O Carnaval SP 2024 promete cara nova às disputas nos grupos Especial, Acesso 1 e Acesso 2. O critério de julgamento dos Desfiles das Escolas de Samba de São Paulo passa por uma reformulação, com a participação de artistas envolvidos diretamente no espetáculo. Todos os quesitos estão sendo revisados e alterados de acordo com a avaliação dos grupos, em reuniões periódicas na sede da Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo, na Fábrica do Samba.
O que aconteceu:
- Ainda em fevereiro, ao término do Carnaval SP 2023, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo decidiu por revisar os critérios de julgamento dos desfiles.
- Desde março, grupos especializados, associações dedicadas a quesitos do Carnaval e agentes envolvidos diretamente na execução de um desfile estudam mudanças e rumos do julgamento.
- Quesito a quesito, o presidente da Liga-SP, Sidnei Carriuolo, tem se encontrado com os artistas e trabalhadores do espetáculo para um bate-papo.
- Até o momento desta publicação, foram reavaliados os quesitos Fantasia, Alegoria, Enredo, Samba-enredo e Mestre-sala e Porta-bandeira.
Por dentro do processo
Esta é a primeira vez na história recente que pessoas envolvidas diretamente nas notas, representando suas agremiações, participam de alterações no critério de julgamento. “Foi de extrema valia o presidente Sidnei ter aberto a pauta de conversação com todos os representantes de cada escola, e ele também ter se posicionado, ter ajudado. Eu tenho certeza de que, no ano que vem, as pessoas vão notar a diferença no resultado da apuração do Carnaval 2024”, diz Douglinhas Aguiar, intérprete oficial da Águia de Ouro e um dos artistas que participaram da revisão do critério de julgamento de samba-enredo.
O texto apresentado aos avaliadores é de extrema importância e sofreu ajustes necessários ao longo dos anos, para se adequar à evolução natural do contexto no qual o Carnaval paulistano está inserido, uma vez que não é um mundo à parte, desconexo da realidade da capital. O encerramento do Carnaval SP 2023 coincide com o fim de um ciclo na disputa e, consequentemente, o início de uma nova era, com colaboração e cocriação. “As propostas apresentadas, as mudanças pontuais no texto de avaliação produzido por nós, os que estão a frente da criação, nos permite, sem dúvida, inovar, ousar e contribuir com a ascensão do espetáculo. A concepção artística, o conjunto (algo que não era visto) e subjetividade nos permitirá novas sensações. Será preciso ousar, se arriscar e inovar. O artista não deve ter medo de se arriscar, ele precisa trazer o diferencial”, adianta Fábio Gouveia, carnavalesco da Nenê de Vila Matilde, que fez parte da reformulação dos quesitos do módulo visual: Alegoria, Fantasia e Enredo.
“Essas oportunidades, junto à Liga, abrem uma nova era. O jurado passa a compreender com clareza e maior treinamento o que cada agremiação apresentará em seu desfile. Estamos num grande momento de crescimento e isso requer uma melhor avaliação”, completa.
Tendo o Carnaval das escolas de samba seus próprios ritos, tradições e ancestralidade, em cada passo pesa a preservação da cultura e o desenvolvimento do espetáculo. Um dos quesitos que se equilibra entre a essência e o futuro é o casal de mestre-sala e porta-bandeira, que tem um bailado singular e muitas particularidades, uma combinação que não é vista em outro lugar a não ser em uma agremiação, o que torna o entendimento um pouco mais difícil.
Contornar isto passa, invariavelmente, pela vivência de quem pode ensinar: “Eu sempre sou muito a favor dos julgados serem escutados, acho que é uma forma de clareza, de ser justo, de ser leal para todas as escolas”, explica Adriana Gomes, porta-bandeira da Mancha Verde e uma das pessoas ativas e envolvidas na revisão do critério de julgamento do quesito. “Qualquer tipo de iniciativa que conte com a colaboração de todos os participantes do evento acho que é superválida. Isso já sai com com meio ponto a mais, sabe? Então, a gente vai construindo um negócio bacana pra que todo mundo saia feliz e todo mundo entre na pista sabendo daquilo que vai acontecer, entendendo o critério, entendendo a regra do jogo”, diz.
Na disputa, o primeiro lugar consagra a escola campeã, mas todos ganham quando o Carnaval se permite evoluir: “Pra gente crescer, não pode ter medo de ser julgado. O erro acontece. Então se houve um erro, se houve um acerto, vocês que estão em casa, [é] porque nós estamos preparando um grande espetáculo, acredite, nós estamos fazendo o melhor pra vocês, sem pensar em nomes”, ressalta Rubens de Castro, mestre-sala da Dragões da Real.
No Carnaval de São Paulo, os jurados avaliam os desfiles no sambódromo do Anhembi em 9 quesitos: Alegoria, Fantasia, Enredo, Bateria, Samba-enredo, Harmonia, Mestre-sala e Porta-bandeira, Comissão de Frente e Evolução.