Desde o começo do evento que revelou o enredo da Barroca Zona Sul se iniciou, uma pessoa se destacava na quadra da agremiação. Com um vestido branco e inteiramente aprumada, ela esbanjava simpatia, com diversos sorrisos e danças e muito bom humor. A comunidade inteira já a conhecia – afinal, ela surgiu para o carnaval no terreiro verde e rosa.
Próximo dela, embora mais discreto e igualmente reconhecido pelo público na Arena Neguinha, outra pessoa também brilhava. Também de roupa inteiramente branca e tão sorridente quanto, ele também cumprimentava a todos com sorrisos e acenos no 25 de junho dominical, data da ocasião.
Quando a escola começava a arrumar a quadra para convidados, shows e, sobretudo, para toda a comunidade conhecer o enredo (que, instantes depois, foi revelado: “Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba, por isso que nós somos a Faculdade do Samba. 50 anos de Barroca Zona Sul”, comemorando o Jubileu de Ouro da verde e rosa), uma publicação nas redes sociais viralizou: os dois juntos para quem quisesse ver.
Minutos antes do anúncio oficial pela escola de samba, a internet já sabia: Lenita Magrini voltaria à Barroca para fazer par com Marquinhos Costa – que emenda o segundo ano consecutivo na instituição.
Com todas as apresentações realizadas, o casal de mestre-sala e porta-bandeira barroquense concedeu entrevista exclusiva ao CARNAVALESCO para falar sobre o momento de cada um deles, a nova dupla e a expectativa para desfile tão aguardado da agremiação.
Torcedora na avenida
Assumidamente torcedora da Barroca, a história de Lenita Magrini se confunde com a última década da agremiação amada. Enquanto a escola se recuperava de um momento instável, ela assumiu a responsabilidade de conduzir o pavilhão verde e rosa em 2015, fazendo par com Cleydson Ferreira no desfile campeão do Grupo I da UESP (à época, terceiro grupo do carnaval paulistano – hoje, tal nível na pirâmide da folia de São Paulo correspondeu ao Grupo II da Liga-SP).
Após um rebaixamento no ano seguinte e mais um título do Grupo I da UESP em 2017, ela atravessou a cidade e para atuar na Independente Tricolor, na Vila Guilherme. Após quinze anos longe do Grupo Especial, quando a verde e rosa voltou a desfilar na elite do carnaval paulistano (em 2020), Lenita retornou – dessa vez, dançando com Igor Sena.
A segunda passagem dela, entretanto, foi dirimida por conta da pandemia. Sem desfiles em 2021, ela, literalmente, atravessou o planeta por conta de um desafio profissional – e, se a Coreia do Sul trouxe inúmeras oportunidades, a afastou do carnaval 2022. “A partida já foi muito difícil, mas surgiram problemas relacionados à vida pessoal, ao meu trabalho, e eu tive que me retirar. Já foi um aperto muito grande no coração porque eu sou criada nesse chão, eu comecei aqui. Quando a gente volta, é algo novo, é uma parceria nova, mas é um carinho tão grande que eu tenho pela escola e pelo pavilhão que ultrapassa qualquer dificuldade que eu tive. Olhar, pegar na mão do novo mestre-sala, sentir que eu estou aqui de novo… é inexplicável. É a terceira passagem, mas parece que toda vez é a primeira. O Barroca é a minha casa, peguei um mestre-sala que é incrível. Agora, é trabalhar, buscar a nota e chegar chegando”, declarou-se.
Pela segunda vez consecutiva
Se Lenita, por inúmeros motivos, teve muito destaque no evento realizado, o companheiro de dança não ficou para trás. Desde 2017, quando o já citado Cleydson Ferreira emplacou três anos consecutivos na agremiação, Marcos Costa, o Marquinhos, passa a ser o primeiro mestre-sala a emendar dois desfiles consecutivos na Barroca Zona Sul.
Com passagens por outras grandes agremiações da folia paulistana (como Rosas de Ouro, X-9 Paulistana, Unidos de São Lucas e Império de Casa Verde), ele destaca a honra de cortejar o pavilhão verde e rosa e retornar para 2024. “É um prazer permanecer na Barroca. Em um ano no qual eu achei que não ia nem desfilar mais, no qual eu cheguei aos 45 do segundo tempo no carnaval passado, me acolheu muito bem. A escola me deu todo o suporto, liberdade e credibilidade para trabalhar. Isso conta muito mais que qualquer outro tipo de conversa que eu possa ter. Quando você vê que você se sente à vontade, como ver meu filho, minha esposa e meus pais na quadra hoje e tem a liberdade de trazer a família, se sentindo em casa… isso, para mim, é muito importante. É um prazer estar de volta, e eu sempre falei para o Cebolinha que a confiança e a credibilidade que ele me passou, tudo que conversamos… ele sempre foi super correto comigo, ele sempre me disse que confiava em mim, em plena avenida. Isso já foi um ótimo gatilho”, pontuou.
Criados na dança
A dupla é inteiramente voltada para o bailado. Lenita é bailarina, dançarina e coreógrafa, enquanto Marquinhos é professor de dança popular de salão, formado em balé clássico e jazz e campeão brasileiro de dança esportiva. Na visão do mestre-sala, tal característica ajuda muito na sincronia e na dança. “Eu já vi a Lenita dançando, a gente já se conhecia de vista, em rodas de pavilhões, mas nunca tínhamos dançado juntos. Nunca! Nem em roda de pavilhão, de trocar par e dançar dez segundos juntos. Sei do histórico dela como porta-bandeira, a própria Roseli disse que com a Lenita não tem tempo ruim, ela é determinada e focada: quando ela quer, ela vai e faz. Isso é um ponto inicial para qualquer tipo de trabalho, é bom saber que nós temos o mesmo pensamento, isso traz segurança. Nós dois trabalhamos com dança, então nós temos um pensamento muito parecido na estrutura: no jeito de se portar, chegar, sair, na relação com a comunidade. Tem tudo para dar certo”, elogiou.
Ano mais do que especial
Fundada no dia 07 de agosto de 1974, a Barroca Zona Sul completará 50 anos no próximo ano. E é claro que a responsabilidade de conduzir o pavilhão em tal desfile também mexe com o pensamento do casal de mestre-sala e porta-bandeira barroquense.
Os anseios da comunidade não saem da cabeça de Marquinhos. “É uma responsabilidade muito grande, mas, ao mesmo tempo, uma alegria muito grande por estar na escola no ano do Jubileu de Ouro. Saber que estaremos representando toda a escola da comunidade e ouvi-los contar a história da escola é mágico. Entender o motivo de tudo, história como o porquê do verde e rosa… saber de tudo isso te torna ainda mais parte do processo. Adorei o enredo, adorei as propostas, já ouvimos algumas coisas sobre o nosso setor… adorei”, suspirou.
Relembrando as palavras de Geraldo Sampaio Neto, o Borjão, dos grandes baluartes da história da escola (e, consequentemente, do carnaval paulistano), Lenita buscou falar em nome do casal. “Aprendi com o Borjão no meu primeiro ano e eu costumo falar que o pavilhão é algo além de uma bandeira. Ele carrega as dores, as alegrias, a tristeza, a felicidade, o choro e as conquistas. Carregar tudo isso nos 50 anos de Barroca sendo que eu fui criada nesse chão, foi o chão que me deu oportunidade, além de tudo que o Marquinhos me falou, é um momento incrível para o Barroca, para mim, para o Marquinhos e para a nossa parceria que vai durar muito tempo”, arrematou.
Além da passarela
Empolgados, Lenita e Marquinhos deixaram escapar com pensamentos o quanto a formação da dupla os animou. O mestre-sala destacou que pensa em algo para comemorar o Jubileu de Ouro da Barroca além do carnaval. “Quando eu fiquei sabendo que o enredo seria esse, ele me deu liberdade para conversar com o carnavalesco para nós montarmos um espetáculo com o mesmo tema do nosso enredo. Como eu trabalho com dança, temos a intenção de trazer isso para o palco. É um ano muito importante, não pode ficar só na avenida, tem que ser vivenciado em cada ensaio desses 50 anos, em cada reunião, cada entrada no barracão… tudo tem que ser curtido”, revelou.
Já Lenita, em duas oportunidades, afirmou que a parceria com Marquinhos será duradoura. Em uma delas, falando sobre o quanto se sente à vontade na agremiação. “O chão do Barroca nos permite fazer isso. O presidente nos dá uma liberdade muito grande, não só para o casal quanto para a comunidade. Isso nos aproxima muito – tanto a gente da comunidade quanto a comunidade da gente. Em alguns lugares, parece que o casal é intocável, e aqui não: ele nos permite ter essa vivência. Se não estamos dançando e cumprindo a nossa obrigação, podemos brincar na ala, na bateria. Isso é muito gostoso! Isso nos deixa com a sensação de que chegamos no quintal de casa, literalmente”, comentou.
Para encerrar a entrevista, novamente a promessa de que o casal terá vida longa conduzindo o pavilhão verde e rosa. “Agora, tem uma parceria que vai dar certo e que é única, já que somos da dança”, finalizou, relembrando que ela, juntamente com Cleydson, foi uma das partes do último casal que voltou para desfiles consecutivos – ambos estiveram como primeiro casal da instituição entre 2015 e 2017.