A presença de ensaiadores e coreógrafos junto aos casais de mestre-sala e porta-bandeira não é uma novidade, e vem ajudando bastante os defensores do pavilhão das escolas a dançarem na avenida. O CARNAVALESCO conversou com a porta-bandeira da Imperatriz, Rafaella Theodoro, o mestre-sala do Tuiuti, Raphael Rodrigues, e com a coreógrafa Beth Bejani, responsável pelos ensaios do casal da Grande Rio, Daniel Werneck e Taciana Couto, para entender a opinião dos envolvidos dentro deste assunto.
Rafaella Theodoro, porta-bandeira da Imperatriz, vê como primordial para o casal a presença de um profissional para auxiliar na preparação: “Acho primordial para a preparação, além de ser uma troca enriquecedora sem perder a tradição. Esse ano tivemos o auxílio da Ana Botafogo que permanece conosco por mais um ano. Sempre nos deixou à vontade para que nós dois montassemos a nossa coreografia e logo após ela entrou com todo seu refinamento e limpeza dos nossos movimentos”.
Em seguida ela contou também sobre como esse trabalho, realizado neste ano por Ana Botafogo, ajuda na evolução da mesma como porta-bandeira: “Em todos os momentos, seja ele no giro, no olhar, nos movimentos dos braços, das mãos. A cada ano eu aprendo mais e posso desenvolver tudo aquilo que é passado dentro e fora dos palcos”.
Por fim, a porta-bandeira contou como faz a sua rotina de preparo físico para poder desfilar na Sapucaí: “A preparação é mantida o ano inteiro, quando se aproxima o carnaval os nossos treinos são mais específicos, voltados para nossos movimentos e ter um bom condicionamento físico”.
Raphael, mestre-sala do Tuiutí, também conversou sobre a questão dos ensaiadores de casal, e destacou que uma terceira pessoa, vinda de fora, pode ajudar a melhorar a dança: “Eu acho bem legal. Até porque é uma terceira pessoa, uma pessoa de fora. Eu não consigo me ver dançando, a Dandara não consegue se ver dançando, a gente quando está dançando a gente não consegue se ver. Ter uma terceira pessoa de fora que entende é bem legal, é bem interessante, porque é um conjunto. Óbvio, que ela não pode querer mudar. Pelo menos para mim, eu sou um adepto da inovação, mas eu acho que a inovação na medida certa, que não seja exagerada, que não fuja a tradicionalidade do casal. Dentro disso, eu acho que ter uma terceira pessoa para que possa compor esse conjunto que é o casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, que venha para somar, mudar, melhorar movimentos, melhorar postura, que venha agregar com isso, eu acho bem interessante, eu sou a favor”.
O mestre-sala também citou como funciona a preparação física para o carnaval. Raphael comparou os casais com atletas, no nível de esforço e preparação que levam para dar o seu melhor na avenida: “Eu tenho dito isso, inclusive numa reunião que eu tive sobre casais de mestre-sala e porta-bandeira, que nós casais nós somos atletas. Nós somos atletas, a gente é como um jogador de futebol, um jogador de vôlei, uma pessoa que está se preparando para correr, para fazer atletismo, para correr a maratona, para correr os 100 metros rasos. Nós somos atletas, então um atleta ele tem que se cuidar, se dedicar, alimentação, ter uma atenção especial para que ele possa se desenvolver dentro do quesito. E assim como os clubes que os atletas defendem, investem na preparação deles, eu acho, particularmente falando, que as escolas também deveriam olhar com mais carinho para o mestre-sala e a porta-bandeira e ver a gente como atleta. Investir mais nessa questão de preparo físico. Algumas escolas já fazem, outras ainda não. Eu acho que as escolas poderiam ter esse olhar de carinho para esse lado dos casais”.
Beth Bejani é coreógrafa da comissão de frente da Grande Rio e ensaiadora do primeiro casal da escola, Daniel e Taciana, contou um pouco da história com o casal, e de como ganhou essa responsabilidade assim que chegou na escola: “O Daniel e a Taciana foram um presente pra mim. Chegamos na Grande Rio em 2018, eu e Hélio, para assumirmos a comissão de frente para o Carnaval de 2019 e foi me dada a missão de preparar um novo casal que se formava, o experiente e premiado, apesar de jovem, Daniel Werneck e estavam subindo a terceira porta-bandeira, Taciana Couto, de apenas 17 anos, para o posto de primeira e formar o novo primeiro casal da Grande Rio. Por aí já podem imaginar o tamanho do desafio. Fui pesquisar a Taciana em desfiles anteriores e apresentações de quadra, pois o Daniel já conhecia e admirava sua dança e estilo. Vi que Taciana, apesar de uma menina, era muito talentosa, mas tudo dependeria mais deles do que de mim, pois não seria fácil formar um novo casal com experiências e expectativas tão diferentes. O processo foi lindo e os dois totalmente abertos ao trabalho, dedicados, confiantes e com muito talento”.
A coreógrafa continuou a história, ressaltando como a dupla ter se conectado e forjado confiança foi essencial para o trabalho: “Vale dizer aqui que Dani abraçou e acolheu a Taci de uma forma incrível e o sucesso do trabalho e da dupla muito se deu por essa postura, profissionalismo e acolhimento do Dani para com a Taci. Ele foi o suporte que ela precisava para se desenvolver e crescer como primeira porta-bandeira. Ela teve confiança e em todo o momento eles foram juntos e o talento de cada um se somou ao do outro. Tenho muito orgulho desse casal, não só na dança, mas na vida, pelas pessoas que são. Dito tudo isso o que era um grande desafio, se tornou fácil. Não que a cada ano não seja um novo desafio, sempre é, mas nossa união somada ao trabalho, a dedicação e ao talento faz tudo ficar mais leve, prazeroso e nos faz acreditar que o céu é o limite. Eles se superam a cada ano e sou muito feliz de acompanhar e estar com eles desde o nascimento desse casal”.
Beth contou como concilia a comissão de frente da escola com os ensaios do casal, e que o trabalho dela junto ao marido, Hélio, está relacionado a cabeça da escola como um todo, e ressalta a parceria com os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora: “Consigo equilibrar bem, pois já trabalhávamos assim, eu e Hélio, desde o Salgueiro. Na verdade, ficamos responsáveis pela cabeça da Escola e pensamos em um “todo” para essa abertura, junto com os queridos Gabriel e Léo que desenvolvem e pensam todo o desfile da Grande Rio”.
Por fim, a coreógrafa contou como essa união de responsabilidade do casal com a comissão ajuda a dar o andamento da escola durante o desfile: “Enquanto estamos na avenida, nós damos o andamento da Escola e essa é uma responsabilidade muito grande, por isso fazemos questão de estarmos muito bem organizados e com riscos zero ou quase zero no que dependa da gente, além de contarmos com a colaboração do Thiago Monteiro. Essa dobradinha, comissão e casal na verdade facilita e ajuda os dois quesitos, pois pensamos no melhor para as duas apresentações e tem dado certo! Estamos sempre juntos e fazemos questão que o casal participe também de todo o processo da comissão, assim como a comissão também acompanha toda a criação do casal. E a esses dois quesitos também se misturam a bateria, o Fafá sempre participa de nossos processos, e nós também fazemos questão de participar do dele, ao processo do Evandro, a harmonia, enfim acho que formamos um grande time, onde todos se apoiam, se dedicam, se entendem e lutam pelo melhor para Grande Rio”.