Após a polêmica criada durante as eleições do último ano por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tentaram marginalizar o termo CPX, a Rainha de Ramos vem com toda a força de sua imponente história somada a garra da comunidade para defender o complexo, combater o preconceito criado sobre a sigla e buscar o pódio. Em entrevista ao CARNAVALESCO, gresilenses destacaram o óbvio: CPX é sinônimo de gente boa e trabalhadora. Não de traficantes.
Mayara Simões, de 31 anos, é passista da Imperatriz e cria do Complexo do Alemão. Orgulhosa, ela destacou que os moradores abraçaram a escola.
“A escola vem há muito tempo procurando e idealizando esse patamar que hoje estamos. Hoje a comunidade abraça e se alegra com essa fase da escola. […] Com esse resgate, faremos o possível para trazer esse título de volta a Ramos, uma escola tão tradicional e importante não só para o carnaval, mas, acima de tudo, para a nossa comunidade”, disse Mayara.
Mayara também ressaltou a mensagem que a agremiação deseja passar: o Complexo é lugar de gente do bem, e garantiu que não sente vontade de ir morar em outro lugar.
“É lugar de gente trabalhadora, de bons profissionais, de boas indústrias. A gente vê não só como uma comunidade, mas um local que você olha e vê grandes talentos. É um lugar de pessoas menos favorecidas sim, mas, se tiverem oportunidade, vão chegar mais longe do que muitas pessoas mais favorecidas.[…] A minha comunidade é tudo para mim. Eu não desejo sair de lá. Óbvio que eu desejo sim melhorar minha casa para ter um maior conforto, mas sair da minha comunidade, nunca”, completou.
Thamires Pereira, de 31 anos, disse que as notícias falsas sobre a sigla não passam de uma bobagem. Para ela, a relação entre comunidade e Imperatriz é fundamental.
“É uma sigla do Complexo do Alemão, onde fica a nossa quadra. Eu acho que é uma extrema bobeira essas notícias falsas”, ressaltou. “Era justamente essa relação que estava faltando. A comunidade de Ramos precisava desse reencontro com a Imperatriz e a gente está amando muito. Eu amo ser CPX!(risos)” contou Thamires.
Mesmo quem ainda é adolescente já entendeu a importância de levar o nome para a Marquês de Sapucaí, e disse sentir orgulho de ser CPX. Luiza Cardoso, de apenas 15 anos, assistia da frisa o ensaio de sua escola do coração e lembrou que o preconceito também existiu com o samba.
“O samba em si, na verdade, sempre foi muito marginalizado. Tudo isso tem que mudar. As pessoas que moram na favela não fazem mal a ninguém. Elas amam, vivem, tem amor à escola. Tem que valorizar e ter menos marginalização. […] Eu acho uma coisa linda (a aproximação da Escola). Muita gente reclamava do fato das rainhas serem de fora da comunidade. Agora estamos vendo uma maior aproximação”, declarou a jovem.
E mesmo quem não é da comunidade sabe a importância da quebra de paradigmas. Bruno Lopes, de 37 anos, vai desfilar na ala 484. Na entrevista, ele afirmou que a relação entre comunidade e escola vem crescendo, destacou que a polêmica não tem sentido e que ela ficará para trás.
“Não faço parte da comunidade, mas, com certeza, isso é muito importante para eles.[…]Isso não tem nada a ver (fake news). E, graças a Deus, saiu quem estava por trás disso. Vai ser melhor agora.”, enfatizou Bruno.
COMO SURGIU A FAKE NEWS SOBRE CPX
Em outubro do ano passado, em visita ao Complexo do Alemão, o então candidato à presidência, Lula, recebeu de um líder comunitário um boné com a sigla CPX, o qual passou a usar durante a campanha na localidade. Após isso, parlamentares e apoiadores bolsonaristas passaram a associar a sigla CPX com ‘cupincha’, um termo que significaria ‘parceiro do crime’. Rapidamente, ONGs, autoridades, líderes comunitários e moradores reagiram: CPX é Complexo, lugar de trabalhador. Neste Carnaval, a Imperatriz Leopoldinense vem para consolidar o nome e enterrar de vez qualquer fake news.