriz vive um momento feliz e isso tem a ver com uma escola que ouve sua comunidade. Achei que era o momento de atender esse pedido (do enredo) de uma escola que, talvez por assistir outras escolas dentro dessa temática, queria. Para mim, é um desafio particular, eu não fiz tanto enredos debruçados sobre essas estéticas. O que eu mais fiz dentro dessa temática, foi com o Império Serrano, no Grupo de Acesso. Eu ensaiei alguma coisa com a Mangueira em 2016, com a Maria Bethânia, era algo pontual dentro do meu trabalho. Achei também que era bom fazer algo diferente e atender o que a escola queria. Essa temática também é muito desenvolta para musicalidade e eu trabalho com mestre Lolo, com o Pitty, achei que não tinha porque não ser agora”, afirmou o artista.
Leandro Vieira também elogiou a safra de sambas da Imperatriz para o desfile de 2025.
“Todo carnavalesco vai dizer que é a melhor safra de sambas e tudo mais. Eu acho essa safra especial, mesmo. Fico feliz de te desfrutado e proposto coisas que os compositores entenderam bem e fizeram os sambas que fizeram. É bom, mas é triste porque você só pode escolher um, fica sempre uma obra no meio do caminho. Essa safra é, de fato, especial. Os três sambas que chegaram aqui hoje entenderam que a Imperatriz tem uma outra vibe, outra pegada, outra dinâmica”.
Um dos maiores intérpretes do carnaval carioca, Pitty de Menezes está “voando” na Imperatriz. Ao CARNAVALESCO, ele fez um balanço do trabalho na escola, falou da obra para 2025 e a equipe no carro de som.
“O balanço é muito positivo. Cheguei aqui em 2023, consegui conquistar o campeonato. Em 2024, fui vice-campeão, mas eu ganhei o ESTRELA DO CARNAVAL (oferecido pelo CARNAVALESCO), ganhei alguns prêmios. Está dando certo. Espero que isso venha a perdurar por muitos e muitos anos aqui na Imperatriz. Sobre o samba de 2025, primeiramente, precisa ser melhor do que os sambas de 2023 e 2024. Espero que o samba venha a trazer muitas alegrias para a Imperatriz. Que seja um samba de notas máximas e ajude a evolução, a harmonia, bateria. Espero que toda a escola conquiste esse campeonato que a gente quer tanto em 2025. Nossa equipe no carro de som é muito amiga e são profissionais, são pessoas que estudaram para ser cantores, músicos. Nosso desempenho vem dessa união, vem da amizade, do carinho, do respeito, mas também tem muito profissionalismo”.
O cantor da Imperatriz Leopoldinense também falou sobre a relação com mestre Lolo e a bateria.
“O mestre Lolo eu falo que ele é meu irmão mais velho, um pouquinho rabugento, puxa a orelha e é um grande mestre para mim. Na minha opinião, é o maior mestre de bateria do Carnaval hoje. A Imperatriz tem hoje, para mim, a melhor bateria do Carnaval. É muito fácil cantar com o mestre Lolo, ser acompanhado pela bateria dele, que é um cara que é extremamente humilde e também ao mesmo tempo, a gente conversa muito sobre o samba, sobre as bossas que ele vai fazer, e a gente tenta encontrar um meio termo para que possa dar certo tanto para mim, tanto para ele, e para a escola também”.
Contratado para o desfile de 2025, o coreógrafo Patrick Carvalho conversou com o CARNAVALESCO sobre o trabalho novamente em parceria com Leandro Vieira, falou da coreografia e de mais uma cabine de julgamento.
“É tudo em conjunto, estou muito feliz. A ideia é compartilhada com o Leandro (Vieira), a gente está desenvolvendo junto. Acho que a comissão de frente da Imperatriz vem contando toda a energia que esse enredo precisa ali na frente. Acho que a gente vai ajudar muito. A gente já montou a coreografia. Podem esperar um show. A gente vai dar um show, a gente vai usar o tripé como palco para fazer um show, vai ser tudo lindo. É especial voltar a trabalhar com o Leandro, estava esperando por esse momento, trabalhei com o Leandro no acesso e não tinha trabalhado ainda no especial, dessa vez, vai dar tudo certo”, garantiu.
Os diretores de carnaval da Imperatriz, André Bonatte e Pedro Leite, conversaram com o CARNAVALESCO sobre o trabalho na escola para o desfile do ano que vem.
“O meu papel como direção de carnaval é sempre olhar para o ano anterior, para ver o que a gente fez de bom para fortalecer e melhorar aquilo que a gente entende que pode ser melhorado. Essa é a construção constante da Imperatriz. É sempre olhar para ela mesma e tentar melhorar. E, consequentemente, olhar para aquelas que também se destacaram na avenida. Olhar para a campeã do carnaval e ver o que ela teve que a gente não teve, a gente tem que olhar para isso também. É um olhar primeiro para dentro, para fortalecer o que a gente já tem, consolidar aquilo que a gente já tem de bom, melhorar aquilo que a gente acha que pode melhorar, e olhar o jogo, a regra do jogo, como as outras estão se comportando”, disse Bonatte, que também falou sobre o impacto que a escola quer propor no ano que vem.
“O Leandro está sempre nessa busca, esse é o grande barato, ele é um carnavalesco que eu digo, incomodado. Ele está sempre querendo sair daquela narrativa de igual, de que está. Penso que vai ser uma Imperatriz com uma com características bem próprias do Leandro, bem diferentes. A gente vai já com uma comissão diferente, com uma outra leitura, com o Patrick, que está vindo com muita vontade de fazer algo diferente. A Imperatriz, logo de cara, já vai tentar conquistar a avenida, logo no primeiro setor.
Sobre os ensaios de quadra e rua para 2025, Bonatte revelou: “A ideia é dar uma descansada com relação ao ensaio de sexta, o Lolo me pediu aí umas duas semanas, pelo menos, pra que a bateria possa ensaiar com o samba pra gente começar os ensaios de canto. Acredito que daqui umas três semanas, a gente possa começar. Os de rua, a ideia é começar em novembro, mas tem a questão do G20, a gente está vendo se vai se isso vai atrapalhar a gente, mas acho que na metade de novembro a gente já deve começar”.
Pedro Leite falou o que é possível esperar da Imperatriz em 2025: “Pode esperar uma Imperatriz quente, enérgica, com muita vontade de vencer, como tem acontecido nos últimos anos. A Imperatriz não precisa nem dizer, as pessoas já conseguem perceber que é uma nova escola. Acho que o público, o torcedor e aqueles que gostam de carnaval podem aguardar mais uma vez a Imperatriz galgando as primeiras posições do carnaval. A gente acredita muito na força da nossa comunidade. O povo é a grande força motriz de uma escola de samba, é o nosso grande trunfo, nossa comunidade, sem dúvida. Já está em fase de reprodução das fantasias. Também estamos com carros já em fase bem adiantada, isso se levarmos em consideração com o carnaval é apenas em março. A gente está com um cronograma à frente do que era inicialmente planejado. A gente vai falar de um rei, mas de um rei africano. Vai ser um momento muito especial. A gente está falando de mais de 40 anos, eu não vivi isso no enredo sobre Oxumaré da Imperatriz. Mas, tenho certeza que Oxalá vai nos abençoar pra fazer um grande espetáculo”, comentou.
O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Imperatriz, Phelipe e Rafaela, falou ao CARNAVALESCO sobre a expecativa para a Imperatriz em 2025.
“A Imperatriz vem apresentando grandes carnavais, um trabalho coletivo, destacando a genialidade de cada um dentro dos seus quesitos. O Leandro nos quesitos enredo, alegorias e fantasias, o Lolo com a bateria, o Pitty em harmonia, os compositores de samba-enredo, a comissão de frente, nem preciso dizer, sobre os trabalhos que foram feitos do Patrick. Realmente, temos o nosso objetivo que é estar ao nível dos profissionais que a Imperatriz tem e conquistar as notas máximas. A gente está em conjunto, em sintonia com a escola, buscando a excelência na nossa parte e torcendo para que nossos amigos também consigam a excelência na parte deles”, disse o mestre-sala.
“Pode esperar uma Imperatriz rica, luxuosa, mesmo com o enredo africano, o Leandro superou todas as expectativas, é um carnaval muito diferente, muito trabalhoso, com muitos cuidados e ele caprichou, está caprichando em todos os detalhes. É uma Imperatriz com uma nova cara, falando diretamente de um enredo voltado para o Candomblé, da nossa cultura e eu tenho certeza de que vai ser lindo, emocionante”, completou a porta-bandeira.
A dupla também falou sobre a coreografia, mais uma cabine de julgamento no ano que vem e a fantasia de 2025.
“Nós já começamos os trabalhos no início de agosto, fizemos laboratórios com algumas danças africanas para a gente já entrar no enredo. Eu, particularmente, já vivenciei o novo formato (quatro cabines), que é o formato antigo, que se torna novo novamente. E é o novo desafio. Cada ano é um desafio. Eu acho que para a gente que é artista, que trabalha com carnaval, impulsiona mais ainda, vai ser um trabalho diferente, por conta de mais uma cabine, de mais uma parada, de cuidar de todo o condicionamento físico. Sobre a nossa fantasia é muito linda. Mais uma vez, o Leandro nos presenteou com um lindo figurino. É muito rico, muito luxuoso e a cara da Imperatriz”, garantiu Rafaela.
“Com mais uma cabine de jurados, muda a preparação, agora é uma preparação mais intensificada. A gente trabalhava com base em três paradas e em contagem de passadas de samba, de tempo, era muito maior o tempo de descanso. Agora, a gente não tem esse tempo de descanso tão longo, mas a gente trabalhava fisicamente para três cabines, agora são quatro. Ah, a fantasia é linda, fantasia linda, o Leandro tem um carinho muito grande. Nos carnavais antigos, vocês já podem perceber, tanto fora quanto dentro da Imperatriz, que ele gosta de colocar o mestre-sala e a porta-bandeira em evidência dentro do enredo dele. Eu fico muito feliz com isso, pelo tamanho da importância que o quesito tem para o carnaval. Acho que vocês podem esperar aí uma fantasia com a assinatura de Leandro Vieira, porém afro. Ninguém viu, mas vai ser uma fantasia surpreendente”, afirmou Phelipe.
Como passaram os sambas na final
Parceria de Guga: O samba dos compositores Guga, Josimar, Márcio André Filho, Inácio Rios, Zé Inácio e Igor Federal foi o primeiro a se apresentar na noite de final da Imperatriz Leopoldinense. A obra foi defendida pelos intérprete Wander Pires, que conduziu o samba tendo o apoio principalmente de Tuninho Jr que segurava mais no grave e servia de apoio, indo mais reto na melodia do samba para que Wander tivesse liberdade para fazer suas terças e vocalizacões. Apesar do bom entrosamento da dupla, a quadra teve pouco envolvimento com a obra. Quase ninguém cantou e muita gente só observou sem participação. De melodia mais bonita, mas com repetições de notas por uma boa parte da música, o samba acabou perdendo um pouco de explosão em alguns momentos da apresentação.
A música é um pouquinho maior em letra que outras e possui a peculiaridade de apresentar três bis, ainda que um seja só a frase “Ofereça, nunca se esqueça de exú”. Ele se forma como uma ponte para ligar as duas partes da primeira do samba, que mantém uma melodia mais direta, porém bastante bonita. As variações melódicas começam a partir do refrão do meio “No reino de oyó a justiça se espera”. Destaque melódico neste refrão do meio para o verso “Oluô no tabuleiro revelou”, muito lírico. Já o refrão principal é bastante melódico, mas tendo a força nos dois primeiros versos “Toca o alabê, dança iabá /Nas mãos da iabassê, ebô e acaçá”, atingindo o clímax com uma melodia muito forte em “Oní se awure trago seu adê “. Apresentação que mostrou o que qualificou a obra a estar entre as três finalistas, mas que também revelou o porquê de não ter sido considerada favorita na comparação com as outras duas, não conseguiu envolver tanto a comunidade de Ramos.
Parceria de Me Leva: A obra dos poetas Me Leva, Thiago Meiners, Miguel da Imperatriz, Jorge Arthur, Daniel Paixão e Wilson Mineiro foi a segunda a se apresentar na noite. Apresentação de alto nível, mesmo desfalcado de um craque como Tinga, a experiência de Igor Vianna e a vitalidade de Charles foram o suficientes para mais uma vez o samba se destacar mexendo com a quadra inteira da Imperatriz, inclusive, segmentos como baianas, harmonias e passistas. Era difícil achar alguém que torcesse o nariz para a apresentação. Pouco antes, enquanto os cantores acertavam os microfones, a torcida trouxe uma “bandinha de charanga” entoando a melodia da obra e a quadra já aguardava com ansiedade. Como na obra de 2023, assinada pelos poetas, a parceria apostou em colocar um bis logo no início. Os versos que se iniciam com “Vai começar o itan de oxalá”, como na própria letra, se intencionam em apresentar qual a história que vai ser contada e na melodia permitem desenvolvimento de bossas e convenções e tem um detalhe melódico muito interessante na segunda vez, na ligação entre “Babá” e “Orinxalá”, em uma ponte que começa a dar ritmo para a música a partir dos versos seguintes.
Em “destina seu caminhar” a música começa a ter maior fluídez, agora partindo para o ataque. O refrão do meio “Ofereça pra exú” tem muito balanço e permitiu o desenvolvimento de bossas mais voltadas para os toques originário de saudação aos orixás. Depois, a obra volta a “andar, com uma melodia valente, mas bem desenvolvida até um ponto de mais pausa no “Justiça maior é de meu pai xangô” que vai permitir, inclusive, o desenvolvimento do alujá. A obra, de melodia bastante original, vai ter seu climax no refrão principal “Oní sáà wúre! Awure awure!”, que é muito bom, forte e gostoso de cantar, a obra, parece sempre caminhar para esse ponto alto, mas sem se arrastar, sem cansar, como um filme que a gente nem sente o passar do tempo e ainda assim fica esperando o desfecho.
Parceria de Gabriel Coelho: A última obra a se apresentar foi a da parceria de Gabriel Coelho, Moisés Santiago, Luiz Brinquinho, Chicão, Miguel Dibo e Orlando Ambrósio. Igor Sorriso tem conseguido desde algumas temporadas de disputa de samba-enredo levar os ingredientes certos para incendiar as apresentações. E, nesta, nem precisava de muito pela bela obra que defendia. Ainda assim, ele foi para o meio do povo, contando com Wantuir e Chicão segurando no palco. A obra teve uma excelente recepção do público, e a bossa na segunda do samba que se repetiu por algumas vezes, nas batidas para o orixá, faziam com que a obra ganhasse peculiaridade e permitisse assim como no da cigana Esmeralda, a formação de uma bossa reforçada pelas palmas da quadra. Alto nível, colocou a diretoria em uma situação difícil, jogando a responsabilidade para quem tem que fazer as escolhas. Muitos dos segmentos, inclusive, aderiram e se entregaram a apresentação.
A primeira do samba começa já dando o clima da obra com “Bate opaxorô no chão/O cortejo de ifon vem saudar o pai maior”, apostando também em uma melodia que de^fluidez no inicio e faça ela caminhar, sem muitas variações para que a partir da segunda parte, a linha melódica brinque um pouco mais com as notas. Ainda na primeira do samba destaque para o bis “É boca que tudo come/É olho que tudo vê”, este na segunda vez que é entoado, fica bem “sincado” com a bateria. A música não possui um refrão do meio, mas o trecho “Ê orixalá, filho de olorum”, mostra força mesmo sem a repetição, tendo na verdade “O couro marcado, a veste tingida” como uma resposta. Na segunda parte há uma divisão melódica em três partes que seguem linhas diferentes. Primeiro em “Ôô obá..” até “a justiça é xangô”, depois a partir de “É ganga ô! Ê ganga kaô!” até “nas águas de oxalá” e, por fim “Egbe! Traz o acaça”, até o final da estrofe que é quase um ponto até saudar a coroa da Imperatriz no verso final. O refrão principal tem força, mas versos com uma linha melódica alegre saudando mais uma vez a escola.