Por Luan Costa e Rhyan de Meira. Fotos de Allan Duffes

A cantora Anitta, pela primeira vez no carnaval do Rio de Janeiro, vai assinar um samba-enredo. A artista, um dos principais nomes do cenário musical brasileiro, venceu a disputa de samba-enredo da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2025. Ela, que não esteve na quadra, na final realizada na noite do último sábado, entrou no concurso com os parceiros Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho e Diego Nicolau. A escola do Morro do Borel levará para a Sapucaí na segunda-feira de carnaval o enredo sobre o orixá Logun-Edé, clamado pela comunidade e desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira. * OUÇA AQUI O SAMBA DA TIJUCA PARA 2025

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“Eu acho que é um dos momentos mais gratificantes da minha carreira. É um sonho realizado! Coisa linda! Muito obrigado Unidos da Tijuca, muito obrigado! A minha parte preferida no samba é: ‘Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar’. A Anitta foi incrível, dedicou tantas horas de sua vida e carreira, passou de 10 a 14 horas online com a gente, participando de tudo. Um beijo para ela, eu sei se ela está longe da gente hoje, mas logo mais vou conseguir ver o samba dela de perto”, disse o compositor Diego Nicolau ao CARNAVALESCO.

Galeria de fotos: final de samba da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2025

Em entrevista ao CARNAVALESCO, a cantora Lexa, rainha de bateria da Unidos da Tijuca, falou o que representava para ela ter uma amiga do funk assinando um samba-enredo no carnaval do Rio de Janeiro.

“Eu fico muito feliz. Vejo que não é porque a gente veio do funk, que fica só rotulada a ele. Ver a Anitta aqui escrevendo para escola do meu coração, uma amiga minha, me deixa muito feliz, emocionada e orgulhosa. O samba está lindo. Eu tenho muito respeito por todos os compositores, por todos os sambas. Ainda agora alguém falou: ‘você está cantando outro samba? Não pode!’ E eu respondi: ‘óbvio que eu amo muito a minha amiga. E eu sou mais para o lado dela. Mas, tenho muito respeito pelos outros sambas também’. É uma delícia vivenciar isso aqui junto com os meus fãs, tem vários fãs meus aqui e fãs dela”, afirmou Lexa.

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O compositor Fred Camacho, um dos autores do samba da Tijuca para 2025, explicou o sentimento da conquista na escola do Botel. “Estou muito feliz, é minha primeira vitória aqui. Eu sou um cara muito apaixonado pelo samba. Pelo Carnaval e por todas as escolas, cada escola tem o seu encantamento. Então, eu é por isso que eu sou apaixonado por todas. Eu gosto muito dessa frase que está vindo na minha cabeça agora ‘Eu não descanso depois da missão cumprida, a minha sina é recomeçar’ porque a gente está sempre começando um trabalho novo, um projeto novo. Esse samba tem muitas frases assim como essa, muito interessante para gente seguir no nosso dia a dia”, comemorou.

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O compositor Luiz Antônio Simas também falou sobre a vitória: “Primeira vez que venço, eu saí do Estandarte de Ouro onde era jurado, para fazer samba e a gente é agraciado com essa vitória. Uma beleza. Eu acho que foi bonito primeiro por causa do tema, a gente tá vivendo um tempo de racismo religioso, quero mandar o meu beijo pra Anita, que colaborou, chegou junto, está junto, está ativamente e tenho certeza que estará com a gente depois na Sapucaí. Eu acho que o refrão do meio é muito bonito, é quando Logun Edé sai da África e vem ao Brasil, a gente ao invés de usar o navio negreiro, usamos o cavalo marinho, rompemos com o navio negreiro, é o cavalo marinho que traz esse encantado pro Brasil”.

Edson Pereira: ‘Quero fazer um carnaval que marque a história da Tijuca’

O carnavalesco Edson Pereira falou do projeto para o desfile de 2025 da Unidos da Tijuca. Ele ressaltou que o trabalho no barracão está adiantado.

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“Acho que estamos fazendo um trabalho muito sério, que começou logo no início do ano. Hoje, estamos com tudo bem adiantado, graças a Deus. E eu espero que, daqui para frente, seja sempre melhor. Eu acho que, quando você faz um bom trabalho, independentemente da ordem (de desfile), ele vai se destacar. E é isso que importa. O trabalho bem-feito fala por si. Eu gosto de carnavais grandiosos. Quero fazer um carnaval que marque a história da Unidos da Tijuca. Esse é o nosso objetivo hoje. Já estamos com as fantasias quase prontas, e isso é muito importante. Acho que o trunfo será a emoção de falar sobre algo tão necessário, que é a relação entre o velho e o novo, o novo e o velho. Isso está muito ligado ao cotidiano, ao que estamos vivendo hoje”.

Casal promete muito trabalho e confia na ‘nova Tijuca’

A dupla de mestre-sala e porta-bandeira da Tijuca, Matheus André e Lucinha Nobre, está na missão de recuperar os décimos perdidos no Carnaval 2024. Ao CARNAVALESCO, eles garantiram que o trabalho para o ano que vem é muito forte.

“A Tijuca vem muito forte. É um enredo muito bom, um enredo afro bem forte. Vai ser uma experiência nova abrir os desfiles na segunda-feira. Eu nunca dancei com quatro cabines, mas acredito que vai ser tranquilo. A gente está com muita energia para dar. Vamos com tudo! Pode esperar aquela Tijuca de sempre: muito alegre, muito forte, mas cheia de axé. Acho que o axé, a energia da escola esse ano, vai ser o diferencial”, comentou o mestre-sala.

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“Podem esperar da gente muito ensaio, muita resiliência. Estamos trabalhando com muita energia, muito carinho, e claro, muitos ensaios para deixar tudo perfeito. A Tijuca vai fazer um trabalho muito diferente dos últimos anos, com muito amor e uma energia incrível. O trabalho do Edson está maravilhoso, a escola está unida, aguerrida, e estamos querendo recuperar toda essa energia que nos define. A coreografia começa a nascer a partir do samba vencedor. No momento, ainda não temos coreografia porque estamos apenas nos ensaios iniciais. Mas, após a escolha do samba, começamos a trabalhar a coreografia. Já fiz uma prova da fantasia. O Fernando Magalhães é o mago das fantasias, confio muito no trabalho dele e acho que essa vai ser nossa melhor fantasia até hoje”, celebrou a porta-bandeira.

Ito Melodia: ‘O que estava faltando antes, não falta mais’

O intérprete Ito Melodia conversou com o CARNAVALESCO sobre o segundo ano no comando do microfone principal tijucano.

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“A experiência está sendo maravilhosa, estou muito feliz. Tenho que agradecer muito ao presidente Fernando Horta por esse segundo ano consecutivo, por essa oportunidade. Desta vez, é especial poder falar de uma religião, de uma atriz africana, de um rei muito querido por todos, especialmente pelos mais velhos. Esse rei está aqui, na Tijuca, e poder celebrar isso, resgatar essa energia, essa garra, emoção e paixão, é algo muito importante, especialmente com tudo que está acontecendo no nosso país. O carnaval é uma grande escola, e a presença desse rei na Unidos da Tijuca está sendo fundamental. O samba precisa trazer alegria, garra, emoção, ritmo, paixão… Tudo isso. A Tijuca tem todos esses elementos. Temos uma bateria excelente, comandada pelo mestre Casagrande, cheia de cadência. A escola é guerreira, a comunidade canta fácil, aprende rápido. Os compositores são fantásticos, a equipe toda é maravilhosa. O que estava faltando antes, não falta mais”, garantiu o cantor.

‘É um enredo que já está trazendo uma energia muito boa’, diz diretor de carnaval

O diretor de carnaval tijucano, Fernando Costa, revelou o que é possível esperar da Unidos da Tijuca no desfile do ano que vem. Ele citou que o momento entre os integrantes da escola é muito positivo.

“Pode esperar uma escola grandiosa, um enredo maravilhoso, um samba maravilhoso, a gente já não tem há muito tempo, e esse dinheiro está trazendo uma energia muito boa aqui pra escola. Está todo mundo com a vibração muito boa. Aguardem a Tijuca que com certeza a gente vai fazer um belo carnaval. Nosso primeiro ensaio de quadra será no dia 10 de outubro e no início de dezembro vamos para rua. Se forem lá no barracão já vão ver a grandiosidade. Está bem adiantado, bem grande, como costume ser bem grandona”.

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Fernando Costa também falou sobre a disputa de samba: “Foi uma disputa muito difícil, eu acho que esses anos todos que que eu estou aqui, e não são poucos, acho que a gente nunca passou por uma disputa tão acirrada. A cada etapa era uma dificuldade, uma dor, as pessoas reclamavam por tal samba ter saído, chegamos com três grandes sambas. O presidente quer ver o que que os segmentos estão querendo e ele dá a palavra final. Desde 2003 que a gente não faz um enredo desse tipo e calhou, saiu um enredo desse maravilhoso, o Edson veio com a ideia, quando eu vi logo de primeira topei, e o presidente também aceitou, nem pensou em patrocínio que podia chegar. É um enredo que já está trazendo uma energia muito boa”.

Como foram todas apresentações na final

Parceria de Lico Monteiro: A primeira obra a se apresentar nesta final foi composta por Lico Monteiro, Leandro Thomaz, Telmo Augusto, G. da Esriva, Jefferson Oliveira, Marcelo Lepiane e Washington Lopes Freitas. Mesmo sendo a primeira da noite, a parceira não se intimidou, antes mesmo do início oficial a numerosa torcida cantou o samba, dando sinais do que veria pela frente. A atuação de Wander Pires no comando do microfone principal dispensa comentários, ele deu o habitual show e foi uma dos responsáveis para que a apresentação fosse extremamente positiva. Vale destacar que cada parceria teve 30 minutos para se apresentar, incialmente sem a presença da bateria e posteriormente com, o início da apresentação foi forte, como mencionado anteriormente, a torcida deu um show.

Porém, ao longo do tempo foi possível notar que houve uma pequena queda de rendimento, principalmente da segunda parte do samba. Vale destacar a qualidade da obra, que narra com felicidade o enredo proposto, fazendo de referências a rituais sagrados africanos em sua letra.

Parceria de Gabriel Machado: A terceira e última parceria da noite foi composta por Gabriel Machado, Julio Pagé, Valtinho Botafogo, Jorge Mathias e Robson Bastos. Coube ao intérprete incendiar a quadra após a apresentação quase perfeita do samba anterior, e o intérprete conseguiu fazer com que o alto nível permanecesse, através de um discurso potente, Zé Paulo fez com que toda a quadra olhasse com atenção para a apresentação, sem falar no gás que a torcida ganhou, principalmente no início da apresentação. A apresentação foi extremamente positiva, durante os 30 minutos houveram poucos momentos de oscilação, fazendo com que o rendimento fosse satisfatório e mais explosivo em algumas partes. Os refrões foram o ponto forte da obra, o principal foi cantado por muitos segmentos da escola, com ênfase no verso “Loci Loci, meu pai, quando o morro descer vai ter mandinga da Tijuca no Ilê”.

O verso “Seja menino, menina, homem, mulher, na Unidos da Tijuca, seja tudo que quiser” também foi bem cantado, além de sintetizar parte do enredo, ele tem sia importância por promover uma mensagem de inclusão, diversidade e empoderamento.

Parceira de Anitta: Dando sequência às apresentações, foi a vez do samba de Anitta, Estevão Ciavatta, Feyjão, Miguel PG, Fred Camacho e Diego Nicolau ganhar a quadra. O responsável por comandar o samba foi o intérprete Igor Sorriso, durante seu discurso, ele brincou dizendo que não iria cantar, iria apenas ouvir a torcida, e foi exatamente isso que aconteceu durante os 30 minutos de apresentação, a torcida, que estava extremamente numerosa e com muitas bexigas nas cores da escola, cantou de forma avassaladora, aliás, a apresentação completa foi uma avalanche do início ao fim, a energia na quadra já estava alta e incendiou durante a passagem de uma das obras mais comentadas nesse pré-carnaval. A cantora Anitta não esteve presente, porém, o samba contou com a torcida ilustre da atriz e apresentadora Regina Casé, extremamente empolgada, ela se jogou no meio da torcida e cantou durante todo momento. O samba ganhou toda a quadra, inúmeros segmentos da escola cantaram com muito entusiasmo, assim como o público presente, ficou a sensação de que se houvesse mais tempo, o rendimento continuaria em alto nível.

O refrão, simples e repetitivo, dá ênfase ao nome de Logun Edé e caiu facilmente nas graça do público, sendo a parte mais cantada. No geral, o samba captura o espírito do enredo de forma criativa e bem elaborada.