Por Raphael Lacerda, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Nelson Malfacini
A São Clemente foi a terceira escola a entrar na Marquês de Sapucaí no terceiro sábado de ensaios técnicos da Série Ouro. A agremiação de Botafogo realizou um desfile marcado pelo brilhantismo do casal de mestre-sala e porta-bandeira e a boa apresentação da comissão de frente. Apesar de estar em grande número, o canto começou forte, mas tornou-se regular ao longo da apresentação.
Neste ano, a escola da Zona Sul homenageia o grandioso compositor e sambista Zé Katimba, com o enredo “Que grande destino reservaram a você”, do carnavalesco Bruno de Oliveira. A São Clemente será a sexta escola a desfilar na Passarela do Samba no sábado de carnaval. Agora, há poucos dias do grande dia, a agremiação precisará acertar detalhes de harmonia e evolução em busca de uma grande apresentação.
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“Foi um ensaio bom, um ensaio técnico, eu comento, que a gente vem pra treinar a comunidade. Carro, fantasia, é uma coisa totalmente diferente. Mas foi bom. A galera cantou, está animada, gostei. Assim, tem melhorado muito, a harmonia da escola é muito boa, gerando os nossos paradões. É isso. Estamos aí na briga. Eu sou chato. Por mim, eu gosto de aperfeiçoar tudo. Não só aqui, quando eu assisto as outras escolas também… Eu tenho meu ponto de vista, meu pensamento, minhas críticas e também eu observo a qualidade de todo mundo, entendeu? Mas, em geral, foi muito bom. Foi muito bom”, explicou Thiaguinho Almeida, vice-presidente e diretor de carnaval.
Comissão de frente
Sob o comando da coreógrafa Bruna Lopes, a comissão de frente contou com 15 bailarinos e deu um show na Avenida. Eles utilizavam paletós e chapéus nas cores da escola de samba, e apresentaram uma excelente coreografia, com bastante entrosamento, vigor, garra e expressões corporais. Ao longo da apresentação no módulo de jurados, os componentes também pontuaram versos do samba com bastante força. Na saída da cabine de julgadores, os bailarinos retiravam o paletó. Cada um usava uma blusa com uma letra do nome de Zé Katimba. Um ao lado do outro, completavam o nome do compositor.
“Maravilhoso, foi tudo perfeito, do jeito que a gente ensaiou, sem tirar nem pôr. Me emocionei. Hoje vieram todos, e pra dar um spoilerzinho, a coreografia de deslocamento basicamente é real, a do júri que muda um pouquinho”, revelou a coreógrafa.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da agremiação, formado por Raphaela Caboclo e Alex Marcelino, apostou em uma lindas indumentárias brancas. A apresentação foi marcada de muita intensidade, segurança, conexão entre os dois e coreografias com referências ao samba. Destaque para as meias-voltas e torneados do mestre-sala e o bailado da porta-bandeira. Raphaela também se destacou com seus giros ousados. Foi uma das melhores apresentações da noite.
“Foi a melhor possível, dá um friozinho na barriga, a gente fica ansioso, mas é porque é um dia de testar mesmo e tirar a prova real do que a gente vem trabalhando a meses. Testar com tudo, a escola, a bateria, o andamento do samba, as pessoas e a nossa energia. Eu estou muito feliz com o que a gente conseguiu construir e é claro, a gente sempre pode melhorar, mas a minha avaliação é muito positiva. A gente nunca está satisfeito, né? Então eu vou aproveitar que os apoios vieram filmando e vamos bater apresentação por apresentação e mudar o que achar que tem que mudar, e é isso. Quero entrar e sair com os nossos 10. Sobre a fantasia, nós estamos muito felizes, tanto o Jorge Silveira ano passado fez uma fantasia maravilhosa pra gente, o Bruno então, meu Deus… aguardem, é linda”, disse a porta-bandeira.
“A gente vem trabalhando muito, assim como outros casais também. E avaliando geral, hoje foi muito bom. Mas vamos trabalhar para ser melhor, pois no desfile tem que ser melhor. Mas foi muito boa mesmo, a sintonia, a cumplicidade, esse olhar que a gente tem, a gente se entende. Mas a minha avaliação é que foi muito bom”, completou o mestre-sala.
Samba-enredo
O samba ainda pode render na Avenida. Dessa vez, o canto da comunidade não chegou a ser intenso ou muito forte e a harmonia caiu em alguns momentos. Apesar disso, os intérpretes Vitor Cunha e Leandro Santos estrearam muito bem e conseguiram segurar a obra durante todo o ensaio técnico. A dupla cantou muito bem e merece ser reconhecida pelo trabalho apresentado nesta noite.
“O ensaio foi ótimo. A escola fez o seu trabalho. Tivemos um problema no carro de som, o som estava falhando bastante, mas independente disso foi um desfile característico de São Clemente. Irreverente, o povo alegre, povo feliz, presidente contente, a bateria dando aquilo que prometeu, o carro de som também nosso aqui muito bom, a galera empenhada e agora é só esperar dia dez, São Clemente vai passar aqui igual um rolo compressor nessa Sapucaí”, citou o cantor Vitor Cunha.
“A escola toda cantou bastante, o chão da escola foi maravilhoso. Agora, Marquês de Sapucaí com a gente dia dez, vamos deixar fluir, vamos para cima deles e vamos com Deus. É isso, treino é treino, jogo é jogo. Fizemos nossa parte hoje. Sei que a gente pode melhorar, porque é nos detalhes que é coisa pontual de cada segmento, mas eu também… com todos os probleminhas que teve, principalmente, com a gente aqui no som, não é só a gente, que não é exclusivo da São Clemente, muita gente está passando e tendo problema com o som, infelizmente, e a gente precisa do som, mas tirando esses pequenos detalhes a gente está satisfeito com a nossa parte ali e com a parte da gente com a bateria também”, completou o cantor Leandro Santos.
Harmonia
O chão da São Clemente é presente. A escola entrou bem na Avenida e concluiu o ensaio com o canto regular. O nível de intensidade do desfile caiu um pouco ao longo do desfile e era possível ver alguns componentes sem cantar. Apesar disso, a regularidade foi positiva. Mesmo assim, ainda é preciso trabalhar a harmonia da escola – principalmente nas últimas alas.
Evolução
O desfile não apresentou buracos notórios e contou com alas coreografadas bem entrosadas. No geral, a evolução também foi regular. Muitos componentes – alegres – tentavam empurrar o samba e brincar carnaval, mas ainda há aqueles mais “engessados” na Avenida. No geral, foi um bom ensaio.
Outros destaques
Destaque para a estreia de mestre Bruno Marfim no comando da “Fiel Bateria”. A bateria tem um grande desempenho na Avenida e não deixou de lado o seu modo tradicional de tocar. Juntos com o carro de som, os ritmistas foram fundamentais para segurar o samba-enredo ao longo de todo o ensaio técnico.
“Foi um grande teste e foi muito importante esse teste. Porque é o único que a gente tem antes do desfile. É a única oportunidade que a gente tem de realmente estar dentro do campo de jogo. E aí, para mim foi show de bola. Acho que a gente se entrosou bem. A gente já vinha fazendo bons ensaios e aqui só foi o resultado dos bons ensaios que a gente vinha fazendo. Eu acho que todo mundo tem que estar muito atento, sabe? Nós somos uma bateria que a gente não tem apito, não dá pra dispersar. É atenção o tempo todo. Isso aí que eu vou mais cobrar para o dia do desfile. Pode esperar um peso nas marcações muito forte”, contou mestre Bruno Marfim.
Também vale destaque para a majestade, a rainha Raphaela Gomes, que completará dez anos à frente do segmento. Cria da comunidade Preta e Amarela, ela esbanjou samba no pé e carisma com seus súditos na Marquês de Sapucaí. Um verdadeiro show.