Por Gustavo Lima e Fábio Martins
O Camisa Verde e Branco apresentou o enredo “O tempo não para! Cazuza – o poeta vive!”, na noite do último sábado, para a comunidade em grande evento na Fábrica do Samba, contando com presenças das co-irmãs Rosas de Ouro e Imperatriz Leopoldinense. O tema, que vai homenagear o cantor Cazuza, já era de conhecimento de todos, mas a agremiação preparou um espetáculo com a comissão de frente encenando clássicos do artista. Além disso, foi lançado o pavilhão de enredo que será ostentado pelo segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira. Outra presença importante foi de Dona Lucinha, mãe de Cazuza. A senhora de 87 anos recebeu das mãos da presidente Érica Ferro e do vice-presidente João Victor Ferro, um pavilhão simbólico de presente, onde está estampada uma fotografia da mãe e do filho homenageado. Por fim, a logo foi apresentada no telão e o enredo do Camisa Verde e Branco para o Carnaval 2024 é intitulado como “O tempo não para! Cazuza – o poeta vive”, assinado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues.
‘Pro dia nascer feliz’
Cahê Rodrigues está retornando ao carnaval paulistano após onze anos, onde em 2013 o artista prestou serviços ao Vai-Vai. Na época, dividia funções junto ao carnaval carioca, mas agora será dedicado somente ao Camisa Verde e Branco. De acordo com Cahê, o tema da escola é oriundo de um desejo da presidente Érica Ferreira e, por coincidência, o carnavalesco tem amizade com a mãe do homenageado, o que abriu portas para estreitar os laços e bater o martelo.
“O enredo do Cazuza nasceu no coração da presidente Érica, só que ela não sabia que eu tinha uma amizade com a Dona Lucinha (mãe do Cazuza). Não era a minha ideia autoral, mas eu fiquei muito feliz, porque eu já sabia que a Lucinha é apaixonada por carnaval. Ela já desfilou em dois desfiles meus no Rio. O Cazuza carrega com ele a liberdade de exaltação ao amor. Apesar de toda a polêmica de ser um artista visceral”, contou.
O Cazuza desperta uma complexidade enorme. A história dele vai muito além da música. Entretanto, Cahê disse que a narrativa do enredo irá seguir uma biografia musical do artista, passando por todas as fases polêmicas, mas tendo ênfase na música. Outro ponto é que o carnavalesco pretende ‘incomodar’ pessoas no desfile, assim como Cazuza fez em suas aparições.
“Por entender essa complexidade toda que é a vida do Cazuza, nosso maior desafio foi encontrar o caminho do desfile, e aí a gente decidiu que seria uma biografia musical onde as pessoas vão poder acompanhar a trajetória desse artista, mas com essas pinceladas de rebeldias, desse cara que conseguiu transformar a mentalidade de muitas pessoas. Não tem como falar de Cazuza e não gerar incômodo nas pessoas, porque era isso o que ele fazia. O meu equilíbrio é isso. Encontrar uma plástica que tenha desenvolvimento, beleza e tradição do Camisa, mas que também em algum momento, se sinta incomodado com esse artista que incomodou as pessoas com a sua postura”, declarou.
O Camisa escolheu fechar a sexta-feira de carnaval, mas Cahê conta que foi uma decisão da agremiação, pois era um desejo da comunidade. Devido a isso, tem toda a questão do “dia nascer feliz”, música cantada por Cazuza quando ele fazia parte do grupo Barão Vermelho.
“Fechar o carnaval foi uma decisão da Érica, porque era um desejo da escola. Como eu estou retornando agora, ainda não tenho esse termômetro e deixei nas mãos deles. Eu só disse que claro que seria incrível que o dia nasceria feliz dentro da proposta do enredo. Daí eu dei uma segurada no enredo, porque se a gente não fecha o dia, eu tinha que mexer em algumas coisas. Havia umas quatro fantasias e o último carro que eu não tinha desenhado ainda esperando a definição da ordem. Quando aconteceu, acabei mexendo no projeto e pude concluir essa ideia de o ‘dia nascer feliz’”, explicou.
Enredo emotivo e pesquisa detalhada
A dupla de enredistas que o carnavalesco Cahê Rodrigues levou consigo para o Camisa Verde e Branco, Victor Marques e Clark Mangabeira, se diz muito feliz na escola e em São Paulo. Segundo a dupla, o enredo desperta muita emoção no povo brasileiro e, com certeza, isso foi traduzido na sinopse.
“A gente já tinha feito carnaval em São Paulo, mas eu acho que agora tem um gosto muito especial, porque falar de um ícone que representa o Brasil, é diferente. Mexe muito com a memória afetiva da população brasileira. Então eu acho que isso é muito importante. A gente olhar para dentro do nosso país e reconhecer o melhor que nós temos”, disse Victor.
“Esse enredo é um dos mais emocionantes que a gente já fez, sendo Rio e São Paulo. É um tema que mexe com a emoção, mexe com o amor. É a mensagem que o Camisa, que o Cahê e que a gente quer passar tentando trazer na sinopse e no enredo como um todo. Então fazer esse tema é uma honra. Conhecer a Lucinha, conversar com ela é um presente inigualável”, completou Clark.
Mangabeira explicou como foi feita a sinopse. O escritor confirmou a ideia do carnavalesco Cahê e será uma biografia musical. Segundo ele, tentou extrair o máximo de informações, livros, outros artistas, televisão e a mãe Lucinha.
“O processo de sinopse foi uma pesquisa intensa. Quando a gente recebeu o tema, fizemos um recorte específico. A gente estava sempre pensando em uma biografia musical, pensando em trazer a música dele pela questão da memória afetiva com o Brasil afora. Então, foi um processo que começou com pesquisa, muita conversa, o carinho, a bênção da Lucinha. Conversamos também com todos os artistas que a gente pôde conversar para trazer um pouco de um Cazuza que não ficasse só nos livros, mas o Cazuza que a gente via na televisão e que a gente ouve falar. A ideia foi fazer uma sinopse que fosse emotiva, bonita e tentasse pegar um pouco da essência, da poesia do Cazuza e desse amor que a gente quer levar para o Anhembi”.
Altas expectativas e entrosamento com o carnavalesco
Luiz Romero, coreógrafo da comissão de frente, se diz muito emocionado com o tema e com uma alta expectativa com o que está por vir. “É muito emocionante, não só para mim, mas para todos da escola. Acho que quando teve a reunião da diretoria para anunciar o enredo, foi uma emoção, a presidente chorando. Vocês conhecem a Érica, foi muito emocionante. Quando a gente fala para as pessoas com a missão de falar do Cazuza, remete a algo muito bacana para a galera. É uma responsabilidade muito grande, é uma emoção muito grande. Estou muito feliz, porque de fato, a gente vai para uma linha musical. A expectativa está lá no alto”, opinou.
Um entrosamento entre carnavalesco e coreógrafo é fundamento para o sucesso do quesito. Luiz contou que teve conversa com o Cahê Rodrigues, trabalharam juntos para o lançamento do enredo no evento e que a expectativa é que seja um carnaval perfeito. “A gente teve uma primeira conversa falando um pouquinho do que eu gostava de trabalhar, do que ele gostava de trabalhar para a comissão, mas hoje o lançamento, a apresentação, foi um trabalho conjunto meu e do Cahê. Então, estamos nos entrosando e acho que até o carnaval já vai ser perfeito”, afirmou.
Romero falou que não é adepto dos desfiles de manhã, mas irá se adequar. O dançarino acabou olhando para a questão emotiva, onde o sol nascerá no Anhembi com o Trevo entrando na pista. “Eu particularmente não gosto de ser o último a desfilar, ainda mais na sexta-feira, porque a galera da comissão tem alguns profissionais da dança, trabalham o dia todo e aí desfilam no outro dia de manhã… Tive essa experiência com o Império e eu não acho tão bacana. Para o físico não é tão legal, exige uma preparação maior. Mas eu acho emocionante você entrar no Anhembi com o sol raiando, e ainda mais falando do Cazuza, eu acho que vai ser incrível. O lado bom é muito maior do que o lado ruim”, declarou.
Cuidado com a festa e como será a escolha do samba
Um evento organizado marcou a noite. De acordo com o diretor de harmonia Diego Zulu, tudo deve ser feito perfeitamente para deixar todos confortáveis. “O evento do Camisa é sempre grandioso pelo tamanho da escola, então a gente sempre tem que tomar cuidado com vários setores, várias situações e tratar bem o nosso povo e principalmente os nossos convidados. Então a gente fez um cronograma, organizou para tratar bem os convidados, tanto as escolas quanto as pessoas que vieram assistir a uma festa e ver que é sempre grande uma festa do Camisa”, disse.
O diretor deu detalhes sobre a escolha do samba. Ainda há de se confirmar o formato, mas será eliminatória com sambas concorrentes e provavelmente terá mais do que somente uma final. “Em breve vamos passar a sinopse para os compositores e abrir as eliminatórias para que a gente possa escolher o melhor samba para levar para a avenida. A princípio serão eliminatórias em quadra. A gente ainda não definiu se já começa pelas quartas de final ou já pegamos alguns pelos CDs. Ainda não definimos por completo, mas vão ser eliminatórias”, concluiu.
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