Na continuação da série “Barracões” o site CARNAVALESCO visitou o barracão da Mancha Verde e conheceu o projeto da escola para o carnaval de 2023. Diferente dos últimos anos, a agremiação vai seguir uma linha diferente de enredo e apresentará um tema nordestino. A atual campeã do carnaval paulistano tem o enredo intitulado como “Oxente – Sou Xaxado, Sou Nordeste, Sou Brasil”, assinado pelo carnavalesco André Machado. O artista conversou com a equipe e deu detalhes do próximo desfile da agremiação alviverde.
“O enredo surgiu antes de eu chegar na Mancha Verde, tanto é que anunciaram no desfile das campeãs. Eu pensei que não pudesse ter o caminho e liberdade por ter já escolhido, mas graças a Deus o Paulo Serdan me deu liberdade para fazer a pesquisa e seguir o caminho que seria legal na minha visão. Eu apresentei o projeto, ele gostou e foi muito bacana. A gente pegou a ideia do ritmo do xaxado e desenvolveu em quatro partes, que são os quatro carros alegóricos”, explicou.
Pesquisa do enredo
Como o carnavalesco explicou, o xaxado é um ritmo de dança nordestino. Para saber mais sobre, o carnavalesco teve que usar muitos livros e também contou com a ajuda da internet. “O Igor, que está na Terceiro Milênio foi para Serra Talhada, comprou um livro e me deu no museu do xaxado. Eu também tenho muito material da época da Pérola Negra, onde eu desenvolvi o auto da compadecida. Eu sabia que futuramente eu ia precisar. Cabeça de carnavalesco pensa no futuro. Também adquiri outros livros que fala do Nordeste. Inclusive o livro que eu fiz a pesquisa do xaxado, quando a bisneta do Lampião esteve aqui visitando o barracão, eu contei para ela do material, que se chama ‘Maria Bonita do Capitão’. Ela falou para eu pegar e disse que era da tia dela. Mesmo sem eu saber, tenho muitas coisas. Tenho muitos livros afros em casa. Se futuramente a Mancha quiser fazer um enredo afro, posso usá-los. Também tenho a ajuda da internet, que facilita muito. Esse ano eu não tive a oportunidade de ir no museu de Serra Talhada do xaxado por conta do calendário. O Paulo Serdan me propôs, mas eu tinha que fazer o desenho das alegorias, pilotos e que coincidiu com a final do samba-enredo. Nesse dia que a neta de Lampião esteve aqui, eu tive uma aula. É uma coisa ingênua de pegar imagens na internet, de desfiles anteriores e reproduzir achando que o Nordeste é daquele jeito. Quando eu mostrei a fantasia do segundo casal para a bisneta do Lampião ela achou lindo, mas disse que a cor estava errada e eu refiz”, declarou.
Trabalho com investimento e organização
André Machado falou como é trabalhar com um nível de organização maior. De acordo com o artista, a relação com o presidente Paulo Serdan é primordial para o sucesso do andamento da agremiação. “As pessoas falam muito para mim sobre isso, mas que fique bem claro que o carnaval é feito muito por pessoas. Lógico que o dinheiro e a questão financeira, mas a organização é fundamente e o presidente tem a escola na mão. Um super líder que fala com todos os setores da escola e isso é muito legal. Fazia muito tempo que eu não trabalhava com um presidente que tinha essa interação com o carnavalesco. É um enredo que nasceu com ele assistindo um documento e ele me deu esse presente. É muito bacana saber até onde saber quanto você pode gastar. Quando eu fiz o projeto abre-alas, o presidente me chamou e falou para manter o equilíbrio para todos os carros e fantasias saírem dentro do planejado. É tudo calculado. O trabalho tem segmento em cima do projeto sempre pesando os prós e os contras”, disse.
Recepção na escola
O artista vem de um descenso com o Colorado do Brás e, logo após, assinou com a campeã. Segundo André, o receio era de que a comunidade ficasse com um pé atrás devido a isso, mas aconteceu o contrário. “Eu vou ser bem franco. Eu até tinha um certo preconceito com escolas de torcida organizada. Eu fui criado no samba e nasci no carnaval, mas de dez anos para cá, algumas estão desvinculando a torcida da escola de samba e a Mancha faz muito isso. O trabalho que o presidente fez nos últimos anos foi de separar a torcida dos apaixonados por carnaval. Essa recepção, quando eu fui na quadra, eu pensei que a comunidade teria um pé atrás. Eu estou sucedendo um cara que foi bicampeão. O Jorge Freitas tem um nome muito forte aqui em São Paulo e eu sou um cara que acabou de cair com o Colorado, mas eu tento me aproximar o máximo possível dos componentes, trago eles para me ajudar para ter essa conexão. Eu quero estar no meio do povo, cumprimentar as pessoas e ter essa troca de energia, até para ver a emoção das pessoas na avenida. Isso que é carnaval e todo mundo é igual”, comentou.
Almejando o título
A Mancha Verde vem crescendo no carnaval cada vez mais. Desde 2018, a escola se mantém no topo. De lá para cá, foram dois títulos e um vice com desfiles grandiosos e organizados. A parte plástica nos desfiles são de grande investimento e, talvez, no conjunto geral dos últimos anos, a Mancha Verde seja a mais impecável no visual. Em sua estreia, André Machado almeja o tricampeonato de presente para a comunidade. “Queremos o tricampeonato. Aqui a gente só pensa dessa forma. Quero dar esse presente, porque eu ganhei esse presente da Mancha, que é estar aqui hoje fazendo o que eu mais gosto. Eu tenho que retribuir esse carinho que eles têm comigo. É deixar bem claro que o carnaval não é feito apenas pelo André e sim pela comunidade inteira, mas eu tenho que trazer esse campeonato. Se não for também, não tem problema. Eu quero apresentar um carnaval para a escola. Quero fazer com que as pessoas vão para a escola com um sorriso achando que vão para a avenida campeã do carnaval. Se não for, é consequência do projeto e da apuração”, declarou.
Conheça o desfile da Mancha Verde
Setor 1: “A gente vai abrir o nosso carnaval falando onde surgiu o xaxado. Vamos mostrar a Caatinga lá de Serra Talhada. Ano passado a Mancha veio com um passado todo dourado e já tem um tempo que não vem com um carro verde puxando para a cor da escola. Se a gente pensar e pegar referência da Caatinga na internet, vamos ver sempre aquela areia seca, mas pesquisando eu vi que esse cenário existe na época da seca, mas também tem um cenário exuberante que é na época das chuvas. Não é só miséria. Eu busquei fazer da forma mais colorida possível. Vamos falar da lenda ‘Fulozinha’, que quando criança ela ficou perdida e entrou na Caatinga. As únicas pessoas que ela permite entrar lá são os cangaceiros. O abre-alas e a abertura da escola vai mostrar a fauna e a flora da Caatinga. Vamos ver calangos, tatu, onça e ala das baianas vem representando a flor do cacto”.
Setor 2: “O segundo setor a gente fala realmente do xaxado para mostrar que é uma dança que surgiu do cangaço, através da figura do Lampião. Eles dançavam para comemorar as vitórias em cima dos seus oponentes. A gente tem alas de cangaceiros, literatura de cordel, mestre Vitalino e culinária”.
Setor 3: “A gente vai para o terceiro setor com a alegoria falando da religião dos cangaceiros. Tem a figura de Padre Cícero, as alas das crianças vem representando os bonecos de barro e mestre Vitalino em forma de anjo. A parte de trás da alegoria vamos montar uma feira de artesanato e também tem um grupo de 20 adolescentes que vem representando o boneco de mestre Vitalino. Todo o material de artesanato relacionado com a religião a gente vai colocar nesse carro”.
Setor 4: “O último setor da escola a gente vai fazer homenagem aos grupos de xaxado. Primeiro vamos homenagear Luiz Gonzaga, pois o xaxado só era conhecido no nordeste e ele levou para o Brasil. Vamos homenagear também o Arcisão e já tem um tempão que a Mancha não vem com o seu próprio símbolo, que é o ‘Manchão’, onde ele vem com sanfona na parte de trás do carro, mostrando que vai representar a festa junina relacionada com o xaxado”.
Ficha técnica
Quatro alegorias
2300 componentes
Carnavalesco: André Machado
Diretor de carnaval: Paolo Bianchi
Diretor de barracão: ‘Seu Léo’