Em noite fria em São Paulo, a Unidos de Vila Maria apresentou o samba-enredo para o carnaval de 2025 e também as fantasias pilotos do enredo: “O Planeta Terra pede socorro. É tempo de renovar e preservar!”, desenvolvido pelo carnavalesco Eduardo Caetano. Será a quarta escola a entrar na pista no domingo de carnaval, pelo Grupo de Acesso I. O samba-enredo vencedor foi da parceria formada por Panda (in memoriam), Edmilson Silva, Sandro Neves, Rick Ramos, Wilsinho Medieval, Ferreira de Matos e Renato William. As eliminatórias foram realizadas internamente, como explicou o presidente Adilson para o CARNAVALESCO.
“Nós viemos de uma sequência de escolhas de sambas e esse ano aqui optamos por uma forma que já foi utilizada em outro tempo e deu muito certo. Sabemos da dificuldade de compositores de buscar a produção, o investimento e fizemos uma escolha dessa forma e fomos muito felizes com isso. Tivemos a calma, tranquilidade, diferente de uma escolha que é feita em palco. Fizemos no dia a dia, pedimos para eles fazerem apresentações ao vivo no estúdio. Não foi um samba escolhido só por gravação, escolhemos os melhores e conseguimos com isso entender, qual o samba que conduziria a escola no Carnaval 2025 de uma forma mais positiva”.
Doze anos na Vila Maria, o mestre Moleza é símbolo da escola e contou como foi esse processo com participação da bateria, além da ala musical, em todos os sambas concorrentes para sentir como seria dentro dos quesitos da Vila Maria como bateria e a ala musical.
“Foi um processo diferente dos últimos anos aqui na Vila Maria, nesses 12 anos que estou aqui, é a primeira vez que foi feito esse tipo de escolha. Gravamos todas as 12 obras em estúdio, com a nossa bateria. O Clayton colocou voz nos oito sambas concorrentes e isso trouxe um equilíbrio, uma padronização. Para a gente poder tomar melhor decisão, sabemos que em alguns processos habituais, um compositor grava com a bateria eletrônica o outro grava com uma bateria que não é da escola e chama o cantor X ou Y. A gente podendo escutar os oito sambas gravados pelas mesmas pessoas e cantados pelas mesmas pessoas, seja o Clayton ou o time de coral, tocado pelo mesmo cavaco e violão, nos trouxe uma decisão mais tranquila, que realmente era o samba que a maioria queria”.
O mestre complementou animado com o processo da escolha do samba para 2025: “No processo interno, bem democrático desde a presidência, vice-presidência, diretoria de carnaval, intérprete, diretor de harmonia, todos puderam opinar. Dentro desse processo, além da gravação, a gente trouxe quatro sambas que foram escolhidos pela diretoria da escola para continuar na disputa. Fizemos audições no nosso estúdio. Para tirar um pouquinho desse gelo do processo interno, trouxemos eles para escutarem. Como fizemos ano passado ensaiamos alguns arranjos e hoje na primeira vez que eles ouviram o samba, a gente já colocou ele duas bossas inéditas. O intuito disso é trazer uma motivação e um arranjo diferente para chegarmos bem preparado no carnaval”.
O intérprete Clayton Reis gravou os sambas e explicou: “Foi uma eliminatória diferente. Tivemos a ideia de fazer internamente, gravei todos e já tive a noção de como ficaria na minha voz. Vimos como o pessoal da diretoria reagiu e foi super legal, um estilo diferente”.
O diretor de carnaval, Queijo, contou como foi o processo de gravação dos sambas com o intérprete que voltou para casa e revelou que foi escolha do próprio intérprete: “Essa ideia foi do Clayton. Quando ele trouxe para a diretoria foi aceita de primeira, porque é um projeto diferente. Nós sentimos o samba. Quando você abre para o público dá diversas opiniões ao contrário. Fica meio tenso e nesse formato ficou muito tranquilo e todo mundo comprou a ideia. Tivemos muito sambas bons de verdade. Estamos com um samba que a gente pretende voltar para o Grupo Especial, ser campeão. Estamos trabalhando muito para isso. Para poder vencer, tem que trabalhar, estamos quietinhos e batalhando. É o trabalho da Vila Maria”.
Parceria vencedora e a ligação com a agremiação da Zona Norte
A parceria vencedora tem uma tradição dentro da casa, escreve com constância, mas não vencia há algum tempo. Um dos compositores, Edmilson Silva, contou sobre o processo para escrever o samba que acabou conquistando o título na Unidos de Vila Maria.
“A partir do momento que nós pegamos a sinopse entendemos que a concepção do samba tinha que ser diferente. Decidimos que queríamos fazer uma conversa da mãe terra e quem está sofrendo com todo o processo de degradação e poluição. A gente tentou fazer como uma mãe de verdade dando conselho para o filho. Por isso, o samba fala ‘é hora de tocar a consciência’ para que os seres humanos realmente parem para pensar o mal que estão causando a si próprios. A cada dia a gente destrói um pedacinho do planeta Terra. Quem sofre as consequências somos nós, os filhos, netos, as gerações futuras. Foi diferente porque não houve eliminatória e estamos acostumados com eliminatórias. Ficamos naquela ansiedade de querer saber o que estava acontecendo nos bastidores. Até que a diretoria nos comunicou que nós estávamos entre os quatro sambas finalistas. Cheguei na Vila Maria em 2005 com o meu eterno parceiro saudoso Panda. Ganhamos em 2005, 2007 e 2009. Disputamos onze sambas da Vila Maria, com esse aqui, e essa é a nossa quarta obra que vai para a avenida. É uma honra muito grande. Temos fé em Deus e nos nossos orixás que esse samba e esse carnaval vai levar Vila Maria de volta ao topo é o lugar de onde ela nunca deveria ter saído”.
O presidente Adilson falou da parceria e da importante relação com a Vila Maria: “Nessa hora temos que ser totalmente imparciais. Conseguimos conciliar uma criação tão bonita igual a essa e uma turma tão positiva, que tem tanta história, já perdeu várias vezes, mas mesmo assim eles estão aqui compartilhando do tempo, partilhando da arte deles, é emocionante, é paixão. É o sentimento dos melhores que tem na relação de um ser humano com o outro”.
O compositor Edmilson ressaltou um samba marcante que construíram para a Vila e querem fazer parte do recomeço da escola que está no Acesso I: “Nossa primeira obra marcante aqui na casa é o samba de Cubatão 2007 que é a maior posição que a escola tem hoje dentro do carnaval que é um vice-campeonato. Pretendemos com essa obra deste ano levar a escola de volta ao Especial, se Deus quiser com a presença do Panda, de Deus e todos os orixás e todos os santos”.
Homenagem e presença da família de compositor
A parceria sempre coloca o nome do eterno compositor Luis Carlos Thomazetti, conhecido como Panda em ‘in memorium’ como forma de homenagem. Ele faleceu em 2021. Os compositores mostram muita emoção ao falar sobre ele, como disse Edmilson em entrevista ao CARNAVALESCO.
“É um cara que eu conheci através de outro parceiro, Dom Álvaro, nós conhecemos em 2005 e nos tornamos mais do que parceiro de samba a gente se tornou a família, eu e ele era irmão. Nós chamávamos de irmão”.
Outro compositor, Sandro, ressaltou: “O Panda é irmão. Eu conheço ele desde 2000, um cara que sensacional toda vez que a gente fala dele a gente chora, nos emocionamos, que é um cara que vai fazer parte da nossa vida, para eternidade toda. Ele que me apresentou Edmilson, me apresentou o Rick e a gente vem junto na construção de todos os sambas. A irmandade da gente é sem vaidade, todo mundo faz, participa, todo mundo dá sua opinião, tudo é assim é sempre em prol do time. Nunca em prol de uma só isso e isso é uma coisa que a gente aprendeu muito com ele”.
Uma homenagem para o compositor, como contou Edmilson após vencer a disputa na Vila: “O Panda ele está lá no céu, mas com certeza em qualquer obra que a gente fizer aqui na Vila Maria, ele vai estar presente e esse é mais do que nunca. Esse aqui é o Rick está comigo desde a primeira obra foi campeão comigo no primeiro samba aqui é parceiro lá de trás e vem comigo para Vila Maria”.
Outro compositor, Rick Ramos, ressaltou o tempo de parceria e a importância da disputa: “São 28 anos que a gente está junto aqui cara, 28 anos construindo coisas maravilhosas. Às vezes dá certo. Às vezes não dá certo, mas a gente sempre segue em frente na mesma pegada no mesmo intuito de fazer coisas cada vez melhores. A gente erra. Aprendemos, levantamos e sacode a poeira e vai fazer uma coisa melhor. Sabemos que uma hora vamos perder e outra vamos ganhar. O samba-enredo só ganha um, mas tem todos os compositores são merecedores cara”.
Escolha do samba e Moleza prepara bossas
O presidente Adilson apontou motivos da escolha do samba preferido e a ligação com o enredo, a sinopse, para o carnaval.
“Nós conseguimos fazer a ligação direta do samba com enredo. É um samba que ele é bem completo em relação ao que a escola se propõe colocar na avenida, ela coloca ali um grito de socorro. Um pedido da terra, depois mostra que o caminho seria ali renovando e preservando. O samba consegue passar essa imagem de uma forma muito tranquila. No começo a terra ela meio que chama a atenção dos filhos, fala que está faltando a força e fala que já está faltando as coisas para as civilizações. Depois ela fala que vai buscar a força, em antigas gerações, que é outra parte do samba, depois firma com muita clareza que ela voltou. Recomeça tudo, o conhecimento com a influência que ela consegue pôr nas civilizações, na população, preservação, renovação e equilíbrio ecológico”.
O mestre Moleza é uma das grandes referências na comunidade, e a “Cadência da Vila”, bateria da escola, é conhecida por revelar inúmeros ritmistas. Ou seja, com identidade própria, já tem ideias ousadas com esse samba construído, como revelou em conversa com o CARNAVALESCO.
“Já tem três bossas prontas e duas já testamos hoje aqui. Já fizemos com a ala musical e tem uma que é muito legal. Se tudo der certo como estamos idealizando será o que vai chamar atenção. Vocês vão ver e vai lembrar dessa entrevista aqui lá no primeiro ensaio técnico. Na primeira vez que a gente fez aqui já encaixou, tem uma dinâmica que envolvemos dinâmica de volume, envolve outros ritmos. Batida de bateria, não de escola de samba, bateria de instrumento mesmo. Uma variação ali de um rock, de um pop rock e aí um lance também meio de salsa. Vai estar bem musical, precisamos ensaiar bastante para concretizar e tirar a ideia maluca da mente e colocar na prática”.
Apresentação dos pilotos diverte comunidade
Em uma apresentação cheia de energia com a comunidade interagindo com cada fantasia e colegas que estavam vestindo os pilotos, a Vila Maria fez uma apresentação que começou tensa com a comissão de frente representando elementos nocivos para a natureza. Depois surgiram as fantasias que mostram um renascimento, com muitas cores representando a natureza e também que representam caminhos a serem percorridos para salvar o planeta.
O auge da apresentação dos pilotos foi a ala de baianas, que só apareceu por último, quando todos pensavam que já tinha encerrado. Toda na cor verde, e aspectos da natureza, mas de uma forma mais modernizada. Outro momento de destaque foi na apresentação da fantasia da bateria com a “Cadência da Vila” presente. Além da ala das crianças, que também levantou o público com duas crianças simbolizando o futuro.
Em relação a apresentação dos pilotos, o diretor de carnaval, Queijo, ressaltou o momento da Vila: “O piloto está aí para todo mundo ver, estamos trabalhando quietos, estamos trabalhando há meses, não começou agora essa festa foi planejada há meses também. Graças a Deus foi tranquilo tudo no horário. Vila Maria vai vir de novo para a briga. Vamos trabalhar forte sem desmerecer as coirmãs, mas estamos na briga do título”.
O presidente Adilson mostrou otimismo com o lado visual apresentado: “A Vila Maria, ela vem buscando um carnaval na essência. Estamos trazendo fantasias grandiosas, que representam muito, por exemplo, na hora que a terra não está bem. Depois mostramos toda a beleza com uma terra de um planeta todo reestruturado, reformulado, conservado”.
Coroação da rainha cheia de carisma e apresentação de musas
Nathany Piemonte foi coroada a nova rainha da “Cadência da Vila”, e foi bem emocionante, onde a escola fez uma homenagem para ela, relembrando a história do seu tio que fazia ações sociais importantes. A frase no telão em uma foto dela com seu tio, já falecido: ‘Toda filha de um rei, um dia se torna rainha’, emocionou muito a nova rainha da Unidos de Vila Maria, que assume o cargo que era de Savia David.
Nathany não é cria da Vila Maria, é musa da Rosas de Ouro há muitos anos, como ela mesmo ressaltou no palco. Reforçou todo empenho e demonstrou muita carisma com a comunidade. Ela fez parte da corte do carnaval de São Paulo em 2023 como segunda princesa, e sempre demonstrou muito samba no pé. Antes, quatro musas foram apresentadas no palco: Sheila Silva, Alane Pereira, Karina Moraes e Suellen. E a madrinha Josi Aoas que é responsável pelo departamento social da escola.
No domingo de carnaval, a Vila Maria entra na pista do Anhembi buscando o retorno para o Grupo Especial que esteve pela última vez em 2023.