A última década foi da Unidos da Tijuca. A escola do Borel venceu 2010, 2012 e 2014. Antes, ela já vinha de grandes desfiles no início dos anos 2000. Considero o histórico 2004, um desfile campeão, mesmo sendo oficialmente o vice-campeonato. Passava sempre como uma das mais aguardadas. Chegou o ano de 2017 e a maré virou. Após o acidente com uma alegoria, a Unidos da Tijuca despencou. O desfile de 2020 neste contexto foi o mais assustador. O perigo do rebaixamento foi forte.
Apesar da relação do carnavalesco Paulo Barros e a Unidos da Tijuca ter dado frutos maravilhosos, a agremiação acabou sendo mais “prejudicada” com o fim da parceria. Qualquer artista que é contratado é “confrontado” com a missão de fazer o mesmo ou melhor do que Paulo Barros. Não é fácil. O cara realizou as melhores apresentações na Marquês de Sapucaí ao lado do povo tijucano. Do lado de fora, ele foi campeão na Portela e se reinventou na Vila Isabel em 2023. Agora, o desafio está na ponta tijucana. É o Pavão que necessita voltar a brigar no topo, inclusive, com outro modelo de desfile.
A Unidos da Tijuca sempre mostrou ter bons quesitos no bolso, inclusive, nos momentos de dificuldades. Possui uma comunidade forte e que canta demais. É uma agremiação que não comete erros clamorosos em evolução, além de ter uma das melhores baterias do carnaval. Nos últimos anos, o caminho tijucano teve um momento de respiro. A apresentação de 2022 foi maravilhosa e tinha tudo para ser o resgate tijucano. Porém, a escola ficou calada no pré-carnaval, deixou sambistas e imprensa especializada, preocupados com o que poderia vir na Avenida. Deixar a especulação não foi boa ideia. O que vimos foi totalmente diferente. Um desfile que tinha totais condições de voltar nas campeãs, sofreu preconceito de todos, principalmente, dos julgadores. Erro grave de avaliação do júri da Liesa, talvez, “contaminado” pelo pessimismo pré desfile.
Após o desfile de 2022, a expectativa cresceu para 2023. A Tijuca apresentou uma das melhores comissões de frente, inclusive, recebeu nosso prêmio Estrela do Carnaval, mas pecou nos quesitos plásticos, ou seja, no conjunto de alegorias e fantasias. O momento mais complicado ficou nos carros alegóricos e menos nas fantasias. Por dificuldade financeira ou outro motivo não revelado, a agremiação não conseguiu o mesmo desempenho do ano passado. Novamente, o perigo do rebaixamento surgiu, embora, não tenha passado sufoco na apuração.
Sinto que falta a Tijuca aquela vontade de recuperar os momentos em que fazia um dos melhores ensaios de rua do Grupo Especial. Era um grande prazer viver os ensaios de quinta-feira na Avenida Venezuela.
O que vem para 2024?
Acredito muito nessa mexida feita pela Unidos da Tijuca. Oxigenou! Agora, o jeito é esperar para ver na prática. Com a contratação do diretor de carnaval, Marquinho Marino, e, com Fernando Costa, na direção de harmonia, minha expectativa é que os treinos comecem em novembro na quadra e dezembro na rua. O intérprete Ito Melodia vai incendiar o chão tijucano.
A chegada de Marino, que reconheço com um dos melhores do segmento, tem tudo para dar certo. Devolver a pujança de desfile e o trabalho minucioso e de muito conhecimento dentro do barracão, e, acima de tudo de técnica de desfile. Todas mudanças na equipe refletem a vontade de recuperar o protagonismo. Temos que celebrar quando uma escola de samba entende que está na hora de virar a página.
O retorno da Lucinha Nobre é espetacular. É a volta no tempo que é gostoso reviver. Embora, é preciso deixar claro que Denadir fez ótimas apresentações na Tijuca. Sendo assim, confesso que estou ansioso para ver a estreia oficial da porta-bandeira dançando na quadra com o mestre-sala Matheus. É a Tijuca visando o topo do quesito.
Quem já está no topo é o coreógrafo Sérgio Lobato. Bola dentro da direção renovar com o artista. A comissão de frente está em ótimo patamar. Trabalho impecável que une criatividade, leitura e beleza artística.
Tenho certeza que o carnavalesco Alexandre Louzada chega com muita vontade de fazer carnaval. Se puder tocar um enredo autoral, ela mostrará o talento de um dos maiores artistas da Sapucaí. Sua coleção de títulos é magnífica. A ida para Tijuca traz frescor para o trabalho e aumenta a expectativa do tijucano e do público pela exibição na pista em 2024.
Ainda sem revelar a renovação ou não com mestre Casagrande, a direção tijucana sabe que ritmo é com o Borel. Embora os especialistas considerem justas as notas de 2023 (9,9, 10, 9,9 e 10), eu ainda estranho ver a “Pura Cadência” ser despontuada. É óbvio que todos podem sofrer penalizações, porém, dessa bateria não esperava. Faz parte de quem está na pista para julgamento.
A Unidos da Tijuca possui totais condições de resgatar seus bons tempos escolhendo um enredo que agrade a comunidade, gerando um bom samba, e trabalhando bem no pré-carnaval. Como ouvia do presidente Fernando Horta nos anos 2000, antes do título de 2010, é impossível duvidar da Tijuca. Eu vi essa escola brilhar intensamente e acredito que, mais uma vez, esse dia vai chegar.