Continuando com a Série Barracões São Paulo, o site CARNAVALESCO visitou o barracão da Mocidade Unida da Mooca e conheceu o projeto da escola que fecha os desfiles do Acesso I no próximo domingo. A agremiação levará para o Anhembi o enredo “O Santo Negro da Liberdade”, que contará a história de Francisco José das Chagas. O carnavalesco Caio Araújo conversou com a equipe e detalhou o enredo.

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“Era um personagem que eu tinha ouvido falar muito por alto quando estavam mudando o nome da estação da Liberdade para ‘Japão Liberdade’. Eu li alguma coisa sobre a história do Chaguinhas, mas tudo muito superficial. Quando a gente começou a fazer a pesquisa, já falamos que era esse. Achamos que tinha muito a ver com o que a Mocidade Unida da Mooca tem construído como identidade e é um enredo que está falando sobre a nossa cidade também. Acho que aqui em São Paulo está faltando muito temas que olhe mais para nossa construção enquanto cidade. A gente acaba pegando referência mais de fora”,

Pesquisa do enredo

Fazer uma pesquisa abrangente sobre Francisco José das Chagas é uma missão complicada. É um personagem histórico se for conhecer, mas o fato é que é pouco aclamado e reconhecido. Segundo Caio, as conversas foram cruciais para o desenvolvimento do enredo.

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“A pesquisa foi muito difícil porque não existe quase nenhuma publicação em torno do Chaguinhas. O que a gente encontra é justamente um recorte de jornal, onde um deputado vai descrevendo exatamente como foi o dia da execução dele e tem o relato da Unanca, que é uma organização que mantém viva a memória do Chaguinhas e que luta muito pelo tombamento histórico da Capela dos Aflitos. A gente teve muito relato oral, alguns textos que a gente encontra aqui e ali são de autores que falaram sobre o Chaguinhas, mas alguns são até contraditórios. Tem que juntar uma coisa de um lado e de outro para construir a memória. Também construímos um panorama de ver o que a gente vai conseguir encontrar em termos de relatos históricos do que era São Paulo na época do Chaguinhas. A gente encontra relatos e textos sobre o cemitério, como era a vivência na época e fomos construindo uma concha de retalhos para poder ver o que era aquele cenário. E aí baseado no que a gente tinha, conseguimos traçar isso. As ossadas que foram encontradas nessa obra ajudaram muito porque vieram junto com as contas que eram vestígios de guias de orixás. Isso foi ajudando a gente concluir como era a relação da cidade de São Paulo com as religiões de matriz africana naquela época dentro de um bairro preto. A gente tinha muita dúvida se o Chaguinhas tinha essa relação. Então nós buscamos criar essa visão do ontem, do hoje e do que realmente temos de vestígio histórico dele”,

O melhor do desfile

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O carnavalesco disse que a abertura da escola é o principal ponto que o público pode esperar coisas agradáveis de se assistir. “A Mooca está trabalhando em um esforço de levar um desfile equilibrado do começo ao fim, de não ter aquela queda vertiginosa de alegorias no último carro, por exemplo. Mas eu aposto muito na cabeça da escola, na comissão de frente e o abre-alas. A comissão de frente é do Nildo Jaffer, então a gente já sabe que vem um trabalho muito forte pela frente. Está muito bem resolvida coreograficamente, no tripé e nas fantasias. Depois vem nosso casal, ala de baianas e abre-alas. Acho que vai deixar o público de boca aberta”.

A luta da MUM contra o racismo

A agremiação da Mooca sempre tem batido na tecla contra o racismo nos últimos anos. Em todos os enredos sempre tem uma pitada disso. Nos últimos anos, por exemplo, se teve em 2020 a homenagem para Abdias do Nascimento. Em 2022 o tema abordado foi Aruanda. Agora, homenagear José Francisco das Chagas não será diferente, pois ele batalhou pela igual em todas as questões. “Esses enredos chegam pela diretoria da escola. Isso é muito importante para o presidente Rafael Falanga, principalmente. A Mocidade Unida da Mooca leva muito a sério essa coisa de ser uma escola de samba como um todo. Ao mesmo tempo que preserva a cultura do samba muito forte dentro dela, também tem essa coisa de entender o samba enquanto uma organização que tem o poder de educar. A Mooca a gente sabe que é um bairro de tradição branca e italiana, mas a diretoria encara que a escola tem esse poder de levar essas pautas raciais e fazer as pessoas entenderem a importância de falar sobre isso hoje em dia. A gente está falando do samba que é uma herança preta e não podemos falar disso com irresponsabilidade. Acho que o meio que a Mocidade Unida da Mooca encontrou de fazer isso é trazer esses enredos de maneira que a comunidade viva eles o ano inteiro, que não seja uma coisa vazia”.

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Setor 1: “O primeiro setor a gente fala da revolução. Existem relatos em livros dessa revolução que aconteceu em Santos lá em 1821. Só que a gente tomou cuidado porque nosso desfile inteiro é muito carnavalizado. A comissão é uma síntese do enredo e o abre-alas é uma batalha na praia de Santos. A partir disso a gente começa com a execução e todo o processo de transformar o Chaguinhas em um santo popular. Vamos ter todas as manifestações culturais que culminaram para isso e terminamos o setor com carro do altar do Santo Negro, que mistura o candomblé, umbanda e catolicismo”.

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Setor 2: “Depois que o Chaguinhas foi transformando em santo, começa o movimento de transforma a figura dele em resistência. A gente entra na questão histórica, mas também com o Chaguinhas no cotidiano e no que a gente vive hoje em questão de termos de lutas raciais e antirracismo”.

Setor 3: “A gente encerra o desfile com uma procissão. Ao mesmo tempo em que a gente vê essa coisa da manifestação mais política, a gente coloca a manifestação religiosa, porque o Chaguinhas é isso. É uma figura histórica, política e religiosa. No final a gente procura colocar um ponto final dentro de todas essas características que ele carrega”.

Ficha técnica
Três alegorias
1200 componentes
Carnavalesco: Caio Araújo e Willian Tadeu
Diretor de barracão: Diego Falanga e Fabinho Carromeu
Diretor de carnaval: Fabinho Carromeu, Vitor Gabriel e Vanderley Silva
Chefe de ateliê: Eliana Dias