Podemos dizer que Milton Cunha virou coordenador do carnaval de Brasília. Ele está engajado e ativo em tudo que envolve o evento na cidade. Conhece tudo e mais um pouco das escolas. O artista por onde anda é cortejado com pedido de fotos, além de sempre estar recebendo palavras carinhosas e retribuindo-as.
Milton e desfiles de Brasília viraram um só. O apresentador conversou com o CARNAVALESCO e disse tudo o que está sentindo sobre a cultura do Distrito Federal.
“Eu estou aqui há dois anos. A secretaria de Cultura e Economia e Criativa, no braço da difusão cultural e artes populares, através da Sol, criou em 2021 a escola de carnaval, que é o primeiro passo do sonho de ter um desfile. A gente montou um curso de disciplinas, como mestre-sala e porta-bandeira, passistas, compositores, alegorias em 3D, croqui de fantasias, como escrever o enredo, comissão. Foram 12 meses com uma disciplina por mês. Quando terminou, a gente já tinha feito fantasias com espumas e plumas. Os alunos estavam com o coração na boca. E aí a Sol começa a soltar os editais de competição. Quanto a escola vai ganhar, CNPJ e tudo mais. Cada escola dessa tem uma cara de comunidade que eu conheci durante esses dois anos e eu estou torcendo muito por eles. Eu vejo que é uma luta”, disse.
Emoção do componente
No evento da lavagem dava para sentir o brilho no olhar e a emoção tomando conta com essa volta dos desfiles após nove anos. Perguntado sobre isso, Milton respondeu que todas as pessoas se sentem valorizadas. Além do mais, o sambista também fez uma previsão positiva, falando que daqui alguns anos os desfiles de Brasília irão caminhar sozinhos.
“Eles se sentem valorizados. Houve um investimento gigante no palco, na luz, som e telão. Fora isso, o samba é a única vitrine que essas pessoas têm para ocupar o centro da cidade. Nós estamos na Torre de TV, Congresso e chafariz. Estamos perto de todos esses pontos importantes. É uma vitrine e uma possibilidade de aparecer mostrando uma notícia positiva. Com suas costureiras, ferreiros e escultores, pouco importa se eles têm as escalas das artes belas e da academia para fazer suas esculturas. O importante é que elas vão passar e ano que vem vão melhorar. O pessoal aqui ainda está importando muito casal de mestre-sala e porta-bandeira, cantor e chegará uma hora que eles terão um ‘player’ de estrelas onde os artistas do Rio serão convidados para aplaudir e fazer participação especial. Vai ser um chororô, gritaria e representa a luta de voltar”, declarou.
Dinheiro aplicado nas agremiações
Milton falou da questão financeira aplicada nas escolas. Questionou o motivo das verbas para o carnaval serem menores e o investimento em outras artes e culturas terem um porte maior. Uma agremiação leva pessoas mais humildes aos ensaios e avenida. Há de ressaltar que todos estão trabalhando incansavelmente para fazer acontecer e o apresentador valorizou tudo isso.
“Você tem dinheiro carimbado para o balé, teatro, ópera, orquestra sinfônica e fica esse desprezo contra o dinheiro carimbado da arte popular. Por que essas feirinhas não tem dinheiro carimbado? Elas são patrimônio cultural do povo. É engraçado achar que as artes clássicas brancas e o cinema são inatingíveis. Cadê os cineastas e as bailarinas da comunidade? A comunidade é direta. Investimento para as escolas de samba não tem que ter vergonha nenhuma. Saem daqui 13 comunidades mais felizes, menos violentas e que não levam mensagens ao seu povo. É investimento de qualidade de vida. Se você tem equipamentos culturais que mamam dessa verba, por que as escolas de samba não podem pegar sete milhões dessa verba? Eu ainda acho pouco, mas a máquina está girando. A luta deles é ter sede. Não tem barracão, é tudo muito longe e tem carro que demora 1h30 meia para chegar. Mas todas as 13 escolas estão aí”, completou.