Por Fábio Martins e Gustavo Lima
A Mancha Verde escolheu na noite do último sábado o samba-enredo que irá embalar o desfile de 2025. Como nas edições anteriores, o evento foi acompanhado do encerramento dos ‘arraiás’ que a escola promovia todos os finais de semana. Entrando no mérito da competição, quatro obras disputaram a decisão e, no final, o samba 1 foi escolhido, sendo anunciado pela voz do intérprete oficial Fredy Vianna. A parceria vencedora é composta por Wladi Nascimento, Edinho Gomes, Myngal, Felipe Mussili e Gilson Bernini. Antes de iniciar a final, o presidente Paulo Serdan frisou que estava sendo uma das finais mais difíceis da história da Mancha, e até colocou algumas pessoas da comunidade para votar. O time campeão é fruto de uma junção de parcerias que competiam entre si dentro da própria Mancha. * OUÇA AQUI O SAMBA VENCEDOR
Disputa intensa e escolha difícil
O presidente Paulo Serdan falou sobre o difícil concurso e citou o critério alterado pela Liga-SP no quesito Samba-enredo. O gestor elogiou a melodia da obra e se diz feliz com a escolha. “Esse ano foi mais complicado, porque a gente tem um critério de julgamento novo. Para alguns compositores isso facilitou. Eu acho que eles pegaram bem a sacada do critério, a ideia da Liga e conseguiram colocar em prática uma melodia diferente, uma letra diferente, que não é tão presa e nem tão amarrada na sequência de uma sinopse. Então, eu acho que por isso a gente deu uma atrapalhada em relação aos outros anos. Mas foi gostoso, foi bom”, contou.
O processo de escolha é bastante diferente na Mancha Verde. A escola recebe diversas obras, mas só divulga as finalistas perto da decisão. Devido a isso, sofre algumas críticas. Entretanto, Serdan explicou que esse formato é feito para evitar guerras desnecessárias dentro da agremiação. “A gente respeita todo mundo, mas o grande problema é que sabemos como é compositor de samba-enredo. Os caras têm uma rapaziada que trabalham, correm atrás e você começa abrir uma votação ou coloca desde o início tudo à disposição e começa aquela guerra na internet. Aí vota no samba 1, samba não sei o quê, samba 15, samba 25… Tudo isso culmina em um clima desnecessário, sendo que para você escolher o samba, você tem que ter um critério. Não é só gosto pessoal. É lógico que no primeiro momento, enquanto você tem uma audição mecânica, o gosto pessoal conta bastante, mas aí depois já não. Você tem um trabalho de entender o enredo e aquela sinopse como foi entregue. Existem vários pontos que não adianta a gente ficar deixando se criar um clima de guerra para que é desnecessário para a entidade”, declarou.
Com exclusividade ao CARNAVALESCO, Paulo Serdan revelou que irá mudar o sistema de escolha para o ano que vem. De acordo com o mandatário, a escola irá opinar com mais autoridade na letra das composições. “Falando em primeira mão para vocês, para o ano que vem a gente vai convidar umas quatro ou cinco parcerias no máximo e conversar bastante com eles. A parceria vai fazer o samba, mas aqueles que aceitarem poder mexer no samba durante o processo, porque a gente procura fazer uma coisa muito correta aqui. Se não tiver legal nós vamos conversar de repente e falar para dar uma mexida em uma linha ou um pedaço. A partir do ano que vem a gente vai trabalhar desse jeito, vai ser mais fechado”, disse.
Sentimento da vitória e o amor pela Mancha
Wladi Nascimento, compositor da casa e cavaquinista da escola, falou sobre a sensação de ter uma obra assinada no seu pavilhão. O letrista enalteceu a junção feita com a parceria de Edinho Gomes e Gilson Bernini, além de exaltar o seu conhecimento de longo tempo com o compositor carioca Myngal. “Já tenho 13 anos de cavaco aqui e agora é o meu bicampeonato. O samba de 2017 foi meu. Durante esses oitos anos foram umas três finais. Aí você perde, fica chateado, mas o amor, o trabalho e a dedicação pela escola são o mesmo. A gente tem que pensar no pavilhão. Mas a emoção de ter uma obra sua é inexplicável. A nossa parceria é uma junção. A gente veio nesses últimos anos mexendo, mas eu e o Myngal já estamos há quase dez anos juntos. A história dele na Grande Rio, não precisa nem falar. E aí deu esse samba maravilhoso que tem tudo para ser um grande sucesso no Carnaval 2025”, declarou.
O experiente compositor Myngal, oriundo do Rio de Janeiro, se declarou para a Mancha Verde. Segundo ele, era um sonho ganhar um samba na agremiação e ver todos cantando na avenida. É um dos dias mais realizados do escritor de samba-enredo. “É o primeiro ano, mas já tem seis anos que eu venho disputando. A Mancha Verde é uma escola excepcional. Uma escola que acolhe as pessoas. Eu sou do Rio de Janeiro, um compositor da Grande Rio. Desde quando eu vim aqui, pela primeira vez, sempre me receberam bem. Eu desfilo, eu gosto muito da Mancha e eu tinha esse sonho de vencer aqui. Cheguei a três finais, essa é a terceira e eu ficava sempre imaginando que eu queria ver o meu samba na Mancha lá na avenida com aquela galera toda cantando. Hoje eu realizei. Eu acho que é um dos dias mais felizes da minha vida. Pode acreditar”, afirmou.
Edinho Gomes venceu o samba-enredo do ‘xaxado’, no ano de 2023 e, com essa vitória da obra de 2025, tornou-se bicampeão na escola. O compositor exaltou a alegria que a Bahia leva para o samba, além de toda a dedicação para a Mancha Verde. “Não tem explicação, porque é uma escola que a gente aprendeu amar muito, não só pela recepção. Quando a gente pega para fazer um samba exclusivamente para a Mancha, nos dedicamos bastante. Estamos muito felizes que fizemos a junção com o Vladi que é da casa e deu esse samba. Espero que a escola faça um bom desfile. O samba tinha que ser desse jeito, pelo fato da Bahia ser alegre”, comentou.
Escolha certeira
Entrando em detalhes técnicos, o diretor de carnaval Paolo Bianchi comentou a obra escolhida. O profissional argumentou bastante, disse que não há samba perfeito e foi uma escolha certa para a entidade. “As quatro obras que estavam na final e outras que não foram também, tinham condições de ir para a avenida. Não existe samba perfeito. Faz muitos anos em São Paulo, talvez até no Rio que não aparece um samba. Apareceram alguns no Rio até, mas São Paulo não tem tido aquele samba que fica na histórica, antológico. Se tiver um samba antológico, vai ser escolhido como foi Vila Isabel em 2013 quando tocou pela primeira vez todo mundo sabia que ia ganhar. Como foi Beija-Flor, a dois, três anos atrás. Não acontece isso faz tempo. Então, todos os sambas tinham muitas coisas boas e outras que sabíamos que tinham alguma situação, todos. Aí foi um detalhe, tinha que ser um samba para cima, falando de Bahia, um samba alegre, mas tinha que ser um samba que falasse nosso enredo também. Analisamos tudo, refrão de cima, do meio, a retomada, como ele vai fechar, se vai trazer a escola para cima na virada, então foi uma escolha feliz da comunidade da Mancha. Outros sambas ali tinham condições sim de ir para a avenida, mas todos os sambas têm que trabalhar. Daqui para frente é trabalhar em cima deste samba. Na minha opinião pessoal era o melhor e tinha que ter isso”, detalhou.
Como citado anteriormente, alguns componentes tiveram direito ao voto do samba-enredo vencedor. Paolo disse que quem faz carnaval é o povo e por isso a comunidade deve ser ouvida. “A gente faz um processo muito interno, mas no final abrimos porque não é o dinheiro que vai comprar alegoria, pagar alegoria, pagar fantasia. Quem ganha carnaval é o povo no chão. Se não acontecer no samba-enredo, na bateria, não acontecer na evolução e na harmonia, não vamos ganhar o carnaval nunca. São as pessoas que fazem o carnaval para a gente. É uma troca que não é só no samba-enredo na escolha. Hoje muita gente votou e confirmamos essa votação para ter certeza do que a diretoria pensa no ponto de vista técnico é também validado pela nossa comunidade. Quando acontece o contrário temos um problemão, mas Graças a Deus não foi isso que ocorreu”, disse.
O diretor de harmonia Bruno Ferrari se diz feliz com a escolha da agremiação. Agora, entra a parte do quesito dele, que é fazer a escola cantar forte o hino e evoluir com o ritmo correto. “Como o presidente falou, o samba não estava definido até a noite de hoje, até as apresentações. Foi um dos anos mais competitivos nosso. Graças a Deus a gente está muito feliz com a obra que nós escolhemos aí, com a música e tal. Agora vamos fazer o trabalho aqui na dentro da quadra, que vem a minha parte. Não é uma tarefa fácil, que é mais de duas mil pessoas que a gente tem que ensaiar. Vai ser um samba tranquilo para cantar, juntamente com o nosso time de canto que é super competente. A galera da bateria, para fazer um excelente trabalho”, concluiu.
Aprovação da dupla
Os mestres de bateria Cabral e Vinny falaram sobre o samba-enredo. De acordo com Cabral, foi uma escolha inteligente e que pode buscar o tricampeonato da Mancha Verde. “A gente até quinta-feira estava com bastante dúvida de qual levar para a avenida. Realmente foram quatro sambas que agradaram a escola. Foi uma disputa bem acirrada. Foi escolhido um samba bem escrito, na nossa opinião, muito inteligente, com boas sacadas. Eu acho que tem tudo para a gente conseguir fazer um trabalho legal e tentar o título. O tri da Mancha”.
Mais imagens da final
“Era uma escolha bem difícil, estava bem acirrado mesmo, tinham boas obras, graças a Deus. Demorou a escolher, mas porque tinha samba bom, não é pelo lado negativo. Então, isso é um ponto bastante positivo. A Mancha Verde está preparando mais uma vez um grande desfile, com um belo enredo, uma boa sinopse e uma boa estrutura de pilotos. Vocês vão até se surpreender. As alegorias mais uma vez vão vir legais. Um pontapé bacana para a gente fazer um baita desfile”, completou Vinny.
Apresentação do samba campeão
A parceria levou um contingente mediano de torcida, que mesmo assim fez barulho com show pirotécnico e papéis ao vento. Apresentações teatrais em disputas de samba-enredo são realidade, principalmente se tratando de finais. Sendo assim, o time levou ao palco integrantes vestidos de diversos orixás que fazem parte do Dique de Itororó, que é um cartão postal da cidade de Salvador. O samba foi defendido pelo renomado intérprete Ito Melodia e por Tiago Nascimento, cantor de apoio do Império de Casa Verde.